Ricardo Shimosakai é uma daquelas pessoas que se recusam que sua deficiência seja uma barreira para a sua realização pessoal. Apaixonado por viagens, no Brasil ou no exterior, ele viaja em uma cadeira de rodas desde 2001, quando um acidente privou o movimento de suas pernas. Embora um número crescente de pessoas com deficiência lhe pedem conselhos de viagem, Ricardo percebe que há uma carência de especialistas em turismo acessível no Brasil. Ele então começou os estudos de turismo e fundou sua própria agência, desde então se tornou uma referência de turismo acessível no Brasil.

Você acha que o Rio está pronto para os Jogos Paraolímpicos de 2016?

Rio tem sido considerado um desastre em termos de acessibilidade. Em minha opinião, a situação vai melhorar muito. O comitê que organiza os jogos dispões de pessoal especializado, capaz de avaliar as necessidades e emergências alvo. Isso vai permitir que a cidade a fim de evitar um novo desastre como os Jogos Pan-Americanos de 2007, para o qual nenhum esforço foi feito em termos de acessibilidade.
No entanto, grandes eventos, como os Jogos Olímpicos se concentram em aspectos específicos que nem sempre são suficientes para transformar uma cidade inteira.Durante a Copa do Mundo, por exemplo, estádios e transportes públicos para o estádio foram adaptados.Mas nada foi feito na rede de ônibus.

Marie-Odile durante a sua viagem para Bonito, no Mato Grosso

Marie-Odile durante a sua viagem para Bonito, no Mato Grosso

Quais destinos você recomendaria para o turista com deficiência?

Esta questão é curiosa porque as pessoas pensam que a acessibilidade se resume a um elevador e uma rampa, e não é nada disso.
Eu sempre recomendo Bonito, no Mato Grosso do Sul (nota: Bonito, como o nome sugere, é um destino maravilhoso com parques, lagos e incrível caminhadas). Em Bonito, não há nenhuma infraestrutura especial, as visitas são realizadas no meio da natureza, onde não há rampa ou elevador. Mas os guias de turismo são muito bem treinados e isso permite que as pessoas com deficiência experimentem uma experiência única na natureza.Marie-Odile, por exemplo, ficou muito emocionada quando ela descobriu Bonito.

Como você vê o turismo acessível no Brasil?

Para mim, é preciso primeiro mudar a abordagem que têm as autoridades de acessibilidade. Isto não se trata apenas de dotar o Brasil de uma infraestrutura adequada, mas é necessário formar profissionais de turismo e desenvolver o lado do serviço.
Dito isto, o progresso pode ser observado, embora eu gostaria que o progresso fosse mais evidente. 45 milhões de pessoas são deficientes no Brasil, mas representam apenas uma pequena parte de turistas no Brasil, em sua maioria estrangeiros. Gostaria que o turismo acessível no Brasil também seja generalizado para os brasileiros.

Que dificuldades encontra no turismo acessível?

Temos um problema de formação. O setor do turismo brasileiro precisa aprender mais sobre a acessibilidade, eu percebi durante os meus estudos.
Felizmente, o Brasil tem muitas agências de viagens estrangeira que entendem do assunto e facilitam as coisas, mas ainda temos um longo caminho a percorrer com os brasileiros.

A equipe treinada é um ativo valioso para viagens acessíveis.A equipe treinada é um ativo valioso para viagens acessíveis.

Quais são os próximos passos do seu trabalho Ricardo?

Acessibilidade não é estática. É possível que um lugar seja acessível a pessoas com deficiência e não para outra. Um hotel pode ter uma rampa, mas não ter uma cadeira de banho, e isso será suficiente para alguns, mas não para todos. Para recomendar algo aqui, devemos estar muito familiarizado com o mercado, hotéis, monumentos. É por isso que eu quero criar um selo inspirado pelo selo francês “Turismo e Handicap” no Brasil. Trata-se de um srço que indica em detalhes as características de cada estabelecimento, para que cada um possa entender se o local está ou não acessível para ele.

Fonte: Ça Roule Chez Comptoir

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