A certa altura de sua vida, Marcelo Yuka recebeu um conselho de Wally Salomão: “Siga as setas. Aquelas que estão debaixo do seu nariz”. Não muito certo do que isso poderia ser, o músico e ativista aceitou a sugestão do poeta e segue procurando essas setas.

O documentário “Marcelo Yuka no Caminho das Setas”, de Daniela Broitman, acompanha o trabalho do músico e ativista e os caminhos de sua vida dele após o ferimento à bala depois de tentativa de assalto no Rio de Janeiro, em novembro de 2000. O incidente o deixou paraplégico.

Premiado no Festival do Rio de 2011, o documentário é delineado pelos pensamentos do ex-baterista do Rappa. Ativista desde muito antes do acidente, Yuka sempre compôs músicas de cunho social que falam sobre racismo, violência e desigualdade social. “O que mudou a minha vida foi a leitura. E, embora eu não seja negro, eu tive meu apartheid social”, diz o artista no filme.

Cartaz do filme 'Marcelo Yuka no Caminho das Setas'

Cartaz do filme ‘Marcelo Yuka no Caminho das Setas’

O filme não se esquiva de assuntos espinhosos como esse. Imagens de arquivo — captadas ao longo da última década — reconstroem a trajetória de Yuka. Depois do Rappa, ele montou uma banda chamada F.U.R.T.O. e se engajou ainda mais, o que parece ter ajudado nos momentos mais difíceis — que não foram poucos.

Felizmente, o longa passa longe de qualquer emotividade barata, afinal, o próprio retratado não queria um filme de lágrimas. “Marcelo Yuka no Caminho das Setas” é uma celebração da resistência e da necessidade de projetos sociais, até na questão das células-tronco ou do desarmamento.

Um dos depoimentos mais contundentes de Yuka é quando ele diz que gostaria de procurar o dono da empresa fabricante da arma que o atingiu. “Primeiro, eu iria perguntar por que não se divulga que o capital deles é misto e parte vem dos Estados Unidos. Depois, ia pedir para ele me ajudar a contar quantos tiros eu tenho nas costas e me dissesse qual o material usado nos tiros”, diz o músico no longa.

Este é um documentário poderoso que, ao contar a história de um homem, é capaz de englobar várias esferas da vida dele e até de outras pessoas — e, com isso, ampliar seu poder de comunicação.

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Fonte: UOL

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