Alpinista Americano cego, alcança o topo do mundo
Ao alcançar o topo do Monte Kosciusko, na Austrália, em 2002, o americano Erik Weihenmayer completava um esforço de sete anos para alcançar os Sete Cumes – as montanhas mais altas de cada continente, incluindo o Everest, na fronteira entre a China e o Nepal, o ponto mais alto do mundo, com 8 850 metros. Não era um feito inédito – dezenas de alpinistas já cumpriram o mesmo roteiro. Mesmo assim, Weihenmayer é um pioneiro: foi o primeiro cego a realizar esse feito. Superou barreiras que se julgavam impossíveis para um deficiente visual – como a escalada de paredões de gelo. Parte dessa experiência está narrada em um livro recém-lançado no Brasil, “As Vantagens da Adversidade”.
Parceria de Weihenmayer com o guru empresarial Paul Stoltz, a obra utiliza as experiências do alpinista como exemplo de técnica de superação da adversidade no dia-a-dia, especialmente no trabalho. Em entrevista a VEJA, por telefone, de sua casa no estado do Colorado, Weihenmayer mostrou-se fiel ao espírito de auto-ajuda do livro. “Todas as pessoas têm, dentro delas, alguma coisa que as faz responder à adversidade – algo que eu, na falta de palavra melhor, chamo de luz. É por isso que a adversidade pode nos tornar melhores e mais fortes”, diz.
“Luz” é talvez uma palavra inusitada no vocabulário de um cego. Weihenmayer, porém, se vale de outros conceitos surpreendentes – ele diz que é, sim, capaz de apreciar o cenário que se descortina na árdua subida de uma montanha, tateando as rochas, palmilhando o terreno e escutando as diferenças no som à medida que o ar fica mais rarefeito com a altura. “É todo um cenário não-visual”, diz. E esses cenários sem luz são diferentes de uma montanha para outra.
O Aconcágua, nos Andes argentinos, o ponto culminante das Américas, é rochoso, com pouca neve, mas muito vento e pó. Em contraste, o Monte McKinley, no Alasca, é úmido e muito, muito frio. De todos os sete picos, foi o mais difícil para Weihenmayer – pela circunstância de ter sido o primeiro. “Eu não sabia que uma escalada podia ser tão sofrida”, diz o alpinista. Weihenmayer perdeu mais de 10 quilos e voltou com queimaduras do sol e do vento no rosto.
Hoje com 39 anos, Erik Weihenmayer tinha 13 anos quando ficou completamente cego, em decorrência de uma moléstia degenerativa da retina. Alguns anos depois, participou de um fim de semana de escaladas promovido por uma associação de apoio a deficientes visuais – e logo se apaixonou pelo esporte. Descobriu que, ao subir um paredão de rocha, poderia usar suas mãos para “ver”, apalpando fissuras e saliências. Ao longo dos anos, Weihenmayer e seus colegas de equipe foram aprimorando técnicas especiais para superar os entraves da falta de visão.
Um sistema especial de sinais e de comunicação por rádio foi desenvolvido para que o aventureiro cego pudesse descer o Elbro – o monte mais alto da Europa, na Rússia – de esquis. O mais complicado foi a técnica para subir paredões de gelo, essencial na conquista do Everest e do maciço de Vinson, na Antártica. O alpinista usa uma espécie de picareta de gelo para buscar pontos nos quais se fixar. É uma empreitada delicada: bater com essa ferramenta no ponto errado pode resultar no deslocamento de blocos de gelo capazes de esmagar quem se encontra abaixo. Weihenmayer aprendeu a usar o cabo da picareta como uma bengala de cego, “cutucando” o gelo e avaliando sua segurança pela vibração produzida.
Os feitos de Weihenmayer têm se revelado inspiradores para os que, como ele, sofrem de deficiência visual. Não por acaso, os cerca de 300 000 dólares de sua excursão ao Everest, em 2001, foram patrocinados pelo National Federation of the Blind, organização americana que se dedica a melhorar a condição dos cegos. O alpinista também tem servido, em diferentes ocasiões, como tutor para jovens cegos que desejam ganhar as alturas – em 2004, levou um grupo de seis garotos tibetanos cegos em uma subida parcial do Everest, até a altura de 6.500 metros.
Inquieto, Weihenmayer não quer parar só nos Sete Cumes. Para este mês, tem planejada a escalada do formidável monte de Nova Guiné, a Pirâmide de Carstensz (muitos alpinistas dizem que esse, e não o Monte Kosciusko, é o verdadeiro sétimo cume). Para Weihenmayer, o único inconveniente de sua vida de aventuras é o tempo que ele passa longe da família – mulher e um casal de filhos (o mais novo é um garoto do Nepal, adotado há poucos meses). Mas ele não deseja parar. “Enquanto eu tiver saúde, vou continuar escalando montanhas. Quem sabe um dia o meu filho não me acompanhe, carregando a mochila para mim”, diz.
Para conhecer melhor a trajetória de Erik Weihenmayer , com suas histórias, fotos, vídeos e outras informações, visite o site Touch The Top
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=QgsBTW1MtCI]
Fonte: Veja
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