Cidades antigas se tornam acessíveis. Chester e Jerusalém servem como referência.
Existe, portanto, um desafio imediato para nós arquitetos, urbanistas e autoridades locais: abordar com a devida atenção e sensibilidade a questão da acessibilidade em centros urbanos históricos. O grande desafio é, portanto, encontrar maneiras e métodos que possibilitem um convívio saudável entre a crescente demanda por acessibilidade e a manutenção das características específicas do patrimônio histórico urbano de nossas cidades mais antigas.
O senso comum de que cidades históricas são inacessíveis e impossíveis de serem adaptadas segundo os princípios de desenho universal foi veementemente contradito pelo projeto de reurbanização realizado na antiga cidade romana de Chester, no Reino Unido.
Em 2017, a cidade foi reconhecida como a cidade mais acessível da Europa pelo Access City Award outorgado pela União Europeia, reconhecendo e celebrando o esforço realizado para tornar a cidade mais acessível e inclusiva para todos os seus cidadãos e visitantes.Chester é um ótimo exemplo para dar início a este debate.
Embora o centro histórico da cidade britânica tenha sido reconstruído durante o século XVI, o núcleo urbano de Chester encontra-se cercado por uma série de muralhas construídas pelos romanos por volta do ano 70 d.C.
Conforme relatado ao The Guardian pela escritora e ativista da luta pelo direito à acessibilidade universal, Frances Ryan, o percurso de mais de três quilômetros que percorre os muros romanos da cidade de Chester são quase que totalmente acessíveis e adaptados com pisos táteis, corrimãos e mais de onze rampas de acesso.
As passarelas elevadas construídas durante o século XIII também foram adaptadas, e a mais de dez anos podem ser acessadas por qualquer pessoa com mobilidade reduzida através de seis diferentes pontos.
Além disso, a paisagem histórica – mas também acessível – de Chester é complementada por infraestruturas modernas, como uma frota de ônibus totalmente acessíveis e 100% dos taxis adaptados para o transporte de passageiros com cadeiras de rodas. Sete banheiros públicos acessíveis encontram-se espalhados por toda a cidade, os quais foram equipados com guinchos e bancos.
Legalmente, a cidade conta com um comitê específico de acessibilidade urbana desde 1991, além de um fórum corporativo do qual participam dezesseis organizações de defesa dos direitos ao acesso à cidade, as quais trabalham diretamente com os arquitetos do município para garantir que a acessibilidade seja uma prioridade para cada novo projeto que venha a ser realizado.
No total, quatro quilômetros de ruas foram re-pavimentadas e niveladas, recebendo rampas, passagens e corrimãos que permitirão um acesso seguro a todos os moradores e visitantes que visitam a cidade sagrada. O município de Jerusalém também disponibiliza um aplicativo móvel gratuito, acessível em oito idiomas, com o qual os usuários podem mapear todas as rotas acessíveis para descobrir o melhor percurso durante a sua peregrinação ao muro das lamentações. No total, foram investidos cerca de US$ 5,5 milhões no projeto.
Conforme foi visto recentemente – dedicamos um mês inteiro a discutir questões relativas à acessibilidade – os avanços tecnológicos estão democratizando os espaços urbanos que antes eram inacessíveis a muitos cidadãos.
Com a atual tendência migratória das zonas rurais para as cidades e o crescimento vertiginoso da população urbana em nosso planeta, as cidades precisam se preparar para acomodar um crescente número de habitantes com algum tipo de restrição motora.
Nesse contexto, Chester e Jerusalém servem como referência, mostrando que até as cidades mais antigas – e também em territórios conflituosos – são capazes de absorver as mudanças necessárias à democratização dos espaços urbanos e a promoção da acessibilidade e inclusão social.
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