Falta de acessibilidade em igrejas dificulta visitas
Assistir uma missa pode se transformar em uma maratona para pessoas com dificuldade de locomoção em algumas igrejas de Salvador. É o que enfrenta uma leitora, que não quis se identificar, para levar a filha cadeirante à Igreja da Piedade. “Lá tem uma rampa, mas é ridícula, porque é íngreme demais. É como se não tivesse”, reclamou.
A Igreja da Piedade não é o único templo católico onde cadeirantes e pessoas com outras restrições de locomoção enfrentam dificuldade para visitar. A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, construída no século XVIII e patrimônio arquitetônico, é outro exemplo. Localizada em uma ladeira íngreme, na subida para o Largo do Pelourinho (Centro Histórico), chegar até o templo é considerado um transtorno para pessoas com dificuldade de locomoção.
Para piorar a situação, é proibido o acesso de veículos ao local histórico, portanto enfrentar a ladeira é a única forma de acesso. Se o fiel ou visitante conseguir chegar em frente a igreja, os degraus e falta de rampa na entrada são mais um transtorno para quem tem dificuldade de locomoção.
O mesmo acontece em outras igrejas. “Na minha Paróquia (São Cosme e São Damião, na Liberdade) tem uma rampa, mas não é a ideal. Já escorreguei uma vez. Todo mundo deveria se adaptar”, sugere a diretora de escola, Dilnei Assis, 62 anos, que usa bengala em decorrência de uma doença. Além das igrejas onde a acessibilidade não é pensada, alguns templos oferecem o serviço, mas falta sinalização. Na Igreja da Conceição da Praia, uma das primeiras a ser erguida em Salvador ainda no início da colonização, uma rampa foi montada em uma das laterais, mas não há placa sinalizando o acesso para quem não conhece o espaço.
O mesmo acontece na Igreja do Bonfim. O templo passou por uma reforma há cerca de três anos para se tornar acessível. O projeto conta com uma rampa com corrimão, duas vagas de estacionamento para deficientes físicos e elevação de um dos pisos que liga a rampa ao interior da basílica, além de quatro cadeiras de rodas disponíveis.
Apesar de ser um exemplo positivo de acessibilidade, nem todos que frequentam o local sabem da existência da rampa. “Que escada difícil. Uma rampa facilitaria, principalmente para cadeirantes”, reclamava a aposentada Isabel Conceição, 74 anos, enquanto descia com dificuldade a escada para deixar a igreja. Ela é uma das frequentadoras que desconhe o acesso na lateral do templo.
Empecilho – A Arquidiocese de Salvador tem o objetivo de oferecer um melhor acesso às igrejas, mas encontra entraves, de acordo com o ecônomo da entidade, padre Jair Arlego. “Existe esse objetivo, mas a grande dificuldade é que as igrejas onde a acessibilidade é mais difícil são imóveis tombados, onde qualquer procedimento precisa ter aprovação do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Isso torno o processo lento e às vezes inviável”, explica.
“O problema não existe nas igrejas modernas, que não são tombadas, onde as portas já são largas e a igreja (foi construída) no nível da rua. Já as tombadas são templos antigos, algumas construídas no Centro Histórico, onde a topografia não ajuda”, completa.
Apesar do tombamento dificultar reformas, padre Jair diz que a situação não impede o projeto de acessibilidade. Foi o que aconteceu na Igreja do Bonfim. “Foi uma luta para conseguir a rampa com o Iphan, que não autorizou colocar corrimão nas escadas. Isso seria outra necessidade, mas (a rampa) já amenizou o acesso de idosos, cadeirantes e doentes com dificuldade de locomoção que procuram a igreja em busca de cura e conforto”, explica o padre Edson Menezes, pároco da Basílica do Bonfim.
De acordo com nota enviada pela assessoria do Iphan, a Superintendência Estadual do órgão dispõe de “uma especialista que avalia os processos referentes à acessibilidade nos imóveis tombados. Ela realiza as análises sob o ponto de vista do patrimônio e o atendimento as normas de acessibilidade. Há um interesse por parte do Iphan que intervenções como essas sejam realizadas para facilitarem o acesso aos espaços físicos”.
O órgão ainda informou que é responsabilidade das igrejas enviar ao Iphan os projetos de acessibilidade para aprovação. De acordo com o Iphan, o prazo para análise do projeto é de três a seis meses, seguindo orientação da legislação. O superintendente do Iphan na Bahia, Carlos Amorim, informou, através de nota, que não há projeto de acessibilidade em igrejas em tramitação no órgão.
Fonte: A Tarde
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