Um ferro-velho no bairro Tatuapé, na capital paulista, vende como sucata 33 cadeiras anfíbias, que são utilizadas na praia por pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Entre os equipamentos descartados estão cadeiras de Guarujá e Bertioga, dois dos municípios da Baixada Santista que têm parceria com o Governo do Estado para oferecer o programa Praia Acessível.

O descarte das peças veio à tona quando o aposentado Francisco Molina Filho comprou uma cadeira para presentear o filho, Fabiano Pierre Molina. Ele tem o movimento dos braços e pernas debilitados por causa da paralisia cerebral. “Fui até o ferro-velho para comprar uma cerca e me deparei com as cadeiras (anfíbias). Não tive dúvida, comprei para ele”.

De acordo com Molina Filho, mais cadeiras estavam à venda no ferro-velho, além de outras 11 já comercializadas. O aposentado não sabe afirmar quantos equipamentos, no total, estavam no local. O número foi informado pela Rádio Bandeirantes, que esteve no ferro-velho para comprovar o descarte dos acessórios.

“Eu fiquei impressionado com a quantidade de dinheiro público que foi jogado fora com só com aquelas cadeiras”, disse o aposentado. Ele pagou R$ 200,00 pela peça. Ainda conforme Molina Filho, uma cadeira anfíbia nova deve custar mais de R$ 2 mil.

Em perfeito estado, como descreve o aposentado, os equipamentos estavam apenas sujos, por causa da exposição ao ar livre. “A (cadeira) que eu peguei está ótima, tem até os pelinhos nos pneus”, diz ele.

Silvia Mara, que responde pelo ferro-velho, mas não se intitula proprietária do ponto, estava receosa em falar com A Tribuna. Ela defende o comércio dizendo que as cadeiras foram adquiridas através de leilão promovido pelo Fundo Social de Solidariedade da Capital.

Origem
Cadeira anfíbia leva adesivo da Prefeitura de BertiogaOs equipamentos têm adesivos de duas logomarcas de órgãos públicos: uma do Governo do Estado de São Paulo e outra da Prefeitura de Bertioga. A Administração Municipal dessa cidade confirma que fez a troca de 11 cadeiras anfíbias, concedidas pela Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência, em 15 de outubro de 2013. “Os equipamentos foram devolvidos em estado não funcional por problemas de rodas travadas, freios corroídos, câmaras furadas e rodas deslocadas. Nenhuma foi devolvida funcionando”, ressalta em nota.

O Governo do Estado, por sua vez, aponta as cadeiras anfíbias descartadas como pertencentes a Guarujá. Também em nota, o órgão explica que, em outubro de 2011, a Prefeitura guarujaense solicitou a retirada de oito equipamentos por problemas no rolamento.

“Apesar de não ser visível, a maresia fez com que as peças internas enferrujassem, prejudicando, assim, o deslizamento adequado da cadeira anfíbia. Este defeito coloca em risco a vida dos usuários, uma vez que o equipamento pode atolar dentro do mar”, ressalta o comunicado.

O Estado, no entanto, não especifica o número de cadeiras que estavam no ferro-velho, nem relata a troca de equipamentos defeituosos de Bertioga. O Governo do Estado também não respondeu quanto do dinheiro público é gasto para a aquisição de cadeiras anfíbias e, em caso de defeitos, se a opção mais barata é mesmo o descarte e a compra de novas peças.

Diz apenas que se as prefeituras, responsáveis pela manutenção destes equipamentos, sinalizam que não será possível o conserto, a secretaria retira as cadeiras e as substitui por novas. Guarujá confirma que, em 2011, a Prefeitura devolveu ao Governo do Estado oito cadeiras anfíbias “que não estavam em condições de uso”, explica em nota a assessoria de imprensa da Administração.

Programa
Lançado em 2010, o Programa Praia Acessível tem como objetivo oferecer equipamentos para que pessoas com deficiência – ou mobilidade reduzida – possam usufruir da praia e do banho de mar com segurança. Na Baixada, apenas Cubatão não é contemplada.

Bertioga é a cidade que disponibiliza mais equipamentos: 25 cadeiras anfíbias. Depois, aparece Guarujá, com 16; Praia Grande e Mongaguá com 10 cadeiras cada uma; e Santos, com oito. Os outros municípios não informaram a quantidade de equipamentos. A Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência é responsável pelo fornecimento das peças, já as prefeituras, pelas equipes de suporte do programa e a manutenção das cadeiras.

De acordo com a secretaria, as cadeiras anfíbias são feitas com um tipo de pneu especial, que permite superar a dificuldade de locomoção na areia, e também não afundam na água. Devido à sua altura, é possível o usuário entrar na água, em uma profundidade não perigosa no mar. Existe facilidade na transferência para a cadeira, que possui braços removíveis.

Fonte: A Tribuna

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