Centros culturais repensam acessibilidade. Mudanças ajudam a aumentar a audiência.
Depois, fui praticamente obrigada a prestar atenção se havia rampas em um lugar que desejávamos visitar”, relembra. Frequentadora de atividades culturais, a dupla afirma que o básico da acessibilidade está logo na recepção dos espaços. “Dois degraus já me impedem de entrar em um prédio”, explica Raquel. Sílvia complementa dizendo que as portas devem ser largas, o piso não pode ter desníveis e rampa ou plataforma elevatória são indispensáveis. “Se as pessoas precisam entrar pelas laterais, já existe uma discriminação.”
Antecipando-se à discussão que desembocou na criação da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, em 2015, o Itaú Cultural instalou em 2002 uma inclinação em sua entrada. Treze anos depois, criou um comitê voltado para a acessibilidade. “Hoje, quando contratamos uma equipe, passamos as instruções. Se é belo mas não é acessível, não avançamos com o projeto”, diz Eduardo Saron, diretor do instituto. Os recursos disponibilizados dependem também da variável financeira. “A depender do projeto e do orçamento, disponibilizamos os recursos”, afirma Vinícius Soares Ramos, coordenador do núcleo de infraestrutura e produção de exposições.
Na mostra Ainda Há Noite, em cartaz até agosto, os visitantes têm ao seu dispor vídeos com audiodescrição, maquetes, objetos e piso táteis, legendas em braille e um local com lâmpada de luz infravermelha que permite sentir a “temperatura” de algumas das fotos exibidas por lá. A diversidade de ferramentas, no entanto, não se repete no Espaço Olavo Setubal, no 4º e 5º andares do prédio do Itaú, onde as coleções Brasiliana e Numismática são exibidas desde 2016. A situação deve mudar até o fim de 2019.
Novatos na cena, a Japan House, nascida em 2017, e o Sesc Guarulhos, aberto há dois meses, têm prédios que acolhem diferentes públicos. O centro cultural nipônico promete lançar em setembro um programa de acessibilidade que conta entre seus componentes uma maquete tátil, com mapa do entorno da Avenida Paulista, pranchas de elementos arquitetônicos e legendas em braille, além de uma audiodescrição. O item contribui para a autonomia de pessoas com baixa visão e portadores de deficiência visual, auditiva e motora. “Pensar na inclusão é um dever”, afirma o presidente da Japan House, Marcelo Araujo.
Os teatros inaugurados nos últimos anos, entre eles o Opus e o Porto Seguro, foram projetados com a intenção de atender a essas necessidades. O Teatro Santander, por exemplo, aberto em 2016, é acessível por rampas desde a bilheteria e possui 22 assentos para deficientes físicos, catorze para pessoas com mobilidade reduzida e oito para obesos, além de sinalização e indicações em braille para deslocamento aos banheiros.
Palco tradicional desde 2004, o Teatro Vivo corre atrás da tendência com uma ampla reforma que promete ficar pronta em setembro. O Vivo ganhará espaço mais amplo de circulação, mesmo entre as fileiras, poltronas com numeração em braille e acessibilidade completa para cadeirantes, inclusive no café e nos bastidores. “Nosso projeto também prevê equipamentos próprios de audiodescrição e acesso liberado de cães-guia durante as sessões”, afirma Marina Daineze, diretora de imagem e comunicação da Vivo.
O Teatro Renault, aberto em 2001, oferece acessibilidade em todas as sessões de O Fantasma da Ópera. Os portadores de necessidades especiais podem solicitar um tablet adaptado na recepção para acompanhar o musical com audiodescrição, legendagem e interpretação em libras. Mais de 350 deficientes auditivos e visuais assistiram ao espetáculo desde agosto do ano passado graças ao sistema.
A presença de um intérprete de libras tornou-se uma constante no calendário cultural e abriu um mercado de trabalho. Thalita Passos, de 31 anos, aprendeu a linguagem de sinais aos 14 para ajudar os surdos no culto da igreja evangélica que frequentava. Especializada na interpretação em libras desde 2014, ela traduziu mais de 300 eventos culturais e marca presença em pelo menos três semanais, a maioria deles no Auditório Ibirapuera e no Itaú Cultural. “Trata-se de um público que ainda está em formação porque, sempre que um deficiente é convidado para um show ou uma peça, o seu primeiro pensamento é que não será possível entender a mensagem”, diz Thalita.
Também tradutora de inglês e espanhol, Anne Carolinne Magalhães, de 28 anos, trabalha há sete como intérprete de libras em espetáculos, palestras e reuniões empresariais ou políticas. Chega a ter cinco eventos semanais na agenda. “O mais difícil é ter o cuidado de acompanhar o artista e não prejudicar a apresentação”, afirma ela, que estuda o roteiro previamente e escolhe um figurino neutro. “Atualmente, vejo um número muito maior de jovens em shows do que há dez anos. Hoje essa participação faz sentido para eles, antes era só mais um motivo para se sentirem excluídos da sociedade.”
Fonte: Veja SP
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