Eduardo Favilla tem 29 anos e trabalha como Analista de Sistemas. Ele também tem deficiência auditiva mas não deixou isso atrapalhar os seus objetivos durante sua vida e em seu intercâmbio na Irlanda.

Agora vamos as perguntas:

Qual foi o seu principal motivo para realizar um intercâmbio na Irlanda?

O principal motivo foi a busca por um novo objetivo tanto pessoal quanto profissional. O aprimoramento na língua inglesa também estava nos planos porém o intercâmbio não é apenas isso.

Em uma experiência como essa é possivel se auto-avaliar de uma maneira que em seu país não seria possível uma vez que a pessoa está habituada a sua rotina profissional e pessoal. Essa rotina faz com que a pessoa não consiga, muitas vezes, tempo para pensar sobre si mesma. Porém antes de escolher um novo país para vivenciar fiz muitas pesquisas sobre o cotidiano, costumes, preços para se viver, oportunidades de trabalho, entre outros assuntos.

Claro também pesquisei se poderiam me oferecer a oportunidade de continuar praticando o esporte que no Brasil pratico, o kart. Outro detalhe importante pela escolha da Irlanda é que em Dublin há uma comunidade especialmente voltada para pessoas portadoras de deficiência auditiva e eu como tenho perda severa de audição no ouvido esquerdo e moderada no ouvido direito desde o meu nascimento logo me identifiquei com esse grupo que por sua vez, me acolheu muito bem antes e durante a minha estadia no país. Esse local é Deaf Village, que fica no seguinte endereço: Ratoath Road, Cabra, Dublin 7. Mais detalhes sobre o local podem ser encontrados no site http://www.deafvillageireland.ie

Em que data você chegou na Irlanda?

Cheguei na Irlanda no dia 17 de Janeiro de 2014.

Por que você gosta de praticar kart?

A primeira recordação que tenho sobre corridas eu tinha 5 anos de idade, assistindo ao GP da Austrália de F1 com meu pai na sala da casa aonde moravámos. Nunca me esqueço do carro branco e vermelho com capacete amarelo, que se tratava da Mclaren do piloto brasileiro Ayrton Senna. Ali eu me apaixonei por corridas e decidi que queria fazer aquilo.

Algumas coisas não tem explicação óbvia, você simplesmente sente. Minha primeira vez a bordo de um kart eu tinha 6 anos e foi em uma pista de karts de locação de um estacionamento de um Shopping Center na Cidade de Guarulhos, no Estado de São Paulo. Depois disso eu nunca mais quis parar de correr.

Quando você começou a participar de competições de kart na Irlanda? Aqui na Irlanda, através dos contatos com as pessoas da Deaf Village que também correm de kart alguns deles tomei ciência das competições denominadas Deaf Kart. Competições de kart para pilotos portadores de deficiência auditiva. Cada país da Europa, não todos mas muitos deles, tem uma associação, no caso da Irlanda é a Irish Deaf Karting Club.

Durante o ano são realizados os torneios nesses países, os chamados Deaf Open Karting. Em janeiro foi realizado o Deaf Open Karting da Irlanda do Norte aonde fui 2°. Em abril tivemos o Deaf Open Inglês aonde terminei em 11° e na semana passada, dia 3 de maio, ocorreu o Deaf Open Dinamarquês aonde também fui Vice-Campeão. Agora no mês de junho teremos o Campeonato Europeu de Deaf Kart, que será na Austria. A convite da Associação Irlandesa de Deaf Kart vou representá-los, com muito orgulho nessa competição. Até o fim do ano ainda teremos os campeonatos Italiano (Julho), Espanhol (Agosto), Irlandês (Setembro), Alemão (Outubro) e Escocês (Novembro). Estarei presente em todas essas competições. Por fim, há o campeonato local, apenas em Dublin, cujo nome é Dublin City Karting Championship que possui etapas 1 vez por mês até o mês de Novembro. Estamos indo para a 5° etapa e atualmente estou na liderança da competição.

Como você entrou neste mundo? Houve um investimento muito grande de sua parte?

Entrei no mundo das corridas devido a paixão que desenvolvi pelo esporte. Tenho pilotos que admiro muito não só pelo talento mas pelo caráter de cada um deles como por exemplo o Brasileiro Ayrton Senna, 3 vezes campeão mundial de F1, Emerson Fittipaldi, Jim Clark, Gilles Villeneuve, Alex Zanardi, entre tantos outros em diferentes épocas e categorias do automobilismo. Sim o investimento existiu, minha família sempre me apoiou, mesmo não possuindo recursos financeiros para bancar tal sonho.

Também tive a ajuda de muitas pessoas que me ajudaram da maneira que podiam. E a partir do momento que comecei a ser assalariado, fosse na minha área de formação acadêmica ou não, eu mesmo bancava, na medida do possível, minha carreira como piloto. Por alguns anos, entre 1999 e 2010, eu deixei de correr justamente por não ter condições financeiras para continuar só retornando em 2009.

Este investimento valeu a pena? Você obteve os resultados esperados?

Todo investimento, quando se trata da tentativa de realizar um sonho, vale a pena na minha opinião e acredito que está valendo a pena. Graças a esse esporte eu pude conhecer pessoas maravilhosas, aqui na Irlanda e no Brasil. Fiz amigos que levo para a vida toda. Outro detalhe importante é que esse investimento, mesmo hoje, me permite estar próximo da minha paixão que é o automobilismo. Mesmo sem a audição, que não me permite ouvir com nitidez o ronco dos motores, eu consigo sentir toda a adrenalina que o esporte proporciona. É um esporte muito rico em detalhes e com enormes desafios para quem pratica. A constante busca pela perfeição de uma volta é fascinante. Ainda não obtive todos os resultados que eu esperava, apesar das vitórias e títulos que até hoje já conquistei. Faltam muitos títulos ainda que podem ser alcançados e na medida do possível vou treinar para consegui conquistá-los. Ir cada vez mais longe. Ainda alimento o sonho de ser Campeão Brasileiro e Mundial de Kart e é o sonho que me faz seguir em frente.

Você conseguiu parcerias ou patrocínios com empresas? Quais?

Durante a minha carreira tive pessoas e empresas que me ajudaram de alguma forma. Recentemente conseguimos o apoio de 2 empresas que estão acreditando no projeto Deaf Kart Brasil que consistirá no modelo Deaf que existe na Europa e que tenho planos de implantar no Brasil quando voltar juntamente com o Sr. Claudio Reis, do portal Planet Kart que é o idealizador da ideia. Trata-se da Mitsubishi Motoros, empresa japonesa automobilística e da Santa Constancia, empresa brasileira no mercado de moda.

Além de acreditarem nesse projeto eles estão me ajudando financeiramente nas competições, incluindo o Mundial de Kart no Brasil. Também tive ao longo da minha carreira parceria com a 100% Go Ahead aonde eu atuava com testador de produtos, no caso roupa 2° pele, durante as corridas de kart, fornecendo informações de perfomance visando a melhoria do produto. E entre 2011 e 2013 a Megafitmex, rede de academias mexicana, também me ajudou. Não posso esquecer o trabalho que a mídia (jornais, revistas, redes sociais, etc) que ajuda e muito a divulgar o esporte.

Você gostaria de agradecer a alguém por estas suas conquistas que você teve nos últimos anos?

Meu agradecimento vai primeiramente a minha família, especialmente meu pai, minha tia (irmã dele), meus avós paternos que sempre estiveram comigo torcendo e apoiando. Também aproveito a oportunidade para agradecer aos meus patrocinadores Mitsubishi, Santa Constancia por acreditarem e apoiarem o automobilismo através de minha carreira no kart. A Megafitmex e a 100% Go Ahead por estarem ao meu lado no início de tudo. A mídia pelo trabalho de cobertura no esporte através do Portal Planet Kart e do portal Kart Amador SP.

A todos os organizadores de campeonatos de kart amador pois eles são responsáveis por manter a paixão pelo esporte acessa, mesmo quando o país, que tem 8 títulos mundiais da F1, não valoriza o esporte da maneira que deveria. Aos meus amigos, de dentro e fora das pistas. E a todos os que contribuiram de alguma maneira para que tudo isso fosse uma realidade hoje. Há muito mais por vir e farei questão de dividir as futuras conquistas com todos. Peço desculpas se não pude nomear a todos nessa resposta até por se tratar de muitos nomes que me ajudaram ao longo do tempo. Também agradeço ao blog por me disponibilizar esse espaço para contar um pouco de minha história.

Você tem um recado ou uma mensagem aos brasileiros que assim como você vivem no exterior e têm sonhos de obter sucesso em sua carreira?

Se você tem um sonho, independente se ele é financeiramente alto ou não, acredite nele. Lute por ele diariamente. Nenhum sonho se realizada da noite para o dia. Apesar de todas as dificuldades em um mundo difícil para aqueles que não são ouvintes eu me sinto realizado por todas as coisas que até hoje pude vivenciar além de me sentir motivado e preparado para o que ainda virá. O segredo da realização do sonho, ou do sucesso como prefira chamar, é o planejamento. Planejar, executar e colher os frutos. Esse é o ciclo. A 1 ano e meio atrás eu não imaginaria que estaria aqui hoje mas acreditei no sonho, planejei, executei e hoje estou colhendo os frutos.

Fonte: Martina nas Viagens

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