As artes cênicas, de um modo geral, são capazes de proporcionar momentos catárticos em que o mundo “lá fora” é esquecido enquanto plateia e artista comungam um acontecimento artístico. Essa comunhão pode ser capaz de superar preconceitos, diferenças culturais e contrastantes visões de mundo. É acreditando nesse potencial transformador do teatro que o Theater Hora apresenta seu trabalho “Disabled Theater”, dentro da programação do Fórum Internacional de Dança (FID).

Com um elenco composto por pessoas com algum tipo de deficiência intelectual (11 atores, no total), sendo todos eles atores profissionais, o espetáculo desafia a noção de normalidade e anormalidade que se tem nos dias de hoje. “Quem é o normal? É uma conversa que revela a diferença. Todas essas pessoas falam, todos são gente como a gente”, comenta Adriana Banana, curadora do FID.

A peça é dirigida por um dos grandes nomes da dança contemporânea, o francês Jérôme Bel, e traz em si um conceito que se transformou uma espécie de mantra do gênero desde a bailarina e coreógrafa Pina Bausch: não é preciso ser bailarino para conduzir um espetáculo de dança. “É preciso entender que não é necessário ser uma estrela ou ter uma técnica apurada para dançar”, comenta Banana. A peça é um modelo cênico de dança-teatro.

Outro ponto destacado da montagem é o fato de todo o texto ter sido construído coletivamente entre os atores e Bel, em um processo colaborativo. “É interessante que o Jérôme nem quis vir a Belo Horizonte, justamente para dar aos atores essa responsabilidade de cuidar do espetáculo sem a presença dele. Aos poucos, eles vão se tornando independentes”, finaliza a curadora.

O Theater Hora surgiu em 1993, em Zurique, na Suíça, criado pelo pedagogo e diretor de teatro Michael Elber. O nome da companhia vem do personagem Mestre Hora, presente no espetáculo “Momo”, de Michael Ende. Desde sua criação, a companhia já apresentou mais de 50 trabalhos com o objetivo de potencializar a criatividade de atores profissionais com algum tipo de deficiência intelectual.

Fonte: O Tempo

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