Dia 2 de abril, comemorou-se o Dia Mundial da Conscientização do Autismo.  Apesar de ser uma data em que todos acolhem com muito carinho, muitos não sabem o que é essa síndrome e a importância do esporte em seu tratamento.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que no mundo todo há 70 milhões de pessoas com autismo. No Brasil, a estimativa é de dois milhões. Assim, ele é mais comum nas crianças do que se pode imaginar. Por isso, antes de tudo, pergunto: você sabe dizer o que é o Autismo? Pois bem, ele é um transtorno global de desenvolvimento marcado por três características fundamentais: Inabilidade para interagir socialmente; dificuldade no domínio da linguagem para comunicar-se ou lidar com jogos simbólicos e padrão de comportamento restritivo e repetitivo.

O grau de comprometimento é de intensidade variável: vai desde quadros mais leves, como a síndrome de Asperger (na qual não há comprometimento da fala e da inteligência), até formas graves em que o paciente se mostra incapaz de manter qualquer tipo de contato interpessoal e é portador de comportamento agressivo e retardo mental.

O esporte têm um valor fisiológico, porque contribui para o desenvolvimento do desempenho dos autistas, melhorando a autoestima

E qual a importância da prática esportiva para o autista? Segundo a profissional de Educação Física Shirley Amaral, as atividades proporcionam a melhora do relacionamento entre pessoas, aprimora a força, a agilidade, a coordenação motora, o equilíbrio, estimula a fala e o repertório motor. A criança que é tratada com esporte e não somente com medicamentos, pode ter uma evolução mais rápida e humana.

“O esporte têm um valor fisiológico, porque contribui para o desenvolvimento do desempenho dos deficientes, melhorando a autoestima. O desporto dá a possibilidade ao deficiente de demonstrar à sociedade e a si próprio que ser deficiente não significa ser inválido”, afirmou Shirley, que em Manaus coordena os Jogos Adaptados André Vidal de Araújo (Jaavas), voltado para Pessoas com Deficiência (PCDs), entre eles os autistas.

“Os Jaavas tem um propósito muito bonito, que é de integrar pais, alunos e professores através do esporte e de atividades lúdicas. E principalmente, o evento quer oferecer um momento diferente, de construção social e com situações inusitadas. Mas é importante dizer que os Jogos não são voltados para o rendimento esportivo dos alunos, mas sim para a valorização da qualidade de vida e descontração dos participantes”, afirmou a professora.

Atividades mais indicadas

Em 2006, no IX Congresso de Educação Física e Ciências do Desporto dos Países de Língua Portuguesa, a professora Sonia Toyoshima revelou as atividades mais indicadas para os autistas realizarem. Através de um estudo com crianças e profissionais da área, ela identificou que  todos aqueles esportes que dão suporte e desenvolvam as potencialidades motoras, físicas e emocionais com destaque as que    proporcionam vencer as próprias dificuldades, são as mais apropriadas.

Todas as práticas esportivas de um modo geral irão auxiliar na autoestima, interação com outras pessoas, naautoconfiança e ampliará os meios de comunicação interpessoal.

Desta forma, a professora listou as seguintes atividades:  correr, subir (escadas), lançar bolas ou objetos, atividades de equilíbrio, danças, caminhadas, rolar, saltar, sentar, levantar, deitar em diferentes posições, habilidades simples com bola e outras que possam ampliar os relacionamentos interpessoais, assim como as atividades de relaxamento.

Os materiais para essas atividades, segundo ela, devem ser de preferência densos com nexo real como: cadeiras, bancos, pneus de carro ou de bicicleta, barras de ginástica; cordas, materiais com indicações gráficas, fotografias,desenhos, notas, ou outras particulares que estão diretamente ligadas com os indivíduos autistas. O destaque enfatizado foi para o não desenvolvimento de atividades que façam os alunos se agitarem demasiadamente. Outra questão é para que o professor considere a medicação utilizada, pois a mesma interferirá na frequência, duração e intensidade do trabalho.

Todas as práticas esportivas de um modo geral irão auxiliar na autoestima, interação com outras pessoas, na autoconfiança e ampliará os meios de comunicação interpessoal. E que, em regra geral é necessário planificar situações curtas, interessantes e compatíveis com a cultura de cada comunidade. As atividades físicas a serem aplicadas não devem se concentrar no ensino de movimentos como fins em si, mas na utilidade de seu aprendizado para a obtenção de avanços tanto motores, quanto sociais.

As atividades físicas a serem aplicadas não devem se concentrar no ensino de movimentos como fins em si, mas na utilidade de seu aprendizadopara a obtenção de avanços tanto motores, quanto sociais.

O maior exemplo

Para aqueles que ainda duvidam que o esporte é um grande aliado no tratamento dos autistas, lembro aqui da história da  Alana França, de apenas seis anos. Seus pais, Fabíola e Renato, assim que identificaram que a filha era portadora da síndrome, utilizaram a música como forma de estimular a pequena. Porém, não foram as notas musicais as responsáveis pela maior evolução da criança. Alana passou a interagir com o mundo através da ginástica artística.

Em casa, segundo os pais, a filha demonstra timidez; mas nas aulas ela corre, pula, dá cambalhota e não se contém de tanta felicidade. “A ginástica tem a particularidade de ser um esporte muito completo. Trabalha força, equilíbrio, flexibilidade. Pode ser daí o êxito com essas crianças. Eu tento trabalhar com elas do jeito que são, falando comigo, me abraçando ou não”, explica o professor de Alana, Rodrigo Brívio.

Ou seja, cara leitores, o que podemos concluir com todos esses aspectos e os leques que o esporte apresenta sobre o autismo, é que a deficiência pode sim ser transformada em potencial de superação, desde que a sociedade como um todo – amigos, familiares, vizinhos, desconhecidos – estejam inclinados a compreender e trabalhar para que cada “fraqueza” do ser humano possa ser transformada em pontos fortes e únicos para a humanidade. Basta um pouco de dedicação, conhecimento e amor.

Fonte: A Crítica

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