Cruzeiro marítimo Orient Queen- desrepeito ao deficiente físico

por | 31 dez, 2010 | Turismo Adaptado | 4 Comentários

Fiz o cruzeiro marítimo Recife- Fernando de Noronha de 11 a 15 de março de 2010 saindo de Recife, pelo navio Orient Queen. Quando comprei o pacote, com pelo menos 3 meses de antecedência, tive o cuidado de pesquisar com o vendedor e através do site da CVC se o navio dispunha e cabine adaptada para deficiente físico já que sou paraplégica e me locomovo apenas com cadeira de rodas. Fiquei feliz ao saber que não havia nenhum problema, já que havia a disponibilidade de uma cabine para “cadeirante” ( o nome que se dá para o paraplégico que se desloca apenas com o uso de cadeira de rodas).

Os meus problemas começaram desde o início da viagem no transporte entre o terminal de passageiros e o navio. Depois de aguardar, chegou uma van sem nenhum tipo de adaptação, onde dois empregados da LUCK TURISMO RECEPTIVO com muita má vontade praticamente me jogaram no interior da van, como se fosse um “grande favor”. Para descer da van as dificuldades se repetiram. Aí vai a minha primeira pergunta: porque não permitiram que eu fosse com meu próprio carro até o navio, já que tem adaptação e facilitaria para mim?

Enfim, cheguei nas proximidades do navio e fiquei esperando ser levada para o seu interior, já que o acesso era através de uma escada íngreme. Depois de mais de 1 hora, chegaram dois filipinos, que empurraram a minha cadeira para outra via de acesso ao navio (uma escada lateral estreita). Sem nenhuma experiência em conduzir cadeirantes, na subida da escada inclinaram a minha cadeira num ângulo tal que por pouco (se não fosse a ajuda providencial de alguns estivadores que circulavam nas imediações e percebendo o perigo correram para ajudar) não caí no chão.

Depois que cheguei no interior do navio, fui conduzida até a cabine, que possuía porta de entrada apropriada assim como espaço interno suficiente para circular. Depois fui ao banheiro, e aí a decepção! Logo na entrada do banheiro, havia uma pia enorme desproporcional para o espaço, que obstruía totalmente o meu acesso a área do chuveiro, que tinha ainda como se não bastasse um batente enorme na sua entrada. Pensei, talvez dê para tomar banho sentada no vaso sanitário, mas depois percebi que seria impossível já que não havia nenhum ralo para escoar a água do banho se eu assim procedesse.

Dessa forma, resolvi que como já tinha pago o pacote e estava ansiosa aguardando por essa viagem, daria um jeito. E me arrependi amargamente. Foi um “stress” do começo ao fim da viagem. Para passar para o vaso sanitário o espaço também era exíguo, sendo uma verdadeira “ginástica” o processo, impossível sem a ajuda e a paciência do meu marido. A cada percurso, o risco de cair e me acidentar era imenso. Para a higiene íntima fui forçada a usar vários copos de água quando estava no vaso sanitário. Para o banho do corpo, toalhas umedecidas em água e sabonete. Para molhar o cabelo, utilizava a pia parcialmente, já que a cadeira não acessava totalmente a mesma. Fui tentar o salão de beleza, mas infelizmente não tive sucesso, pois a porta de entrada era tão estreita que não dava para a cadeira passar.

Depois de toda essa maratona, chegamos a Fernando de Noronha e diferentemente do que tinha sido informado, não havia a menor condição para que eu descesse e conhecesse a ilha (o navio fica fundeado e para chegar à ilha os passageiros têm que passar para embarcações menores, ao sabor das ondas e solavancos). Como eu poderia me arriscar? Quero deixar também a minha reclamação quanta às condições de higiene da cabine, pois os lençóis de cama não foram trocados sequer uma única vez. O calor da cabine era insuportável e depois de muitas cobranças para que resolvessem o problema, informaram que era um defeito do ar condicionado não somente na minha cabine mas em todo o deck. O defeito não foi resolvido na viagem.

Num certo jantar, serviram um camarão estragado que foi devolvido e devidamente notificado ao garçom. Em uma manhã faltou água para beber (só colocavam no frigobar uma única garrafa por dia).Foi solicitada à recepção 4 vezes sem sucesso e já ao meio dia após muita insistência. disseram que não tinha água e que precisávamos ir ao bar para buscar. Ao chegar ao bar, o garçom disse que podíamos beber água naquele local mas que não podíamos levar a garrafa para a cabine, a não ser que pagássemos por ela. Como se todas as refeições e bebidas constavam do pacote?

Enfim, foi um cruzeiro do inferno, nunca mais! Só tive uma alegria, quando o navio aportou em Recife e cheguei em casa. Desperdicei alguns dias da minha vida, paguei para sofrer e me desgastar. Qual a lição que tiro de tudo isso? Não podemos confiar numa empresa aparentemente séria que usa de artifícios para captar clientes. Só bastava ter dito: senhora a cabine não serve para pessoas que se locomovem apenas com cadeira de rodas, porque não é adaptada integralmente. Eu simplesmente teria desistido e procurado outro passeio alternativo. Estou utilizando esse espaço com o objetivo principal de alertar outras pessoas deficientes físicas a não embarcarem nesses cruzeiros que se dizem adequados às nossas necessidades especiais, mas que na verdade carecem da infra-estrutura básica, faltando com o respeito a nossa dignidade e colocando em risco a nossa integridade física.

PS: Assim como todos os produtos e serviços turísticos, existem aqueles com qualidade boa ou ruim. Para saber das melhores oportunidades de viagem, é recomendado procurar um agente de viagens. A acessibilidade é um item pouco conhecido pelos profissionais de turismo no Brasil, então para que tudo ocorra sem problemas na viagem, procure uma agência especializada. A Turismo Adaptado também é uma agência que trabalha com qualidade no atendimento a pessoas com deficiência no lazer e turismo. Antes de viajar, venha decidir seu roteiro conosco.

Fonte: Reclame Aqui

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4 Comentários

  1. Eliana

    É Lamentável o relato que lemos, infelizmente a mencionada cia CVC afreta navios para cruzeiros a preços convidativos, mas até mesmo quem não tem deficiencia alguma nota que os serviços oferecidos de um modo geral são ‘deficientes’. Meu marido tem sequelas neurológicas e está hemiplegico, tomo muito cuidado antes de fazermos as viagens e viajamos bastante. Fizemos um cruzeiro em janeiro de 2010, cuja tribulação foi extremamente atenciosa e a cabine maravilhosa. FAremos outro cruzeiro neste carnaval, com a mesma cia, porém em outro navio e espero que sejamos tão bem atendidos quanto no anterior. A primeira experiência foi desastrosa, mas que nãos eja suficiente para desistimulá-la a fazer outros cruzeiros. Além disso, sou advogada e acho que cabe ai uma indenização por dano moral, só assim conseguiremos mais respeito nas regras de acessibiliadde.

    • Ricardo Shimosakai

      Existe o turismo acessível, onde a acessibilidade é colocada como ítem de grande importância, e segmento onde a Turismo Adaptado trabalha com qualidade. Mas esse conceito não é aplicado por todas as empresas, por isso a importância de procurar quem faça isso de modo correto. Há que se pesquisar um pouco mais a fundo, pois muitos serviços e equipamentos turísticos dizem estar preparados, mesmo sem ter preparo adequado. Se a acessibilidade é um ítem que, se não estiver bem feita pode estragar sua viagem, é melhor procurar quem faça isso corretamente. A Turismo Adaptado trabalha com cruzeiros.

  2. Luiza

    Nossa muuuuuuiiiitto eu já ia comprar pra levar meu irmão em um cruzeiro !!!!!!!!

    • Ricardo Shimosakai

      Claro Luiza, recebemos seu email e estaremos respondendo em breve. Cruzeiros são muito bons, mas é preciso cuidado para escolher a melhor opção. Obrigado!

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