Em harmonia com a inclusão. Músico sorocabano desenvolve, na Alemanha, trabalho com pessoas com deficiência.
Catorze músicos, dentre eles um sorocabano radicado na Alemanha, formam a orquestra de câmera integrativa denominada Ensemble Piano Inclusive, que desembarca no Brasil para apenas duas apresentações, no mês de outubro. A iniciativa faz parte de um projeto de intercâmbio cultural entre Brasil e Alemanha, que foi aprovado pelo programa do Governo Federal, o “Ciências sem Fronteiras”. Idealizador e um dos autores do projeto “Piano Inclusive”, o músico sorocabano Nei Alex Pinto, de 46 anos, estará com seu violino à frente da orquestra especial, composta por pessoas com e sem deficiência. O grupo é convidado de honra no “II Colóquio Sobre Educação e Inclusão”, no Rio de Janeiro.
Morando há cerca de 20 anos na Alemanha, Nei Alex é casado com uma pianista italiana, que conheceu no campus de Dortmund (escola superior de música que não existe mais). Ele explica que seu primeiro trabalho musical com pessoas com deficiência ocorreu na escola em que leciona atualmente aulas de violino, na cidade de Bochum. Mas foi há três anos, quando começou a especializar-se na área, que descobriu seu verdadeiro talento e o que considera missão nesta vida. “O trabalho da inclusão musical é fascinante, pois leva as pessoas envolvidas a se ocuparem com o aspecto humano de cada um, indiferentemente se possuem uma deficiência ou não”, destaca.
É normal ser diferente”
A especialização na área musical para pessoas com deficiência ocorreu por meio de um convite, após o contato e interesse pelo aprendizado de uma de suas alunas que tem a Síndrome de Asperger. Trata-se de um Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD), resultante de uma desordem genética, e que apresenta muitas semelhanças com relação ao autismo, no entanto, as crianças com essa síndrome não apresentam grandes atrasos no desenvolvimento da fala e nem sofrem com comprometimento cognitivo grave. “Esse curso mexeu muito comigo, pois torna claro o fato de que é normal ser diferente.”
O músico sorocabano atribui seu desenvolvimento como pedagogo aos alunos com deficiência com os quais mantêm contato como educador. “Esse meu desenvolvimento flui de volta também para os alunos sem deficiência”, ressalta. Quando em visita aos familiares, em outubro de 2011, Nei Alex disse ter conhecido o trabalho da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de São Paulo. Acabou sendo convidado para um intercâmbio de informações. “Passei uma tarde com eles e fiquei fascinado com o trabalho feito pelo Serviço de Apoio Sócio-Educativo (Sase), que trabalha com a arte como veículo de expressão, processo que desenvolve a capacidade de estabelecer contatos sociais”, avalia.
Ao retornar à Alemanha, ministrou uma palestra sobre a experiência obtida durante a visita à Apae, na Universidade Técnica de Dortmund, onde estava envolvido num outro projeto (Domo: Música). A professora dra. Irmgard Merkt, criadora do projeto Domo, estava na plateia e propôs um intercâmbio em nível acadêmico com o Brasil. Foi assim, então, que o projeto ganhou forma, sendo encaminhado ao “Ciência sem Fronteiras”. Uma proposta do projeto “Piano Inclusive” foi enviada ao Ministério de Cultura Alemão e, em dezembro passado, a equipe, então, recebeu a notícia da aprovação do intercâmbio com o Brasil.
O ensemble foi formado pela diretora Claudia Schmidt, nos moldes do “Dortmunder Modell: Musik”, projeto financiado pelo Ministério do Trabalho e Integração Social do estado da Renânia do Norte e Vestália (NRW – Alemanha) e realizado no Departamento de Música da Faculdade de Ciências da Reabilitação da Universidade Técnica de Dortmund. A proposta do “Modell: Musik” era não só de possibilitar o ensino musical às pessoas adultas com deficiência, mas desenvolver individualmente aspectos musicais, autonomia e autoconfiança, desenvolver novos aspectos no campo de trabalho artístico profissional, possibilitar a participação ativa na vida musical, mostrar novos caminhos para uma sociedade inclusiva, entre outros.
Exemplo
Nei Alex revela que a viagem ocorre com o objetivo de mostrar com exemplos concretos de teoria e prática, quais caminhos podem ser seguidos em direção à inclusão, assim como de adquirir conhecimento sobre o trabalho de inclusão musical feito no Brasil. A orquestra Piano Inclusive é formada por catorze pessoas e seis acompanhantes (pais e familiares). Ao todo são dez músicos, um regente, um palestrante, uma técnica e um auxiliar. Dos dez músicos, quatro são pessoas com deficiência e os outros são músicos profissionais e estudantes. O ensemble já contagiou o público em diversas apresentações. Além de diretora, Claudia Schmidt é a arranjadora de todas as peças, explica o músico.
A diretora do Ensemble arranja partituras correspondentes à competência de cada músico. Já a dra. Irmgard Merkt, catedrática do Departamento de Música da Faculdade de Ciências da Reabilitação da Universidade Técnica de Dortmund, divulga em suas palestras sobre o projeto e suas consequências na sociedade.
Com três pianos, cordas de arco, percussão e canto, o Piano Inclusive interpreta peças de compositores que vão de Yann Tiersen e Chilly Gonzales até Astor Piazolla. Os participantes são os seguintes: Tam Do (piano), Angela Kaballo (piano), Philipp Rausch (piano/percussão), Linda Fisahn (percussão), Burkhard Schmidt (violino), Alex Pinto (violino), Pia Ziemons (violoncelo), Yvonne Kuhnke (violoncelo), Antonia Wohlgemuth (canto) e Claudia Schmidt (direção).
Chave para o desenvolvimento
O grupo desembarca no Rio de Janeiro no dia 22 de outubro deste ano. Eles são convidados, como hóspedes de honra, para o II Colóquio de Educação e Inclusão. Dia 28 de outubro, os integrantes seguem para São Paulo, onde permanecem até a data de retorno à Alemanha, que ocorrerá dia 2 de novembro. “A nossa expectativa é de fazer aquilo que estamos fazendo aqui na Alemanha: mostrar a todos que o trabalho de inclusão é possível, agradável e rende frutos para todos. As pessoas com deficiência são a chave para o nosso desenvolvimento como seres humanos nos aspectos emocional, intelectual, técnico, pedagógico e artístico. E quando eu digo nosso desenvolvimento, me refiro à humanidade como um todo, absolutamente sem distinções”, conclui o músico sorocabano.
Música presente desde o ensino primário
Nascido em Sorocaba em 1967, Nei Alex Pinto é o quinto e último filho. Começou a aprender violino ainda na escola primária, quando estudava na Escola Municipal “Dr. Getúlio Vargas”, onde foi desenvolvido um projeto, por meio da Prefeitura, com os maestros Pedro Cameron e José Antônio Pereira. Isso em 1977. No começo dos anos 1980, passou a estudar no Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos” de Tatuí. Ele cita como seus professores Lázaro Bertrami, Paulo Bosísio e Lutero Rodrigues. Em 1988, começou um curso de bacharelado em violino da Unicamp, onde estudou com Natan Schwarzmann e Frederico Barreto. Nessa época era integrante da Orquestra Sinfônica da Unicamp.
Nei Alex recorda-se das histórias da Alemanha, contadas pelo professor carioca Paulo Bosísio que havia estudado lá. “Isso foi um dos fatores que influenciou a minha decisão de estudar na Europa. Em 1992, terminado o bacharelado fui para a Alemanha, onde estudei no antigo conservatório de Nurembergue (hoje escola superior de música) com Dietmar Hebecker e Hans-Peter Hofmann.” Em 1995, foi admitido na Escola Superior de Música em Detmold. Estudou no campus de Dortmund, que hoje não existe mais. “Mas o câmpus de Detmold ainda existe.” O sorocabano estudou com o russo Alexander Kramarov, quando obteve diploma na área pedagógica (2001) e na área artística (2003).
Fonte: Cruzeiro do Sul
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