Atleta paralímpico pede mais acessibilidade no carnaval
O Rio de Janeiro é belo, o carnaval cada vez mais democratizado com o retorno dos desfiles de rua e a consequente proliferação de blocos por toda a cidade. Mas, para uma cidade que acabou de sediar os jogos paralímpicos, há ainda muito a se fazer para que as pessoas com deficiência possam curti-lo em sua plenitude.
Essa é a visão do ex-atleta paralímpico do Brasil Sandoval Silva, de 41 anos, que esteve em três edições dos jogos paralímpicos, duas como atleta e uma como convidado: Atenas (2004), Pequim (2008) e Londres (2012).
Ex-integrante da equipe brasileira de Basquete em cadeiras de rodas, o ex-atleta pode ser visto na manhã de hoje (26), no desfile do Bloco Boitatá, na Praça 15, em companhia da mulher Paula Costa, também portadora de deficiência.
Nascido em Recife, Pernambuco, e portador de deficiência desde bebê, em decorrência de uma paralisia infantil, Silva adora carnaval e todos os anos sai em blocos para se divertir. Ontem, por exemplo, esteve no MultiBloco, que arrastou milhares de pessoas pelas ruas da Lapa, no centro do Rio.
“Apesar dos problemas, eu sempre brinquei o carnaval, Estou no Rio há dez anos, sou cadeirante desde os três meses, mas isso não me impede de gostar do carnaval. Nesse sentido, a volta do carnaval de rua foi muito importante, pois democratiza a festa e permite que todos brinquem o carnaval”, disse à Agência Brasil.
Para ele, antes do retorno da tradição dos grandes blocos de rua e do crescimento de outros, como a Banda de Ipanema, o Monobloco, o Simpatia é quase amor e o tradicional Cordão da Bola Preta “a festa era muito elitizada”, restrita e em geral relegada a clubes e escolas de samba.
“Hoje, com a volta dos grandes blocos e, consequentemente, do carnaval de rua todos podem participar da festa, “pobre, rico [todos]. A mistura e a democratização tornaram a festa melhor e mais acessível. É só chegar e brincar”, disse.
Para Sandoval Silva, as dificuldades existem, mas podem e devem ser superadas. Para ele, apesar do Brasil acabar de ter sediado os jogos paralímpicos, pouca coisa mudou no país do ponto de vista da acessibilidade, e as dificuldades continuam praticamente as mesmas.
Maquiagem
Para ele, no entanto, o problema não é exclusividade do Brasil, e é maquiado em maior ou menor proporção, dependendo da localização. “A maquiagem não é uma exclusividade do Brasil. Eu fui para Atenas e Pequim como atleta paralímpico, mas também fui para Londres como convidado, e o que se viu aqui aconteceu também naqueles países. É tudo maquiado, a mesma coisa. Nos pontos turísticos uma beleza, fora deles nada”, protestou.
“Integrei a seleção brasileira durante dez anos, Defendi o país em Atenas e Pequim e fui convidado em Londres, onde achei que o trabalho, do ponto de vista da acessibilidade, foi o mais bem desenvolvido. Mas ainda assim ficou devendo em algumas coisas. Nós somos carentes em tudo. A acessibilidade é algo que todo mundo busca, e em alguns países você até consegue andar melhor, mas só nos lugares mais frequentado”, disse.
Para a companheira Paula Costa – também com necessidade especial –, não dá para afirmar que o Rio não tenha melhorado do ponto de vista da acessibilidade, em decorrência dos jogos. “Mas ainda há muito a se fazer, e também aqui – como em outros países – o problema da maquiagem se fez presente. É preciso um pouco mais de sensibilidade e atenção para a questão”, acrescentou.
“Sofri um acidente aos 21 anos, fui atropelada e tive que amputar o braço. Deste então, trabalho com pessoas com deficiência. O que parece, para nós com algum tipo de dificuldade de locomoção, é que a cidade é preparada para o comércio, os carrinhos com mercadorias, caminhões de carga. Ontem, por exemplo, ao seguirmos o MultiBloco, tivemos que andar praticamente todo o tempo pelo meio da rua, por falta de rampas de acesso”, protestou.
Paula também ressaltou que “os organizadores dos jogos do Rio se preocuparam em maquiar as áreas em que os jogos aconteceram. O Boulevard Olímpico, por exemplo, ficou maravilhoso do ponto de vista da acessibilidade. A Barra da Tijuca, onde estava a Vila dos Atletas e o Estádio Olímpico ficaram uma beleza, mas as pessoas têm que entender que o deficiente também tem dinheiro e quer ir e vir a lugares, se divertir”.
Andef
Atualmente, os dois se dedicam a trabalhar com pessoas deficientes. São ligados à Associação Niteroiense de Deficientes Físicos (Andef), onde, inclusive, Sandoval continua atuando como atleta paralímpico ,no time de basquete em cadeiras de roda da associação.
Fundada em 1981, a Andef foi o primeiro centro de treinamento paralimpico construído no Brasil, e é considerada uma das maiores entidades de treinamento de pessoas com deficiência no Brasil e no mundo. Emprega mais de 800 pessoas e treina atletas paralímpicos de destaque nacional e internacional.
Além disso, desenvolve atividades comumitárias em São Gonçalo, no Grande Rio, que beneficiam mais de 7 mil pessoas por ano. Totalmente autossustentável desde 1989, segundo a página da própria associação, gera os recursos para a manutenção de todas as suas atividades.
Fonte: EBC
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