Turismo – Aulas de marketing digital, gestão financeira e networking ajudam a alcançar sucesso
O sucesso de um empreendimento não depende apenas da experiência que se tem na área, mas de um extenso processo de pesquisa de mercado, networking com empresários de todos os setores, busca pelo conhecimento de gestão financeira, de pessoas, marketing, mídias sociais, entre outros pontos. “É um risco achar que só por ter trabalhado na área é o suficiente para o negócio dar certo”, afirma Michell Almeida, fundador do Hostel Jardim São Paulo.
Formado em gestão financeira, o empresário trabalhou por seis anos num hostel como funcionário. Tomou gosto pela área e planejou ter o próprio negócio neste segmento. Embora desconhecido ainda por boa parte dos brasileiros, o conceito de hostel é muito popular no mundo todo, porque oferece cama, banheiro, café da manhã a preços baixos, com qualidade.
Ao mesmo tempo em que Almeida percorria bairros de São Paulo com boa localização e infraestrutura para comprar uma área, investia em cursos no Sebrae-SP e participava de encontros com empresários de outros setores da economia para ouvir suas experiências.
O que aprendeu de todo esse processo foi a necessidade de saber organizar o tempo, cuidar das áreas financeira e de compras para poder tocar o negócio com o menor risco possível. Além disso, era imperativo aprender a delegar e reconhecer que não dava para tocar tudo sozinho. O Hostel Jardim São Paulo foi erguido numa casa no bairro do Tatuapé, zona leste da cidade, a três minutos do metrô, próximo a shoppings e restaurantes, ao aeroporto de Guarulhos e o Itaquerão.
Com ocupação média de 70%, o hostel passará dos atuais 34 leitos para 40 no próximo ano, e o empresário, que também foi estudar inglês para recepcionar os muitos turistas estrangeiros, pretende ainda ter aulas de francês e hebraico. Para melhorar o conhecimento no setor, Almeida já planejou iniciar outra graduação, desta vez em administração, com foco em hotelaria, em fevereiro. “Agora é organizar o staff, investir na expansão da infraestrutura e deixar tudo redondinho para partir para uma nova etapa”, afirma otimista.
Canoagem sempre foi uma paixão de Rafael Barbieri, que integrou a seleção brasileira da modalidade, a ponto de motivá-lo a deixar a cidade de São Paulo em busca de uma outra com características para abrir o próprio negócio, focado em turismo de aventura. A cidade escolhida foi Brotas (SP) e a empresa criada por Rafael e sua família foi a EcoAção, agência de viagem. Além dela, o empresário e a família administram ainda o ecoparque Aventurah, e o site Pousadas de Brotas, para quem busca hospedagem na cidade.
Barbieri conta que a necessidade de investir na área da gestão surgiu logo no começo do negócio. “Sentimos que era tudo amador e por isso fomos ao Sebrae-SP”, afirma. Outra entidade procurada foi a Associação Brasileira de Empresas de Turismo de Aventura (Abeta), com quem Barbieri passou a desenvolver normas de segurança e gestão para o setor.
Além de cursos, a EcoAção chegou a participar de várias competições no próprio Sebrae-SP e se sagrou finalista de algumas, como superação empresarial e mulher de negócios. Outra conquista importante foi o selo de segurança do Inmetro para as categorias de boia cross, rafting, arvorismo e cachoeirismo. Hoje, a empresa registra a emissão de quatro mil tíquetes de atividades ao mês no ecoparque, que vem recebendo, nos últimos meses, novas atrações.
Na avaliação de Cássio Santos, consultor do Sebrae-SP e gestor do Programa Circuitos Turísticos, a capacitação do empresário e de toda a sua equipe deve ser um investimento constante. As oportunidades surgidas para a área de turismo e hospedagem no país, nos últimos anos, são muitas, mas para garantir o sucesso é preciso estar bem preparado.
Em 2004, quando esse programa do Sebrae foi criado, seis projetos contavam com a consultoria dantidade. Neste ano, são 16. “O crescimento econômico do setor tem motivado a abertura de muitas empresas por empreendedores de todos os segmentos”, afirma o consultor. O Programa colabora para que uma determinada região desenvolva o turismo baseado em áreas específicas.
Por exemplo, no circuito centro-oeste paulista, o foco está no turismo rural, ecoturismo e cultural, em municípios como Pederneiras, Agudos e Bauru, entre outros. No circuito oeste-rios, a vocação está no turismo náutico, cultural e ecoturismo, enquanto no circuito da costa da mata atlântica o foco é o turismo do sol e praia, náutico e ecoturismo.
A Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav) tem um braço voltado para a formação e capacitação de quem atua na área, o Instituto de Capacitação da Abav (ICCABAV), cujo portfólio é formado por cerca de 150 cursos com todos os temas de interesse da área de turismo e hospedagem. Segundo, Ana Carolina Medeiros, presidente da entidade, temas como tecnologia da informação, geografia internacional e marketing digital têm registrado mais destaque.
“Durante muito tempo, os agentes de viagem tiveram medo da internet, mas o cliente está lá, e por isso temos estimulado a necessidade de aprender a trabalhar no mundo digital”, conta a executiva. Foi justamente a internet escolhida como ambiente para Ricardo Shimosakai criar seu Turismo Adaptado, voltado para o turismo acessível.
Formado em Turismo, professor do MBA em hotelaria de luxo e palestrante, o empresário decidiu investir nesse nicho depois de se tornar cadeirante e perceber o quanto o turismo brasileiro carece de iniciativas para atender uma parcela importante do mercado consumidor.
“Segundo a OMS, o mundo conta com um bilhão de deficientes e o turismo acessível movimenta US$ 14 bilhões apenas nos Estados Unidos. Durante os jogos da ParaOlimpíada em Londres, o turismo acessível gerou uma receita de US$ 3,2 bilhões. O Brasil tem que estar atento a isso”, diz ele.
O portal, que nasceu em português, tem hoje posts semanais em inglês e espanhol por conta do interesse de turistas estrangeiros pelo Brasil e que passaram a visitar o site mesmo quando ele ainda era apenas em português. Shimosakai aproveita sua participação como palestrante em fóruns e palestras de todo o país para ampliar sua capacitação nos ambientes digitais. “Há muito o que crescer no Brasil ainda. Quero gerar mais visibilidade para o Turismo Adaptado”, diz ele.
Fonte: Valor Econômico