Desde sempre música foi uma das coisas que eu mais gostei na vida. Ao contrário do estereótipo de que toda pessoa com deficiência visual é boa para tocar algum instrumento, eu só sei apreciar as canções. Também sempre gostei de artes visuais, embora a falta de visualização perfeita me atrapalhe esse prazer quando não há audiodescrição. No Palau de la Música pude ver que essas artes que me encantam estão juntas. Um dos lugares mais emblemáticos do mundo em termos de casa de espetáculos e uma das construções mais ricas, coloridas e repletas de formas diferentes. Nesse clima de êxtase é que visitei esse lindo e histórico lugar.
Chegar até Palau de la Música não é uma tarefa fácil nem mesmo para quem enxerga. Há uma linha de metrô que deixa relativamente perto, mas é necessário fazer diversas curvas e atravessar ruas movimentadas sem sinalização adequada. Ainda assim, ir até lá é menos difícil do que saber como entrar no local.
As entradas não são sinalizadas corretamente, e muitas pessoas se perdem – inclusive eu e minha esposa Patrícia. A bilheteria é em uma das laterais e n;ao na parte central, mais que isso, a visita guiada – único modo de conhecer o Palau – inicia pela cafeteria, que por ser grande e não indicar por qual das entradas começa a visita, atrapalham se por acaso uma pessoa cega ou com baixa visão estivesse sozinha.Talvez por esse motivo, o valor do ingresso para pessoas com deficiência seja praticamente gratuito.
As visitas guiadas ocorrem em diferentes idiomas, cada um em horários específicos, e se por acaso o usuário chegar muito antes terá o desconforto de ter que esperar pela visita em seu idioma, e se chegar quando a visita na língua que gostaria de ouvir tiver começado, ou não verá tudo, ou perderá seu tempo tendo ido até lá. Não há indicação clara no site ou mesmo no local de que as visitas são em horários restritos e em idiomas diferentes. Assim, é um equivoco na acessibilidade para todo o público.
Depois de algum tempo aguardando, o que não foi um problema por nos proporcionar contemplar a beleza do lugar, a visita guiada começou. Todos que participavam foram acomodados na sala de ensaios, em um formato de auditório. Sentamos nas poltronas e assistimos a um vídeo institucional contando a história do Palau de la Música, assim como fazendo referência à vida da cidade e do arquiteto Muntaner, seu idealizador.
Alguns artistas deram seu depoimento sobre a emoção de se apresentar naquele majestoso ambiente. Alguns deles falavam em espanhol e outros em catalão, o que facilitava o entendimento, enquanto outros falavam em inglês. Todos eles tinham legendas, mas como as letras eram muito pequenas perdi parte das informações, como o depoimento e o nome dos músicos citados. Subimos até os demais andares onde havia a sala principal e a parte onde a plateia assiste aos espetáculos acima do palco, uma espécie de galerias superiores – ainda que tenham exatamente esse formato. Percebi que as escadas não tinham materiais antiderrapantes e para piorar era feitas de material de fácil derrapagem. Degraus com cores claras dificultaram minha movimentação, e podem ser um tanto perigosos. Existem elevadores, mas não os conheci e por isso não posso avaliar, mas não parecia haver em lugar algum adaptação para pessoas com deficiência física ou mobilidade reduzida.
Por outro lado, a narração do vídeo foi muito importante por realizar uma série de descrições detalhadas das diferentes salas do Palau. Não há audiodescrição, mas a guia que nos conduziu pelos diferentes ambientes foi muito eficiente e competente quanto a essa tarefa. Além de contar um pouco mais da história e dos artistas que passaram por ali, descreveu muito bem os detalhes dos vitrais, das esculturas e da iluminação da sala principal, o que me fez compreender e sentir toda a atmosfera de sensibilidade e riqueza artística.
Foi importante contar com essas descrições – ainda que seja feita por um audiodescritor – já que a visualidade da sala é tão fundamental que muitos dizem até que é um “deleite para os ouvidos e para os olhos”. O meu deleite veio apenas pelos ouvidos, e pelas palavras que me levaram a imaginar tudo aquilo que as demais pessoas viam.
Não há muitas salas para visitar, são apenas dois andares, bem como se caminha pouco pelos ambientes das salas, como é normal em museus e outros espaços culturais, talvez por se tratar de uma casa de espetáculos. Assim, a visita guiada é um tanto breve, com duração de no máximo meia hora, e mesmo sendo um ponto turístico muito visitado o tempo que se tem para apreciar é pequeno e logo somos conduzidos à saída.
Para quem gosta de música e artes visuais, o Palau de la Música Catalana é realmente um templo, já que além de terem passado por lá alguns dos mais importantes artistas do mundo, a beleza arquitetônica, dos vitrais e das esculturas são sensacionais. Falta apenas que existam algumas – não poucas – adaptações para haver acessibilidade plena. Quando e caso isso aconteça, além de belo, será um palácio acolhedor para todos.
Felipe Mianes no Palau de la Musica Catalana no centro da foto, próximo ao peitoril do mezanino. Veste camiseta azul clara com estampa, sob camisa xadrez preta com branco aberta, calça jeans e tênis branco. Ao fundo e na parte inferior se vê o palco e as cadeiras da plateia. Nas laterais três níveis de cadeiras distribuídas nos mezaninos do local. Vitrais ao redor de todo o Palau e detalhes esculpidos nas colunas internas que circundam o palco compõe o local. No alto um grande lustre de cristais em tons predominantes de amarelo e azul arremata o ambiente rico em arte.
Fonte: arteficienciavisual
Republicou isso em arte para invisuais.