O programa do Globo Ciência sobre Acessibilidade, exibido no dia 1º de junho, visitou o Núcleo de Computação Eletrônica (NCE), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para conhecer de perto como funcionam os softwares direcionados a pessoas com deficiência. Desde programas de leitura de tela a aplicativos que podem ser comandados até mesmo por sussurros, o NCE busca, por meio de pesquisas nos mais diversos campos da informática, criar de produtos que tenham a tecnologia como suporte para promover acessibilidade no meio digital.
Um dos softwares apontado no programa foi o Dosvox (donwload), desenvolvido pelo núcleo desde 1993, que se comunica com o usuário por meio de síntese de voz, viabilizando o uso de computadores por deficientes visuais. Em vez de simplesmente ler o que está escrito na tela, o Dosvox estabelece um diálogo amigável, pelo uso de programas específicos e interfaces adaptativas. Com o programa, é possível editar, ouvir e formatar textos, incluindo recursos para Braille; aplicações para uso geral, como agenda de telefones, calculadora, preenchimento de cheques; jogos; e ampliador de tela para pessoas com visão reduzida.
Quando se cria um software para pessoas com deficiência, o professor José Antônio dos Santos Borges, pesquisador do NCE, destaca que alguns fatores devem ser levados em consideração. “O ponto de partida é perceber um problema que as pessoas tenham que enfrentar, e equacionar com uma solução possível. Geralmente, esta solução envolve a conjugação de elementos computacionais e eletrônicos que não é trivial, e é necessário, com frequência, fazer uso de tecnologias que ou são pouco conhecidas, ou estão em fase de desenvolvimento precário. Estar com uma pessoa com deficiência presente durante boa parte do desenvolvimento do programa é fundamental, pois é da interação intensa entre o futuro usuário e o desenvolvedor que as soluções se apresentam como as mais adequadas”, ressalta o pesquisador.
E foi da convivência com sua esposa, a médica radiologista Lenira Luna, que é tetraplégica, que José decidiu desenvolver, a pedido dela, outro aplicativo, chamado Motrix (download). Na ocasião, Lenira o procurara para que ele pudesse criar um software que trabalhasse por meio do acionamento da voz. Com o Motrix, o controle do mouse e do teclado passa a ser feito unicamente pela voz, embora esses dispositivos não sejam desabilitados, permitindo, assim, que outra pessoa use o computador eventualmente.
No programa, sempre que uma tarefa é requisitada pela voz, ela é escrita na barra de comandos do Windows. Dessa forma, o usuário pode ter um retorno sobre o entendimento, ou não, do comando pelo reconhecedor dosoftware. Os comandos visam, essencialmente, realizar ações de mouse e de teclado; acionamento de programas do Windows, bem como a seleção de menus de comando do aplicativo. O sistema permite, ainda, a digitação soletrando, sendo que, para isso, o Motrix utiliza o alfabeto fonético adotado na aviação.
Seguindo a linha do Dosvox, o NCE, em parceria com o Ministério da Educação e Cultura (MEC), desenvolveu o Mecdaisy (download), aplicativo que permite a produção de livros em formato digital acessível, utilizando o padrão Daisy, sigla para Digital Accessibility Information System. O Mecdaisy possibilita a geração de livros digitais falados e sua reprodução em áudio, que pode ser de uma voz gravada, ou sintetizada. Vários países já empregam o padrão Daisy para publicar obras, cujo acesso pode ser feito por todas as pessoas, inclusive usuários com algum tipo de deficiência.
O NCE também desenvolve o microFênix v 2.0, software direcionado a pessoas com comprometimento motor acentuado, cuja lesão impossibilita, ou dificulta, a capacidade de comunicação verbal, ou coordenação motora necessária para o uso do computador. Para utilizá-lo, o usuário emite um som qualquer para acionar uma das opções contidas nas telas de menu.
Outros softwares velhos conhecidos da acessibilidade são o Virtual Vision e o Jaws(Job Acess With Speech), ambos leitores de tela. No caso do Virtual Vision, que é produzido pela empresa MicroPower, o software faz uma varredura nos programas para buscar informações que podem ser lidas para o usuário. O aplicativo permite a navegação por menus, telas e textos. Já o Jaws, desenvolvido pela empresa Freedom Scientific, permite às pessoas cegas, ou que têm baixa visão, acesso a maior parte das funcionalidades do sistema operacional do computador, bem como configurá-lo. O programa possibilita manipular diretórios e arquivos, criar e editar documentos do Office e navegar na internet.
Mas a partir de qual momento um programa para pessoas com deficiência está pronto para ser lançado no mercado? Conforme explica José, não há uma homologação formal para esse tipo de software, e sim uma aprovação em uma bateria de testes operacionais feita por um grupo de testadores. No caso dos programas criados pelo NCE, é mantida uma lista de discussão frequentada por centenas de pessoas com deficiência, e os programas, ainda em fase de acabamento, são submetidos a este grupo, que fornece informações sobre as falhas, os pontos a melhorar e sugestões para alternativas. “É fundamental a participação desse grupo também, já que quando o programa é finalmente liberado em sua versão final, ele vai com poucos erros. Além disso, existe um conjunto de pessoas que pode servir como apoio a outros usuários, por já terem tido contato anterior com o software e dado sua contribuição, que é sempre muito valiosa”, ressalta o pesquisador.
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Fonte: Globo Ciência