Cada vez mais, em anúncios, em folhetos, em sites, e até em nosso diretório de hotéis vemos várias vezes a palavra “acessibilidade” ou “apartamentos adaptados para deficientes físicos”, ou placas sobre assunto em pontos turísticos. Segundo a legislação brasileira todos os hotéis devem possuir apartamentos adaptados e promover a acessibilidade em todas as suas áreas. Mas isso na prática acontece? Ou é apenas uma frase para atrair mais uma fatia de mercado?

Intrigados com essa questão a revista Segue Viagem procurou um dos maiores especialistas sobre o assunto no país para saber o que acontece na prática. Afinal, Ricardo Shimosakai, é Diretor da organização Turismo Adaptado, que trabalha para garantir a acessibilidade e inclusão das pessoas com deficiência e mobilidade reduzida no lazer e turismo.

Em 2010 passou a atuar como uma agência de viagens, oferecendo pacotes turísticos com infraestrutura para a pessoa com deficiência. Pela necessidade do próprio mercado, também atua como uma operadora, elaborando programas turísticos no Brasil, identificando a acessibilidade nos produtos e serviços turísticos.

Atento à questão da informação, Ricardo ministra palestras, cursos e capacitações, além de elaborar projetos e campanhas. E ele dá um parecer ainda tímido sobre o panorama brasileiro nessa área.

“No Brasil não há muitas pesquisas em relação à acessibilidade na hotelaria”, diz Ricardo. “Aqui existem 24,5 milhões de pessoas com deficiência (14.5% dapopulação), sendo 4% do total mundial que é de 600 milhões. É um número relativamente grade de pessoas, que tem muito potencial a ser explorado”.

“Para se ter uma idéia, americanos adultos com deficiência gastam uma média de US$ 4,2 bilhões em hotéis por ano. E nossos turistas? Estão gastando por aqui?”, Ricardo deixa a questão no ar. Bacharel em Turismo pela Universidade Anhembi Morumbi/Laureate International Universities, Ricardo ficou paraplégico depois de ter levado um tiro em 2001 num sequestro relâmpago.

Apesar do ocorrido, Ricardo queria retornar às suas viagens que sempre lhe trouxeram muito momentos de prazer. A partir daí começou sua luta, e a vontade de espalhar esse prazer a todos. Assim nasceu a Turismo Adaptado.

A empresa realiza eventos unindo o turismo e a acessibilidade, como o Workshop “Acessibilidade e inclusão aplicadas ao lazer e turismo”, em parceria com a empresa DUCA – Desenho Universal Consultoria em Acessibilidade, empresa especializada em acessibilidade arquitetônica, que acontece nos próximos dias 18 e 19 de junho. O evento marcará oficialmente o início da parceria das empresas, que nasceu com o objetivo e a missão de atender o mercado no atendimento, criação e segurança, sempre com um olhar sensível à diversidade humana.

Hotelaria

Segundo Ricardo, muitos hotéis dizem que possuem facilidades de acessibilidade, mas quando ele chega lá com sua cadeira, a realidade não é bem essa. “Alguns hotéis querem oferecer o serviço, mas não foram corretamente orientados para as adaptações. Para as pessoas com deficiência física, por exemplo, uma coisa importante que poucos hotéis possuem é uma boa cadeira de banho. Muitas coisas devem ser adequadas, mas geralmente os hotéis colocam somente o básico, que julgam suficiente, o que não é a realidade. É preciso se informar antes de ir para o local”, reforça ele.

“No caso da deficiência visual, dificilmente os hotéis tem uma boa preparação, e para a deficiência auditiva pior ainda. A verdade é que temos que nos virar para saber superar essas dificuldade, e quem não sabe fazer isso, acaba não viajando”, lamenta Ricardo.

Mas nem tudo está perdido. Segundo ele, algumas cidades brasileiras já estão cheias de bons exemplos.“São Paulo ainda é a cidade mais acessível do Brasil, apesar de ainda ter muita coisa a se fazer. Ela oferece diversas oportunidades, inclusive na hotelaria. Meu hotel favorito no quesito condições de acessibilidade é o Parque dos Sonhos em Socorro (SP) e o Villa Bella em Gramado (RS)”.

O Diretório da TREND Operadora traz mais de 100 hotéis com acessibilidade para deficientes, físicos, visuais e auditivos. O Novotel Jaraguá na capital São Paulo possui todos os parâmetros que os hotéis acessíveis devem ter, sendo um dos melhores na categoria. Com 14 apartamentos adaptados, são 12 para deficientes físicos, um para visuais e um para auditivos. Os deficientes visuais recebem um quarto com identificação na porta e cardápio em Braille e piso frio que permite a circulação de cão-guia. Os deficientes auditivos têm luminoso para avisar quando toca a campainha e o telefone (incluindo no banheiro) e TV com legendas. Os deficientes físicos têm quartos com medidas especiais para cadeirantes, menos móveis para facilitar a circulação, barras de ferro com assento especial no vaso sanitário e cadeira plástica no banheiro. No hotel os banheiros também são adaptados, assim como computadores para a internet. Seus funcionários foram treinados para trabalhar corretamente com esse público.

No Rio de Janeiro a melhor opção é o Hotel Novo Mundo no Flamengo. Os dois elevadores têm painel sinalizado em Braille e sonorização. Possui três quartos adaptados, sendo dois na categoria executiva e um na econômica, com piso laminado de madeira, boa área de circulação e puxadores nos cabides. O banheiro tem porta larga de correr. No hotel a área de eventos tem sanitário adaptado. Na capital do país, Brasília, destaca-se o Hotel St. Peter com 16 apartamentos adaptados para cadeirantes e deficientes visuais, com barras de apoio, cardápios e lista de ramais em Braille.

Esta matéria foi escrita pela equipe da revista Segue Viagem, que faz parte do grupo da Trend Operadora, para a edição de junho/julho de 2011

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