Belo Horizonte tem lazer limitado para deficientes
Apenas quatro das 43 praças em Belo Horizonte que têm playground contam com brinquedos adaptados para crianças com algum tipo de deficiência física ou mental. Para os pais, a busca por espaços públicos que ofereçam lazer ou esporte aos filhos excepcionais é um desafio. Na maioria das vezes, os jovens ficam limitados às atividades dentro de casa ou nas escolas.
Sandra Batista Soares, 51 anos, é mãe de Breno Melo, um adolescente de 15 anos que tem paralisia cerebral. Ela afirma que sempre se aventura com o filho por parques e praças. “É um desafio. Enfrentamos muitas dificuldades, principalmente quanto à acessibilidade. Esses espaços não estão preparados para receber deficientes”, opina Sandra.
Para se ter uma ideia, na Regional Venda Nova, que concentra a maior quantidade de praças da capital (106), apenas 20% são consideradas adequadas para o acesso de deficientes. Na terça-feira, pela primeira vez, Sandra e Breno visitaram uma praça com brinquedos adaptados. A mãe se surpreendeu com a estrutura encontrada na Praça Floriano Peixoto, no Bairro Santa Efigênia, Região Centro-Sul da capital.
“Eu nunca tinha visto uma coisa assim, achei muito bom. O problema agora é só a distância, pois eu moro a mais de 30 minutos daqui. Todas as regiões deveriam ter espaços como esse”, sugere.
A Praça Floriano Peixoto foi o primeiro espaço público a ganhar brinquedos adaptados para deficientes físicos em BH. As obras de revitalização do local, feitas pela Unimed, custaram cerca de R$ 2 milhões. Entre os equipamentos instalados estão um balanço que permite encaixar a cadeira de rodas e até um painel com diferentes atividades para o desenvolvimento da coordenação motora. O lugar também ganhou diferenciais como o alargamento da calçada e um piso tátil para orientação dos cegos.
A falta de praças bem estruturadas faz com que pais lancem mão de outras alternativas para incentivar os filhos a praticar atividades físicas. A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Belo Horizonte (Apae-BH) atende a mais de 300 portadores de deficiência. Pelo menos uma vez por semana, eles participam de aulas de educação física na quadra da entidade.
Algumas crianças e adolescentes já se tornaram atletas. Como Roger Teixeira Mourão, 18 anos, que tem paralisia cerebral e joga bocha. “O maior benefício é social. Ele tem uma rotina com exercícios e fica muito feliz ao disputar campeonatos”, conta a mãe do aluno, Solange Teixeira.
As atividades em espaços fechados representam um avanço para o desenvolvimento dos deficientes, mas a inclusão de exercícios em locais públicos e abertos é considerada essencial pelos pais e especialistas. O professor Otávio Oswaldo Pignolato Filho trabalha há quase 20 anos com crianças excepcionais e conhece bem as dificuldades para levar os alunos a praças e parques. “Esse tipo atividade é fundamental para o desenvolvimento deles e a inclusão. Faço o possível para tirá-los da escola e levá-los para conhecer outros espaços. Mas a falta de brinquedos adaptados, de bebedouros ou até de um lugar com sombra impossibilita o avanço nessa área”, explica o educador.
Projeto de lei prevê mais brinquedos
A Câmara Municipal de Belo Horizonte aprovou em segundo turno, na semana passada, projeto de lei que prevê a instalação de brinquedos adaptados para crianças com deficiência em espaços públicos da capital. A ideia é que praças e parques recebam os equipamentos principalmente por meio de parcerias com empresas privadas. O texto deve seguir para sanção do prefeito este semestre.
O PL 482/2009, de autoria do vereador Leonardo Mattos (PV), determina que também sejam colocados equipamentos para meninas e meninos cegos, como tabuleiros e baralhos táteis, conforme os padrões da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). “Crianças retraídas pelas limitações poderão brincar com liberdade em perfeita harmonia com as outras. O resultado será um efeito biológico e psíquico positivo”, explica o vereador.
A notícia da aprovação da lei foi comemorada por pais de menores deficientes. “Meu filho passa quase todo o dia dentro de casa ou na Apae. Esses espaços podem colaborar para a socialização dele. Não é somente uma questão física”, afirma Sandra Batista, mãe de Breno. O projeto propõe que todos os espaços públicos sejam revitalizados e, para isso, incentiva parcerias entre a prefeitura e empresas que aceitem financiar as obras. A conservação observada na Praça Floriano Peixoto é um dos motivos que impulsionam essas iniciativas.
“Todo mundo que vem aqui tem um certo cuidado com o lugar. É raro vermos algo tão arrumado. Então temos que preservar”, conta a aposentada Maria Hermínia Gomes, que caminha diariamente pelo local.
Para manter a estrutura, foi criada a Rede de Amigos da praça, que conta com a participação de moradores e comerciantes do Bairro Santa Efigênia. Eles se mobilizam em mutirões para limpar o espaço e fazem campanhas de conscientização sobre o uso correto dos brinquedos.
Prática de exercícios de graça
A Prefeitura de Belo Horizonte oferece duas opções para deficientes que querem praticar esportes: as Academias da Cidade e o Programa Superar. No total, os 18 espaços destinados às atividades físicas atendem a mais de 500 pessoas. Apenas duas das 20 Academias da Cidade não estão completamente adaptadas para atender pessoas com algum tipo de deficiência. Para este público, há horários especiais e atendimento individualizado.
“São locais voltados mais para quem quer se exercitar por uma questão de saúde. Em alguns, até crianças podem participar”, explica o responsável pela Coordenadoria Municipal dos Direitos das Pessoas com Deficiência, José Carlos Dias Filho.
Já o Programa Superar oferece dois espaços com quadras e piscinas para que os deficientes pratiquem modalidades esportivas como futsal, handebol, natação, judô, patinação, tênis de mesa e vôlei paraolímpico. Segundo José Carlos, muitos dos que aderem à iniciativa se tornam atletas. Eles contam com o apoio técnico oferecido por instrutores.
Ainda assim, o coordenador assume que oferecer espaços de lazer para portadores de deficiência é um grande desafio. Principalmente levando-se em conta os problemas de acessibilidade. “É um processo que segue o ritmo das políticas públicas. O que acelera isso é a cobrança da sociedade. Mas avançamos muito nos últimos 10 anos”, afirma. Desde 2005, todas as obras realizadas pela prefeitura seguem regras para garantir o acesso de deficientes físicos. O problema é adaptar as construções mais antigas.
“É preciso mudar uma concepção. Não adianta só melhorar as praças, se as calçadas de comércios ou prédios próximos ao local não forem adaptados”, explica o coordenador.
Fonte: BHLegal
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“As obras de revitalização do local, feitas pela Unimed, ” ou seja… poder público que é bom, nada. O pior é que no fim das contas, eles é que levam a fama de terem feito as praças quando na verdade não foi isso que aconteceu.
Marcos,
Você mora aqui em Belo Horizonte, também??? Porque eu sou portadora de deficiência física e moro em Belo Horizonte… 🙂
É bom saber quem realmente faz acontecer. Espero em breve estar trabalhando a capital miineira para receber pessoas com deficiência.
“Quanto às praças é indecente o descaso para conosco (os portadores de deficiência física), toda hora esbarramos em obstáculos físicos ou morais (preconceito). A única opção de diversão aqui em Belo Horizonte, na minha opinião, é o Chevrolet Hall, no qual são feitos shows para todos os gostos. ADORO o deputado Leonardo Mattos, encontrei com ele no dia da votação (ele vota na mesma escola que eu voto! E foi ele quem me falou da cadeira “tilite”). ADOREI você escrever sobre Belo Horizonte, viu Ricardo?!”
Um adendo: ““É preciso mudar uma concepção. Não adianta só melhorar as praças, se as calçadas de comércios ou prédios próximos ao local não forem adaptados”, explica o coordenador.” Concordo em gênero, grau, nº e pessoa com o coordenador, mas como fazer se a própria Prefeitura de Belo Horizonte impede a construção das rampas extendidas para os passeios? No caso do meu prédio foi isso que aconteceu com o projeto, que esbarrou na buRRocracia da Prefeitura de BH. Enfim… o que fazer, né? Resignação + tolerância + paciência = sobrevivência urbana. 🙂 Abraços, Mônica.