Fernanda Bianchini: pioneira mundial no ensino de ballet para cegos
Há mais de 15 anos ensinando e inserindo deficientes visuais na prática de ballet clássico, dança de salão, sapateado, dança do ventre, entre outros estilos dançantes, Fernanda Bianchini, profissional renomada e especializada em distúrbios do desenvolvimento, se dedica dia a dia a tornar a vida de suas estudantes ainda melhor e mostrar o quanto são capazes.
Quando foi o seu primeiro contato com o ballet clássico?
Eu sou bailarina desde os 3 anos de idade – atualmente com 32. Comecei como uma criança que toda mãe coloca no ballet. Sempre fui uma aluna mediana, até que tive a oportunidade de iniciar a minha carreira.
Como foi traçado esse desafio de trabalhar com crianças cegas?
Quando eu tinha 15 anos de idade esse grande desafio foi lançado na minha vida. Eu estava visitando um instituto de cegos, juntamente com meus pais, e uma das responsáveis pelo local me perguntou se era possível um cego aprender ballet clássico. Naquele momento falei que não sabia, pois, na minha cabeça para ser professora tem que saber muito, então, eu tive que dizer que não sabia se era capaz de ensinar um grupo tão especial.
Qual foi a reação dos seus pais?
Meus pais falaram: “Filha, nunca diga não para um desafio, pois são sempre desses momentos que partem os maiores ensinamentos que temos em nossas vidas.” Acredito que essas palavras entraram realmente na minha vida e no meu coração, de modo que eu estou até hoje.
Como foi a adaptação para ensinar?
Eu não sabia como treinar e nem desenvolver o método. Foi então, que eu pedi algumas orientações às minhas professoras de ballet, que não época me desaconselharam. Elas me falaram que era melhor ensinar dancinhas, expressão corporal, mas que ballet clássico era impossível, porém, eu preferi seguir a orientação dos meus pais e comecei.
Qual o primeiro passo ensinado naquela época por você?
Eu ensinei um passo que é super fácil no ballet clássico, que se chama “echappé zote”, que significa saltar fora e dentro do balde. Aí, uma das alunas me perguntou o que era o balde e, foi nesse momento que eu percebi que precisava entrar no mundo deficiente visual, entender as limitações deles e as dificuldades, para que depois eu pudesse apresentar para eles o mundo do ballet clássico, que era o que eu estava disposta a apresentar para eles.
Como surgiu a instituição Fernanda Bianchini?
Após 7 anos desenvolvendo o método de ballet para cegos, todo através de toques e da percepção corporal, resolvi fundar a Associação de Ballet e Artes Fernanda Bianchini, com objetivos muito mais amplos, pois além do ballet clássico profissionalizante, ensinamos também dança de salão, sapateado, música, canto, vilão, dança de salão, e temos muitas outras atividades voltadas ao deficiente visual. Disponibilizamos 10% de vagas para quem não tem nenhum tipo de deficiência, para, assim, trabalhar a inclusão às avessas.
Você treina algum grupo profissional?
Sim, foram meninas que eu comecei a treinar há muitos anos e que hoje superaram as dificuldades. Atualmente, elas recebem cachê para dançar e participar de diversas apresentações. Já nos apresentamos em Buenos Aires, na Argentina, e no Brasil inteiro, até como forma de palestra motivacional. Tenho muito orgulho de falar que é um trabalho que me ensinou a enxergar o mundo com os olhos delas, o mundo com os olhos do coração. Com certeza, hoje eu vejo tudo com um significado bem maior.
Qual a idade ideal para os cegos iniciarem o ballet?
A partir dos 3 anos de idade as crianças já pode frequentar a Associação, porém, também ensinamos para adultos. As aulas para os iniciantes têm de uma hora a uma hora e meia de duração. Já para os profissionais, geralmente é de 4 horas, pois intercalamos com os ensaios.
Como o ballet ajuda a dificuldade dessas pessoas?
A postura do deficiente visual é muito prejudicada, pelo fato de eles não olharem para o horizonte, por não estarem enxergando nada, e o ballet exige o autoalongamento postural. Com isso, percebemos que a prática está ajudando e motivando as alunas a terem uma melhor postura, um melhor equilíbrio e isso ajuda o deficiente não só aqui na Associação, como lá fora também.
O método de ensinamento é diferenciado?
No começo sim, o método é totalmente individualizado e tudo através do toque. Uma bailarina que enxerga não aprende assim, ela aprende olhando e imitando. Então, é diferente, mas depois que elas estudam os passos da dança, o aprendizado se dá de uma forma super tranquila e é só falar o nome do passo e elas já saem dançando.
Como a pessoa pode participar da Associação Fernanda Bianchini?
As portas estão abertas é só a pessoa nos contatar: www.ciafernandabianchini.org.br . Os cursos são 100% gratuitos. Nós vemos o perfil da pessoa e a incluímos de acordo com o nível que ela tem condições de desenvolver.
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Fonte: Arca Universal
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