Acesso à praia para pessoas com deficiência. Como vencer os obstáculos da natureza.

Man climbs CN Tower steps in wheelchair

Escrito por Ricardo Shimosakai

8 de julho de 2022

Acesso à praia. As praias são um dos atrativos brasileiros mais procurados por turistas de todo o tipo. É como se fosse um imenso parque natural gratuito, isso facilita que uma quantidade grande de pessoas frequente. Mas nem todas as praias possuem acessibilidade, na verdade, o Brasil tem 7.491 quilômetros de litoral, e poucos pontos tem acessibilidade.

Lugares que ainda não tenham sido modificados, que preservem a natureza original, também podem oferecer obstáculos naturais como pedras e plantas, e com isso não dá para culpar a natureza pela falta de acessibilidade. Existem cadeiras adaptadas para aventura, utilizadas para explorar montanhas e ambientes naturais que apresentem uma acessibilidade dificultada, inclusive em Roma utilizam para visitar ruinas em locais históricos tombados.

Mas parte dessa extensão imensa, já tem a intervenção do homem e foi adaptado para a visitação, onde o mato já foi retirado, caminhos foram abertos, chegando criar uma infraestrutura enorme, onde você encontra restaurantes, postos de salva-vidas, vendedores ambulantes, e tudo isso acaba contribuindo para a acessibilidade.

Mas uma das grandes dificuldades da praia, é o acesso pela areia. Uma cadeira de rodas não consegue caminhar pela areia, dependendo da consistência dela. A areia seca e fofa faz a roda atolar, principalmente a roda da cadeira de rodas que é estreia e com isso entra com mais facilidade por entre os grãos de areia. Mesmo sendo auxiliado, a tarefa de caminhar pela areia é difícil e pesada.

Mas eu já conheci praias onde a areia era mais úmida e compacta, e daí tinha firmeza para que a cadeira de rodas pudesse caminhar. Em Santos, no litoral paulista, eu consegui empurrar a cadeira de rodas sozinho. Foram criados alguns tipos de acessórios para dar condições de acesso, e pensando em vencer a areia fofa, foi desenvolvido uma espécie de esteira móvel, colocada por cima da areia, criando um tipo de passarela. Ela é maleável suficiente para que depois de usada, possa ser enrolada e guardada, pois esse equipamento é montado em locais onde há programas de praia acessível, que funcionam em locais, datas e horários específicos. Em uma outra praia do nordeste, ao invés de esteira, eu vi telas de plástico rígidas, em formatos quadrados, que alinhadas uma em seguida à outra, criavam um caminho.

As cadeiras anfíbias também são uma outra opção. A estrutura dela é feita com rodas infláveis grandes, para que não atolem na areia e sirvam como flutuadores para entrar na água. Mas esse equipamento necessita de alguém que te empurre pela areia e entre com você na água. Em Barcelona na Espanha, eu conheci uma estrutura de acessibilidade à praia, construída de forma permanente, onde havia passarelas de madeira na areia, e banheiros acessíveis amplos, que serviam como vestiários acessíveis para fazer a troca de roupa e tomar banho.

No Jardim Atlântico Resort em Ilhéus na Bahia, havia na parte de trás, um caminho para a praia. Porém, quando a parte pavimentada do hotel acabava, começava uma parte de areia fofa, e daí acabava também a possibilidade de acesso por um cadeirante, porque não havia cadeira anfíbia nem funcionários de apoio. Não acho a cadeira anfíbia a melhor opção, pois ela não oferece independência, por isso uma passarela permanente é bem melhor. Mais para a frente, a areia se tornava naquele tipo úmida e compacta, onde seria possível caminhar com a cadeira de rodas. Então se o hotel construísse uma passarela permanente nessa faixa de areia fofa, eu teria um bom acesso à praia de forma independente. Uma iniciativa simples, barata e de rápida execução que auxiliaria outras pessoas também, como idosos com dificuldade de locomoção.

O conceito de Acessibilidade Funcional que eu ensino em meus cursos e treinamentos e aplico em meus projetos e consultorias, é bastante esse caso apresentado. Muitas vezes a acessibilidade não é uma coisa complicada de se realizar, mas é preciso conhecimento. E digo que um conhecimento prático, pois conhecimento em leis e normas podem não funcionar ou não dar a melhor opção, como nesse caso da praia, pois não existe normas de praia acessível, e as leis que exigem a inclusão não especificam o que se deve fazer.

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