Cidades sedes da Copa do Mundo 2014, acessibilidade além dos estádios
Esta matéria foi publicada no jornal “Na Luta”, N°14, Ano IV de Setembro/Outubro/Novembro de 2010, páginas 8 e 9.
Para ganhar o jogo, temos que fortalecer nossa defesa e ter um ataque ofensivo. Parece uma estratégia de jogo, mas também é como devemos pensar para que na Copa do Mundo 2014 que irá acontecer no Brasil, não tenhamos nenhum tipo de impedimento quanto aos planos de acessibilidade, que na verdade é uma exigência da FIFA, e que consigamos ganhar com folga, sem levar esse jogo para a prorrogação. Afinal, acessibilidade é show de bola!
Copa para todos. Este é o objetivo da Campanha de Acessibilidade na Copa de 2014 promovida pelo Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência (Conade), órgão que integra a estrutura básica da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República. O alvo da campanha é adaptar as 12 cidades-sedes da Copa no Brasil ao conceito de acessibilidade universal.
Segundo o presidente do Comitê Executivo das Copas pela Prefeitura de Belo Horizonte, Tiago Lacerda, em maio foi apresentado o Planejamento Estratégico para a Copa. “Os programas ainda não foram detalhados, mas, em todos, vamos levar em conta a questão da acessibilidade”, garante. Lacerda adianta que serão montadas câmaras temáticas para discutir os projetos com a sociedade organizada a partir do próximo semestre. Entidades representativas que deverão compor, no próximo semestre, comissões para que a Prefeitura possa debater os projetos da Copa. Belo Horizonte tem locais exemplares, como é o caso do Museu de Artes e Ofícios, com acessibilidade para qualquer tipo de deficiente, inclusive com intérpretes para libras.
Porto Alegre é a primeira cidade-sede a assinar o compromisso – a capital do Rio Grande do Sul foi indicada pelo Conade para servir de modelo para as outras 11 sedes. “Porto Alegre foi a primeira cidade brasileira a concluir o desenvolvimento de um Plano Diretor de Acessibilidade. Queremos fazer da cidade uma referência no tema em termos de preparação para megaeventos como a Copa do Mundo”, afirmou José Fortunati, prefeito de Porto Alegre e secretário extraordinário municipal da Copa.
Na Bahia foi realizada uma Reunião Ordinária do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência que contou com a participação da Secretaria Extraordinária para assuntos da Copa do Mundo da Fifa Brasil 2014 (Secopa). Dentre os assuntos previstos na Pauta, estava a apresentação da Secopa e as ações relacionadas à acessibilidade previstas para o Mundial de 2014. A reunião teve caráter de apresentação entre a Secopa e Conselho e espera-se que futuramente novos encontros sejam realizados no intuito de planejar uma Copa em 2014 que seja acessível e inclusiva para os cidadãos com deficiência. Em Salvador foi lançado em junho o Guia de Acessibilidade e Cidadania de Salvador, que reúne informações sobre o nível de acessibilidade de 130 locais da capital baiana, a exemplo de praças, restaurantes, teatros, cinemas, shopping centers e órgãos públicos.
Em Fortaleza, a prefeita Luizianne Lins lançou em 2007 a Comissão de Políticas Públicas Municipais para Atenção às Pessoas com Deficiência (Compedef). Impulsionados pelos jogos mundiais de 2014, todos os novos projetos e obras da prefeitura de Fortaleza, principalmente ligados a mobilidade urbana, contemplam as questões referentes à acessibilidade previstas em lei, incluindo piso podotátil – diferentes relevos no solo para orientação de pessoas cegas. Locais como o Mercado Central, um dos principais polos de compras da cidade, já passaram por reforma: rampas foram instaladas e os banheiros, adaptados. Outros pontos turísticos da capital do Ceará estão sendo adaptados, como o Jardim Japonês, o Centro Histórico, o Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (Cuca), o Paço Municipal e a Praia de Iracema.
Em Natal, mais 50 ônibus zero quilômetro e integralmente adaptados às necessidades das pessoas com mobilidade reduzida foram incorporados em março, à frota de transporte público. O investimento das empresas de ônibus até agora na melhoria da frota foi de R$ 40 milhões. Com os 50 novos veículos, Natal agora passa a ter 160 ônibus novos adaptados circulando pelas rotas de transporte público. Número que representa cerca de 25% da frota circulante da cidade, formada por 641 veículos.
São Paulo é conhecida pelos milhares de eventos que realiza e onde a acessibilidade tem sido comentada com muita ênfase. Recentemente o 2° Encontro Paulista de Museus, falou muito sobre a acessibilidade de diferentes tipos de deficiência, e por decisão de todos os presentes, prometeu levar esse assunto para o Fórum Nacional de Museus. A Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida (SMPED), tem realizado Feiras Culturais Inclusivas, que já aconteceram no bairro de Pinheiros, recentemente no bairro do Tatuapé, e promete realizar em mais diversos outros diferentes pontos da cidade.
A Riotur – Empresa de Turismo do Rio de Janeiro – lançou o Guia de Roteiros Turísticos Acessíveis. Nele são encontrados 30 lugares com elevadores ou rampas, que permitem acesso em nível, além de funcionários treinados para atender os visitantes. O metrô carioca possui estações com elevadores, incluindo as localizadas em Copacabana e Ipanema. Outras opções são a cooperativa de taxi com veículos que possuem plataformas de embarque e ônibus que contam com elevadores hidráulicos e locais reservados para cadeiras de rodas. A cidade possui um compromisso ainda mais sério com a acessibilidade, pois dois anos após a Copa do Mundo da FIFA, irá sediar em 2016 os Jogos Paraolímpicos, onde a cidade será “invadida” por centenas de atletas com deficiência, além dos espectadores diversos deles também com deficiência, lembrando que os atletas após o período da competição, se tornam grandes turistas pois geralmente gostam de visitar os locais onde competem.
O projeto de acessibilidade do Verdão, como é conhecida o estádio de Cuiabá que será reformado para receber as disputas de 2014 seguirá basicamente duas normas para a adequação à demanda de pessoas com deficiência. “Seguimos uma norma internacional – Guide to Safety at Sports Grounds –, recomendada pela FIFA, e a NBR 9050. As intervenções para acessibilidade são ajustes em dimensionamento de corredores, rampas e escadas; sinalização tátil; sinalização e comunicação visual; e nível e qualidade de iluminação”, disse Alessandra Araújo, coordenadora-geral do projeto do novo Verdão.
Segundo a coordenadora, para a elaboração do projeto foram visitados inúmeros estádios europeus. “Para termos bons exemplos, sempre projetamos buscando atender às diversas normas, incluindo acessibilidade.” Dois bons cases em acessibilidade de estádios na Europa são o Milton Keynes Dons, com mais assentos para amigos e familiares de cadeirantes, e o Wembley, que possui um ótima comunicação visual e tátil – ambos ingleses –, aponta Alessandra. Ela ressalta que a acessibilidade deve ser garantida em todas as áreas, para todo tipo de público, sejam espectadores ou profissionais, para o que foi preciso desenvolver rampas e escadas especiais. Além da acessibilidade, o projeto também deve garantir evacuação da arena com segurança. Para a coordenadora-geral do projeto, “adequar todas estas necessidades foi desafiante, mas conseguimos viabilizá-las”.
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