Câmara aprova obrigatoriedade de cardápio em braile nos restaurantes
“Parece que servem sopa aqui. Adoro. Ouvi a conversa na outra mesa”, diz Bernadete Fonseca, 51, pouco antes de entrar no táxi que a espera, ao lado marido, na saída da Forneria San Paolo. Bernadete vê apenas contornos de luz. Sofre de uma doença que a fez perder quase toda a visão. Conheceu Geraldo Fonseca, 53, (cego desde a infância) quando procurava se adaptar – e há quatro anos estão juntos.
Gostam de frequentar restaurantes, mas nem sempre têm facilidade à mesa. Na última sexta-feira, foram à rua Amauri, o badalado endereço gastronômico do Itaim Bibi (zona sul de São Paulo). Dos 11 restaurantes dali, somente três têm cardápio em braille, como manda a lei. Acomodados à mesa da Forneria San Paolo, perguntam ao garçom sobre a especialidade da cozinha. O funcionário ensaia a leitura, mas, 15 minutos depois, finaliza poucas descrições.
Ele é interrompido, a cada instante, por perguntas como “Qual o valor desse prato?”. O salão está cheio e ele não segue até o fim da lista. “O menu em braille dá privacidade. Escolho o que dá água na boca e o que posso pagar”, diz Bernadete assim que o atendente se vai. Para atender aos cerca de 148 mil cegos no Brasil (número do IBGE), não é preciso investimentos altos. A transcrição, feita por instituições como a Dorina Nowill e a Turismo Adaptado, custa R$ 60 por dez páginas.
A Forneria San Paolo afirma que “nunca recebeu deficientes visuais” e que “tampouco tinha conhecimento da lei”. Diz nunca ter recebido a fiscalização e que vai providenciar o cardápio adaptado em breve. Segundo a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, que responde pela vigilância, “a fiscalização ocorre rotineiramente e todos os estabelecimentos da cidade são vistoriados”.
A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania aprovou o Projeto de Lei 1694/99, da deputada Luiza Erundina (PSB-SP), que obriga restaurantes, bares e lanchonetes a oferecer cardápio em braile aos clientes. O projeto foi aprovado em caráter conclusivo e seguirá para o Senado, a menos que haja recurso para que seja votado pelo Plenário da Câmara.
A relatora, deputada Sandra Rosado (PSB-RN), votou pela constitucionalidade e juridicidade da proposta, com emenda. Segundo ela, a proposta inicial merece aperfeiçoamento de redação para corrigir a previsão de multa de 100 Ufir para as empresas que não cumprirem a determinação.
“Uma vez que a unidade de referência para a multa, a Ufir, foi extinta, alteramos a proposta para que a multa passe a ser de R$ 100, reajustada com base nos índices de correção dos tributos federais”, afirmou. Esse valor será duplicado em caso de reincidência.
Segundo a relatora, o projeto ajuda a superar as barreiras que impedem a integração das pessoas com deficiência. “O acesso ao conhecimento e à informação, além do estímulo à convivência, podem promover a inclusão das pessoas com deficiência em nossa sociedade.”
Fonte: Folha de S. Paulo
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Olha, tenho orgulho de ser brasileira qdo leio algo como esta iniciativa que se tornou Lei. Espero mesmo, que seja cumprida! Limitaçòes fisicas nào deveriam ser desculpa para nào ter uma vida social. Parabèns!
Nossa legislação cobre todas as questões de acessibilidade, não é necessário criar mais leis. É preciso fazer com que elas sejam cumpridas.