Deficiente ainda encontra dificuldades na acessibilidade de Mogi das Cruzes
Grande parte dos prédios públicos de Mogi das Cruzes não está adaptada para receber pessoas com mobilidade reduzida. Além de um decreto federal de 2004, o Município vem descumprindo também uma lei criada aqui, em 1990. A reportagem de O Diário fez um tour pelo Centro, começando pelo marco zero, na Praça Coronel Almeida, em companhia de um cadeirante, um deficiente visual e uma arquiteta, para mostrar as dificuldades e o que poderia ser feito para melhor receber essas pessoas.
Os problemas começam a ser apontados antes mesmo de sairmos do lugar. “No Museu Guiomar Pinheiro Franco, a gente já não pode entrar”, diz Nivaldo Alves, de 45 anos, que há 12 depende de uma cadeira de rodas para se locomover. Como será visto adiante, ele aponta um dos problemas que é repetido em diversos pontos da Cidade: a falta de rampas de acesso.
Parado, no centro da praça, é só virar para os lados para ver um ponto de ônibus, outro de táxi, uma banca de jornal e vários telefones públicos. O espaço aberto, porém, vira um labirinto para quem não pode perceber o mundo utilizando a visão. “Aqui, como na maioria dos locais, não há um piso podotátil para nos guiar. Quando a gente chega, acaba perdendo a referência”, lamenta Ricardo de Oliveira Pedroso, que está sem enxergar desde que sofreu um acidente de carro, também há 12 anos.
A arquiteta Bianca Cristiane, de 31 anos, também aponta algumas falhas. “As rampas daqui não têm piso antiderrapante e nem corrimão. As pedrinhas portuguesas dificultam muito a passagem do cadeirante”, mostra ela, indicando que um corredor plano no local seria o mais adequado e não iria descaracterizar o local. Ela ainda aponta uma das rampas que está construída bem no pé da parada de táxi. “Isso só mostra falta de capacitação. Pior do que não fazer, é fazer de qualquer jeito. Depois de pronto, é muito difícil mudar”, ressalta.
É provável que, no dia a dia, você nunca tenha prestado atenção em como o orelhão pode ser um dos maiores empecilhos para o deficiente visual. A bengala, objeto que faz com que eles possam identificar e desviar dos obstáculos, passa direto pela parte de baixo da cabine e não encontra a base que a sustenta, a barra azul. O resultado é previsível: a cabeça do deficiente dá um encontrão na cabine telefônica. “Neste caso, somente o piso podotátil poderia nos orientar sobre onde estão estes objetos”, conta Ricardo, que brincando diz saber a localização exata de pelo menos 90% dos telefones públicos de Mogi. Outra solução, neste caso, seria a instalação de bases que acompanhassem todo o corpo das cabines.
“Fazer uma rampa destas é como construir uma porta para sair na parede”, disse Nivaldo, que ao tentar atravessar a rua dispunha de guia rebaixada apenas para descer, mas não encontrou a mesma facilidade quando tentou subir a calçada que estava do outro lado. “Por aqui, poucos locais dão condição de acessibilidade. A gente consegue andar pela praça, mas para fazer a travessia da rua já não dá”, diz ele. Esta, aliás, é uma das maiores dificuldades dos cadeirantes aqui na Cidade.
Se já é difícil subir na calçada, fica pior conseguir manter-se no trajeto. Além de esburacadas, a maior parte delas é estreita. São necessárias ‘perícias’ para passar com a cadeira de rodas entre o poste e a parede. “A gente se rala mesmo”, diz Ricardo, apresentando o dorso da mão repleto de cicatrizes.
Num outro ponto, foi possível flagrar dona Regina Aparecida Matos, de 50 anos, levando o amigo Francisco Alves de Souza, cadeirante de 87 anos, pela contramão, disputando caminho com os veículos na Rua José Bonifácio. “As calçadas daqui são horríveis. Não têm rampas de acesso e são todas fora de nível”, disse ela, alegando não ter forças para empurrar a cadeira pela guia alta.
Na Cidade, atravessar uma avenida movimentada é um desafio tanto para o deficiente visual quanto ao cadeirante. Um deles precisa adivinhar quando os carros estão parados, já que o semáforo não é sonoro. O outro tem que se virar para descer a calçada, chegar até a faixa e atravessá-la, subindo a guia do outro lado que também não é rebaixada.
A advogada Leia Baptista Macedo, que foi vereadora na Cidade, é autora de um projeto de lei 1990 que determina que prédios públicos sejam acessíveis a portadores de deficiência. Como ela mesma diz, seria possível fazer de Mogi das Cruzes uma cidade ideal, apenas com a fiscalização das leis vigentes que dispõem sobre o tema. Ela ainda fala do Fórum Municipal, que tem uma rampa de acesso, mas que sempre dá em uma porta fechada, dos cartórios, que não são adaptados, de prédios sindicais, consultórios e lojas. Entretanto, ela elogia a atual administração. “O prefeito já teve a iniciativa. As coisas estão sendo feitas, mas ainda falta muito para que todas as pessoas tenham acessibilidade por aqui”, diz.
Fonte: O Diário
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