Falta sensibilidade para oferecer acessibilidade. Rio de Janeiro mostrou a cidade maravilhosa sem acessibilidade.
Ricardo Shimosakai, passou por uma experiência desagradável. Cadeirante independente, com experiência de muitas viagens, Ricardo esteve no Rio de Janeiro participando da oficina “Adaptabilidade: um viajante diferenciado. Recomendações práticas para hotéis, atrações e companhias aéreas”, da programação do Congresso da Associação Brasileira de Agências de Viagens (ABAV).
Mesmo como palestrante, Ricardo não teve um tratamento compatível com sua necessidade física. Deslocou-se do hotel para o Riocentro nos ônibus que transportavam os congressistas, sem o elevador que permite a entrada de cadeirantes. O constrangimento foi inevitável, com os motoristas dificultando o acesso manual, temendo um acidente. A cena se repetiu várias vezes e Ricardo somou mais esta às muitas experiências vividas em outras viagens pelo Brasil.
Diante do público que o assistiu na palestra, Ricardo não falou deste episódio. Foi enfático ao afirmar que, apesar de o Brasil ter 28,5 milhões de pessoas com deficiência, hotéis, meios de transporte e pontos turísticos nacionais não estão preparados para receber este público. Segundo ele, o país está perdendo um grande filão do turismo por não oferecer condições para receber estas pessoas. O mercado é ainda mais atraente para quem recebe os americanos, qur gastam US$13,6 bilhões por ano com turismo. Enquanto o Brasil não se organiza, os brasileiros viajam para o exterior, onde as condições de acessibilidade são melhores.
Aeroportos
O palestrante apontou as carências a partir dos aeroportos, passando por hotéis, museus e atrativos turísticos. As falhas estão em todos os lugares. Para Ricardo, a informação é o maior presente nesse nicho de mercado, mesmo porque, às vezes, nem o próprio deficiente sabe como utilizar a acessibilidade oferecida pelos poucos hotéis nacionais.
Segundo o palestrante, é complicado se sentir seguro num País em que o selo de acessibilidade é usado de forma errada. “Muitos hotéis expõem no site que são acessíveis e não tem cadeira de banho nem profissionais orientados a não mexer nos objetos colocados sobre os móveis, quando hospedam cegos.
Ainda com relação aos hotéis, Ricardo criticou a atitude de alguns estabelecimentos, que ocupam o apartamento acessível com deficiente visual, o que não é necessário.
Hotéis e Transporte
A acessibilidade é diferente para cada tipo de deficiência, segundo o palestrante. “Pouquíssimos hotéis oferecem quartos para todos os tipos de portadores de deficiência”, que pode ser visual, motora, auditiva e mental. O consultor ainda declara que é necessário se verificar o que já existe nos hotéis, que são obrigados a oferecer no mínimo 5% de quartos acessíveis.
O transporte também faz parte do pacote turístico acessível, como ônibus adaptados e metrô com rampa, como estações de São Paulo. Quando se fala em grandes eventos no Brasil, é importante destacar também a Paraolimpíada de 2016. Atletas com deficiências diversas esperam encontrar oportunidades iguais, a começar nos aeroportos, que precisarão de profissionais capacitados para atender a cadeirantes e pessoas com outros tipos de deficiência. O palestrante lembrou que “o Panamericano no Rio foi um fiasco em relação à acessibilidade”.
Parques
Em locais naturais, como os parques, monitores e guias também devem ser preparados para esse atendimento especial, inclusive em prédios tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). “Muitos não sabem, mas o órgão tem uma portaria sobre acessibilidade aos locais tombados”, comentou Ricardo, alertando que “se tivermos qualidade nesse tipo de serviço, mais estrangeiros vão querer conhecer o Brasil”.
Experiências e sugestões
Ricardo ficou paraplégico depois de ser atingido por um tiro num sequestro relâmpago, em 2001. Como gostava de viajar e percebeu que este era o desejo de muitos outros semelhantes, ingressou no curso de turismo e buscou conhecimento atualizado sobre todos os tipos de deficiência.
Apesar de não considerar que existe um destino acessível no Brasil, ele cita algumas facilidades em Curitiba. O transporte é bastante facilitado, com ônibus equipados com elevadores veiculares, as estações-tubo, além das linhas de ônibus turístico (conhecido como Jardineira), todos contemplando a acessibilidade.
Para Ricardo, a acessibilidade pode ser traduzida como conforto, pois rampas, elevadores, barras e outros ítens também são facilitadores para moradores e visitantes. Alguns equipamentos como áudio-guias em museus, servem como orientação mais detalhada para qualquer pessoa.
No caso de estádios, Ricardo aponta o essencial: rampas ou elevadores, dependendo da estrutura arquitetônica, instalações sanitárias, circulação com rotas acessíveis e sinalização adequada, além do espaço onde a pessoa com deficiência física assista ao jogo. Mapas táteis do estádio, sinalização em Braille e pisos táteis são ítens importantes para quem tem uma deficiência visual. Pessoas treinadas para interpretar a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é o recurso mais importante para pessoas com deficiência auditiva, que, apesar de ser utilizada somente no Brasil, possui semelhanças com outras línguas estrangeiras de sinais. Além disso, é importante que as informações dos recursos de acessibilidade sejam divulgadas na comunidade de pessoas com deficiência.
Fonte: Diário do Nordeste
Compartilhe
Use os ícones flutuantes na borda lateral esquerda desta página
Siga-nos!
Envolva-se em nosso conteúdo, seus comentários são bem-vindos!
6 Comentários
Enviar um comentário
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.
Artigos relacionados
Acessibilidade no ESG. Equipotel aborda o tema para o turismo.
Acessibilidade no ESG, para o mercado do turismo. Equipotel aborda a importância da inclusão da pessoa com deficiência.
Morte Sobre Rodas. Filme inclusivo foi candidato ao Oscar.
Morte Sobre Rodas. Dois protagonistas do filme, são pessoas com deficiência, um usuário de cadeira de rodas e outro com paralisia cerebral.
Paralimpíada de Paris 2024. A deficiência não é um limite.
Paralimpíada de Paris 2024. A cidade luz sedia o maior evento esportivo do mundo para as pessoas com deficiência.
Caro RICARDO.
Voce encontrou a realidade do rio de janeiro, imagine quantos necessitam de trabalhar, ir ao médico, sair para se divertir então nem pensar, vão ficar estressados com a falta de sensibilidade do estado dos municípios e empresários que só querem ganhar cada dia mais dinheiro, e não investem na qualificação do pessoal para operar os equipamentos de acesso aos cadeirantes, quando tem. A maioria dos onibus tem somente o adesivo.
Mas quando voce esteve no Rio no ano passado, teve a oportunidade de conhecer o meu equipamento, e até hoje não vi de sua parte nenhuma nota qualificando o meu trabalho, mas continuo aguardando. Washington Santos, LINCE TRANSPORTES ESPECIAIS LTDA.
Olá Washington,
Apesar da importância turística que o Rio de Janeiro possui, o turismo acessível é pouco desenvolvido. Mesmo os empresários tem resistência em aderir algo que lhes é obrigatório. Seu transporte é bom, mas é uma parte da cadeia turística, e é preciso ver outros ítens como hospedagens, locais para alimentação, atrativos turísticos e outros ítens, que possuam acessibilidade. Continuo verificando a adequação de um pacote turístico acessível para o Rio de Janeiro.
Abraços
Grande Ricardo, espero que todas essas experiências desagradáveis possam ser diminuídas a partir das revisões das normas que estou querendo iniciar, seja no transporte rodoviário e de fretamento, seja no sistema aéreo. Que venha 2012 com muitas novidades. Te espero nas reuniões, quando finalmente, iniciarem…
Olá Belopede,
Experiências boas ou más, são conhecimentos que podem ser aproveitados. Depois passe para meu email, informações detalhadas a respeito das reuniões
abraços
Oi Ricardo, gostaria que também conhecesse o blog de Deborah Prates do Rio de Janeiro, em: http://www.deborahpratesinclui.blogspot.com/
Abraço e meus desejos que 2012 tenha mais conquistas, seja na sua área prosissional, seja na luta diária por um mundo melhor para todos, todos nós. Rosa Santos.
Olá Rosa,
Conheço a Deborah, uma grande pessoa e batalhadora. Aos poucos a conquista de nossos direitos vai tomando forma, e cada vez mais oportunidades vão surgindo. Sinto muito prazer em proporcionar afelicidade a todos, através de meu trabalho com o lazer e turismo
beijos