Esqueceram de mim. Faltou consideração para as pessoas com deficiência.

Man climbs CN Tower steps in wheelchair

Escrito por Ricardo Shimosakai

8 de junho de 2022

Esqueceram de mim. Muitas vezes as pessoas com deficiência são esquecidas, pela falta de atenção das pessoas. No caso que apresento no vídeo abaixo, eu estou no Jardim Atlântico Resort e o local estava oferecendo uma atividade recreativa, onde na entrada principal para o restaurante, no horário do café da manhã, recreadores abordavam os hóspedes que passavam para adivinhar quantas fitas haviam num pote, e quem acertasse ganharia prêmios.

O local, tem uma estrutura de acessibilidade que não é funcional, pois na entrada principal do restaurante, há uma escada e uma rampa exageradamente inclinada. Esta rampa não é a rampa de acessibilidade, há uma outra rampa com inclinação melhor, porém seu acesso fica em outro lugar, uns 20 metros à esquerda. O primeiro equívoco, é não ter feito a rampa acessível junto à entrada principal, pois alí há espaço suficiente, não teria custo extra, e o proprietário tem total autonomia para decidir. Faltou orientação para uma visão de acessibilidade funcional, pois arquitetonicamente, a rampa está correta, de acordo com as normas, pelo menos em relação à localização e inclinação.

Acessando o restaurante por essa rampa alternativa, eu teria que fazer uma outra rota em direção ao restaurante, e desta forma, não passaria pela recreadores que estavam fazendo a brincadeira de adivinhação. Por isso eu digo que esqueceram de mim, não levaram em consideração esse outro caminho para fazer parte da brincadeira. Correção ideal eu já passei no parágrafo anterior, mas poderiam pelo menos ter colocado um aviso na entrada alternativa, ou então, que houvesse outros recreadores em frente à rampa acessível no local para oferecer essa brincadeira.

Caso houvesse uma placa indicando aonde estavam os recreadores, ainda há outro problema. No meio do caminho mais curto, entre a saída da rampa e os recreadores, há vasos que impedem a passagem, então para chegar até lá, seria necessário dar uma volta maior. Para consertar essa situação, seria necessário colocar os vasos em outro lugar, e liberar o caminho. Mas como sempre gosto de reforçar, a acessibilidade não é dar um jeitinho, é sim resolver a raiz do problema. Então a atitude correta do estabelecimento é, fazer a rampa acessível junto à entrada principal, e enquanto esta está em obras, utilizar os métodos alternativos. Métodos alternativos não são solução!

Há outras situações que eu já passei, em que caberia também, a palavra-chave deste artigo, esqueceram de mim. Certa vez, eu estava voltando de avião de Buenos Aires, e a aeronave pousou na pista, para uma operação remota, que é o desembarque na pista. Eu seria removido da aeronave por um ambulift, que é um equipamento como um carro-elevador. Porém demoraram mais de uma hora para fazer isso, e eu perguntei qual o motivo de tanto atraso. Disseram que havia mais 8 cadeirantes na minha frente, em outras aeronaves, para serem desembarcados, e somente um equipamento. Na verdade não exatamente esqueceram, mas demoraram pela falta de estrutura. Citei aqui, pois Marcelo Rubens Paiva e outros passageiros passaram pela mesma situação e relataram que foram esquecidos, mas não é bem isso.

Em uma viagem para Natal, fui fazer um passeio embarcado em um ônibus rodoviário acessível por plataforma. Achei que tudo daria certo, foi quando percebi que o guia do passeio, foi levando o grupo para visitar os mangues, e me deixou no ônibus. Tive que gritar, e fui resgatado graças aos outros turistas, pois neste caso eu fui sim esquecido pelo guia de turismo. Não adianta ter o equipamento adequado, no caso o ônibus acessível, se você não tem uma operação ajustada, que é o atendimento para atender às minhas necessidades.

Muitas pessoas e empresas se preocupam muito com a acessibilidade física e os equipamentos, mas se esquecem ou não dão valor ao atendimento, que eu considero uma acessibilidade imaterial. Elas são complementares, e a falha em uma pode comprometer a outra, que compromete toda a experiência. Por isso, em meus cursos e treinamentos ensino bastante da prática do atendimento inclusivo.

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