Deficiência visual pelo Glaucoma. Uma doença que pode levar a baixa visão e a cegueira.

Man climbs CN Tower steps in wheelchair

Escrito por Ricardo Shimosakai

26 de abril de 2021

Este texto foi elaborado por Ricardo Shimosakai (@ricardoshimosakai) e Mylena Rodrigues (@mynspira) para o Blog de Ricardo Shimosakai. Ambos são especialistas em Acessibilidade e Inclusão e membros fundadores da ABRATURA (Associação Brasileira de Turismo Acessível)

Abril é considerado o mês de prevenção e combate ás diversas causas de cegueira, por isso é conhecido como “Abril Marrom”. Pensando nisso resolvi falar sobre uma doença silenciosa e que pode levar a cegueira: o glaucoma.

Quando a pessoa perde a visão por causa do glaucoma, essa cegueira não é reversível. E o que é o glaucoma?

É uma doença ocular que tem como característica o aumento da pressão intraocular, essa pressão é diferente da pressão arterial e não existe ligação entre elas.

Existem tipos de glaucoma e o mais comum é o de ângulo aberto que não causa dor ou sintomas quando a pressão ocular aumenta. E temos o glaucoma de ângulo fechado, que é menos comum, e vem acompanhado com dores nos olhos e uma vermelhidão.

Posso citar aqui alguns sintomas que aparecem em quem desenvolve o glaucoma de ângulo fechado, que são:

  • Diminuição do campo de visão, um afunilamento;
  • Dores no interior do olho;
  • Aumento da pupila ou do tamanho dos olhos;
  • Visão turva e embaçada;
  • Vermelhidão do olho;
  • Dificuldade para enxergar no escuro;
  • Visão de arcos em volta das luzes;
  • Lacrimejamento e sensibilidade à luz;
  • Dor de cabeça, náuseas e vômitos.
Foto do olho direito de Mylena Rodrigues. Ele é azul um pouco esbranqueçado e está com uma vermelhidão.
Foto de Mylena Rodrigues tendo a pressão do seu olho aferida em um aparelho que emite uma luz azul. Na sua frente a médica de jaleco branco. Ao fundo parede bege e uma luz dourada.
Com relação ao glaucoma de ângulo aberto, pode ser que o único sintoma que a pessoa perceba, é a diminuição da visão lateral.

O glaucoma, mesmo que não tão frequente, pode se desenvolver em bebês, sendo assim considerado: glaucoma congênito. Ou seja, aquele que a criança já nasce.

Os sintomas de glaucoma congênito são:

  • Olhos esbranquiçados;
  • Sensibilidade à luz;
  • Aumento dos olhos;

Quanto ao tratamento, é importante que as pessoas observem seus históricos familiares, pois em alguns casos, a pré-disposição de filhos e netos desenvolverem a doença é alta.

Por ser uma doença crônica e que não tem cura, é muito importante seguir as recomendações médicas e o tratamento sugerido, que pode ser cirurgia ou o uso de colírios contínuos e diariamente. Tudo isso vai depender de como vai ser o desenvolvimento da doença, sendo de extrema importância que se tenha o diagnóstico o quanto antes. O glaucoma é uma das doenças oculares que mais causam cegueira.

Em suma, coloco minha experiência pessoal: tenho glaucoma congênito e também nasci com catarata congênita a qual me submeti à cirurgia aos 2 meses de vida. Mesmo meu glaucoma sendo congênito, demorou a ser diagnosticado, pois só apresentei dores aos 13 anos de idade. Desde então faço uso de colírios diariamente, de 12 em 12 horas.

Foto de Mylena Rodtigues olhando para cima e pingando um colirio que está em sua mão. Ela tem a pele branca, cabelos longos, lisos e castanhos, usa uma blusa cor de rosa. Ao fundo janela branca e painel de madeira bege.

É necessário que eu faça um acompanhamento médico a cada 4 meses. Meu glaucoma é de ângulo fechado e por isso sinto dores nos olhos. A minha visão do olho direito perdi total e a do olho esquerdo, em porcentagem, aproximadamente, tenho menos de 10% com correção (óculos) e é uma visão central (afunilada). Além disso, a aparência do meu olho direito é esbranquiçada. Em ambos os olhos tenho vermelhidão frequente.

Consequentemente o glaucoma me trouxe a baixa visão desde o meu nascimento, precisando assim de adaptações e de uma atenção maior dos meus pais com relação ao meu desenvolvimento, seja no inicio da minha infância ao começar a andar, até o acompanhamento na escola, durante meu aprendizado.

Ter baixa visão ou cegueira é ter uma deficiência visual que precisa de cuidados, porém não é um impedimento para que se tornem crianças e adultos independentes e com autonomia. No processo de descoberta da doença meus pais tiveram orientações medicas, recebendo informações para que me estimulassem a começar a dar meus primeiros passos sem medos, pois isso faria com que eu aprendesse a ter noção do espaço que eu estava mesmo com a pouca visão que eu tinha. Meus primeiros passos aconteceram entre 9 e 10 meses de vida.

Esse processo teve continuidade durante toda a minha infância, e se intensificou com a minha ida a escola, já que precisei de apoio e adaptações dos professores para continuar o meu desenvolvimento e assim conseguisse acompanhar as turmas e ter um aprendizado adequado.

Foto de Mylena Rodrigues usando o computador. Ela está de cabelo solto, é liso, longo e castanho, seu rosto está próximo a tela do netbook que é preto e tem uma plataforma que o eleva, na parte inferior que é cor de rosa. Ao fundo janela branca e painel de madeira bege.

Por muitas vezes meus pais estiveram na escola e precisaram identificar a melhor maneira que eu aprenderia, como letras ampliadas, recursos de tecnologia assistiva como lupas, óculos especiais para perto e um ponto fundamental foram as aulas extraclasse, oferecida de forma gratuita pela escola que eu frequentava ou até mesmo professores particulares que meus pais pagaram.

Nada de privações: eu tive uma infância cheia de brincadeiras e com muitos primos e amigos da minha idade, fazendo parte de todas as brincadeiras possíveis, mesmo que eu tivesse minhas dificuldades, porém com o cuidado de todos que sabiam da minha deficiência e explicando para as crianças que estavam convivendo comigo e também para mim, para que eu conhecesse da melhor forma as minhas limitações e percebesse o que poderia ou não fazer, um exercício fundamental que me trouxe à vida adulta com muita clareza do que posso fazer e onde posso chegar.

Na vida adulta, é mais fácil que a pessoa com baixa visão ou cegueira, ache suas melhores possibilidades, fazendo testes e adaptando aquilo que for preciso, não deixando de fazer o que tem vontade, apenas sabendo que precisa modificar para conseguir.

Com toda a minha experiência, e levando em conta o glaucoma, ainda sim as dores crônicas fazem parte da minha vida diária, precisando de cuidados com meus olhos e com minha saúde, já que ainda posso preservar o pouco de visão que ainda tenho. Poderia escrever sobre outras experiências com relação à baixa visão, mas quero apenas finalizar esse texto enfatizando que é de extrema importância que não deixe de ir ao oftalmologista, e que cuide bem dos seus olhos!

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