Acessibilidade na hotelaria: um degrau que não deveria existir

por | 19 fev, 2014 | Turismo Adaptado | 0 Comentários

Segundo o Censo de 2010 do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas, existem 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência no Brasil. É um número muito considerável e em sua grande maioria formada pela “guerra do trânsito ou violência urbana das grandes cidades” que incapacita milhares todos os anos. A pergunta que fica é o que os hotéis no Brasil estão fazendo para melhorar a acessibilidade deste público, que em muitos casos dispõem de uma ótima renda, com boa cultura, dispõe de tempo e que tem hábitos de viagens?

Um público desta ordem representa uma parcela significativa de hóspedes. Por que não atende-los? O hotel só tem a ganhar. Aumenta sua taxa de ocupação, amplia seu marketing, seduz público adjacente e aumenta sua renda. Onde estão os estrategistas comerciais e os marqueteiros de plantão nos hotéis que ainda não pensaram nisto? Se eles se vangloriam dos serviços prestados pelo seu hotel deveriam fazer um bom teste bem simples. Sentem numa cadeira de rodas e procurem se locomover em todos os ambientes para ver quantos degraus fazem a diferença ou mesmo a dificuldade de se utilizar um banheiro. Certamente depois deste teste eles iriam rever radicalmente os conceitos de bons serviços.

A maioria absoluta dos hotéis brasileiros ainda não s conscientizou da importância que é adequar o empreendimento para atender este público, seja ele cadeirante, cego, surdo, mudo ou mesmo uma pessoa com problema de locomoção na terceira idade. Para atender a legislação e tentar agradar aos hospedes, a grande maioria dos hotéis reservam uma pequena parte do numero de apartamentos para deficientes, colocam algumas barras de apoio no banheiro e acreditam que o problema está resolvido. Uma unidade habitacional não fica acessível e dentro da lei por ter um banheiro adaptado apenas.

Outras condições são necessárias. Um alarme de emergência nos banheiros se faz tão importante quanto uma boa barra de apoio. Na Europa, por exemplo, todos os banheiros têm alarme, independente de serem apropriados para deficientes ou não. Da mesma forma, um mapa de rota de fuga em caso de emergência deve ser aplicado e deve ser um mapa acessível a todos os tipos de publico como idosos, cegos, cadeirantes, etc. Ainda da mesma forma as portas das unidades habitacionais devem ser identificadas com placas com leituras em relevo e Braille, independente destas regras, a hotelaria deve-se lembrar das demais exigências normativas das edificações como rampas, elevadores, plataformas, balcões, entre outros.

Não adianta um hotel ter uma piscina linda e maravilhosa, um restaurante de culinária padrão internacional ou várias áreas comuns com muito entretenimento, mas que impedem a acessibilidade de um portador de deficiência. Para a psicóloga Valeria Milhare que é docente, palestrante na área de acessibilidade e atua também junto às famílias de pessoas com deficiência, a hotelaria deve incorporar os requisitos de acessibilidade para que todos possam frequentar o mesmo espaço, com dignidade e tranquilidade.

“Deve-se salientar ainda a importância que todos os produtos, equipamentos, ambientes e meios de comunicação sejam concebidos sobre o ponto de vista do Desenho Universal, que recomenda que tudo deve ser utilizado por todos, o maior tempo possível, sem necessidade de adaptação, beneficiando pessoas de todas as idades e capacidades e consequentemente a uma vida independente. Seguindo esse parâmetro especificamente na hotelaria, se todos os quartos e demais dependências contarem com este aspecto, o que significa portas amplas, acessos nivelados sem degraus e outras facilidades que valorizam o uso sem esforço, que sejam seguros e com simples e modernos ajustes, estará valorizando significativamente a qualidade de vida para todas as pessoas. Isto permite a convivência e a interação entre diferentes, o que traduz um direito humano o qual objetiva a equidade de oportunidades e que é condição necessária para que ocorra a inclusão de fato”, destaca Valéria.

Fiscalização é falha

E muitas vezes omissa, mas é a que garante acessibilidade aos portadores de deficiências através da Lei Federal de número 5296/04, e compete ao poder público certificar instalações relativas à acessibilidade. O mercado enfrenta a ausência de ações destinadas à acessibilidade, e poucas atitudes são tomadas para a inclusão de indivíduos com algum tipo de deficiência ou mobilidade.

Pelo fato do Brasil receber inúmeros grandes eventos nos próximos anos, como a Copa do Mundo, Olimpíadas, Jogos Militares, entre outros eventos que atrairão inúmeros turistas, o mercado hoteleiro ficou ainda mais aquecido, resultando no surgimento de inúmeros projetos para a viabilização de novos hotéis em regiões estratégicas. Muitos desses projetos foram viabilizados por engenheiros e arquitetos de renome, porém, que possuem conhecimentos básicos quando o assunto é a acessibilidade. Além disso, outra grande questão que influencia neste assunto, está a falta de fiscalização da população e do Estado, junto aos novos projetos que estão sendo executados atualmente.

Na visão de Ricardo Shimosakai, Diretor Presidente da Organização Turismo Adaptado, a primeira falha na elaboração de um projeto hoteleiro é a falta de visão empreendedora para a acessibilidade, além da carência de bons profissionais para a execução desses projetos. “Diversos profissionais como arquitetos e engenheiros, se julgam bons conhecedores de acessibilidade, porém na maior parte das vezes esse conhecimento é básico. Por isso é aconselhável chamar um profissional especializado, para que o resultado seja satisfatório. Às vezes também são chamadas instituições ligadas à pessoa com deficiência para dar uma consultoria, mas por não conhecerem os ambientes e operações específicas da hotelaria, também podem realizar um serviço inadequado. Quem não vivencia ou estuda a acessibilidade, dificilmente tem uma boa compreensão das necessidades envolvidas, e também das soluções mais apropriadas. Nessa área também é preciso estar atualizado, pois novos conceitos, produtos e tecnologias surgem constantemente, e quem não acompanha esse movimento, corre o risco de realizar ações ultrapassadas”, avalia Shimosakai.

A organização Turismo Adaptado desenvolve atualmente o Programa Acessibilidade na Hotelaria, onde eles realizam um planejamento aprofundado do meio de hospedagem que tem a intenção de se tornar adaptado para esse público. No programa é analisado o projeto arquitetônico, a inclusão de equipamentos tecnológicos que auxiliem os deficientes, além de orientar as melhores formas de atendimento a esta demanda. Após completado este programa, o empreendimento recebe uma certificação de acessibilidade, além de fazer parte dos serviços de agenciamento de viagens acessíveis da empresa.

Este texto é parte da matéria publicada na revista Hotéis, Ano XII, número 129, Janeiro de 2014, páginas 141 à 145. Editora Ejota.

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