Há três anos Genilson Machado redescobriu um prazer que estava perdido há 24 anos: o banho de mar. Ele tinha se afastado de uma de suas paixões depois que um acidente durante um mergulho em piscina o deixou tetraplégico. Apaixonado pelo mar, ele decidiu que precisava compartilhar sua conquista com outros deficientes e hoje coordena uma organização que promove a entrada de outros deficientes no mar com a ajuda de cadeiras anfíbias. “Para min é um sonho realizado”, diz, diante dos frutos do projeto.
Este sonho de Genilson, que atualmente é tetraparaplégico, tem semanalmante data e hora marcada para se tornar real. Aos sábados, pela manhã, ele vê chegar no ponto de encontro, na frente da Fundação Casa José Américo, na Avenida Cabo Branco, uma média de 35 frequentadores do projeto, todso com algum tipo de deficiência. Além desses, o cadeirante e coordenador também vê outros se juntarem na construção dessa realidade, uma média de 50 voluntários.
“Eu e minha equipe nos dedicamos inteiramente todos os dias para manter o projeto funcionando e assim continuar proporcionando a acessibilidade ao lazer, esporte, arte e cultura. A cada pessoa que nos relata ter entrado no mar, jogar vôlei, ou andar de bicicleta pela primeira vez na vida ou depois do acidente, é uma emoção enorme pra eles e pra nós também, nos motivando cada vez mais a fazer com que isso perdure para sempre”, disse o coordenador.
Além de proporcionar o banho de mar para os cadeirantes, o projeto ‘Acesso Cidadão’ conta com vários coletes salva-vidas de diversos tamanhos, caiaque, pranchas de surf. Além das atividades no mar, também há equipamentos para a prática de vôlei sentado, frescobol e handbikes.
“Aqui as pessoas percebem que seus problemas e suas limitações são pequenas ou iguais aos dos outros que estão ali se divertindo e curtindo a vida independente das dificuldades, com isso trocam experiências e consequentemente melhoram o autoestima”, contou.
Inspiração
A inspiração do projeto, segundo o próprio coodenador, surgiu após um grupo de amigos inquietos com a falta de acessibilidade de Pessoas com Deficiência ao mar assistirem uma nova da Rede Globo, ‘Viver a Vida’. O autor, Manoel Carlos, abordou no enredo a crença em uma vida feliz, a despeito das dificuldades e das tragédias pessoais.
Genilson recorda que, segundo os médicos, não seria possível para ele nem sair da cama. “Mas insistir pra adquirir alguns movimentos. E a partir de quando vi a novela renasceu novamente o desejo de voltar ao mar”, recordou.
Acidente e superação
Antes do acidente, Genilson mergulhava e se exercitava na academia, além de gostar muito de handebol e surfe. Ao 19 anos, numa quarta-feira de Cinzas, durante um mergulho em uma piscina de um clube da Capital, ele disse ter tido lesão na medula Cervical, C5, C6 e C7.
“Os três primeiros anos eu quase não mexia o pescoço”, conta. Segundo ele, após o acidente tudo parecia ser o fim. “No início não tinha início, era só fim. Fim de vida. Fim de amor próprio”, lembra Genilson.
A primeira vez que entrou no mar após o acidente foi no projeto que o qual coordena. Atualmente, Genilson voltou a mergulhar, como fez na praia de Porto de Galinhas, em Pernambuco, numa profunidade de cinco metros, mas também encomendou uma prancha de kitesurf. “Estou de volta ao mergulho”, comemora.
Fonte: G1