A acessibilidade de um ambiente só costuma ser notada depois que o espectador passa a precisar dela. A falta de rampas, de corrimãos firmes e de uma boa sinalização diminuíram a pontuação de muitos espaços e contribuiu para que apenas um cinema —o Villa-Lobos Cinemark— entrasse no pódio dos mais acessíveis.

Em muitas das salas, cadeirantes podem sofrer por já ter um assento predeterminado, sem ter a chance de escolher o lugar que julgam perfeito para se acomodar. Pessoas com problemas de visão raramente são lembradas. Exibidores esquecem-se de que o cinema não é apenas o prazer dos olhos.

Em meio às falhas, o Villa-Lobos Cinemark se destaca pela qualidade em imagem e som e por preencher quesitos básicos como rampas de acesso, por sinalizar bem lugares para cadeirantes, pelos corrimãos firmes e por possuir piso tátil.

Contradições ainda fazem parte do cotidiano de absolutamente todos os espaços —inclusive o do Villa-Lobos. Apesar do piso tátil, nenhum cinema possui sistemas braile, começando pela programação até a escolha de assentos marcados.

Após as visitas, a impressão que fica é que os cinemas buscam apenas cumprir leis ao separar espaços para cadeirantes ou colocar corrimãos dentro das salas. O conforto de idosos que preferem assentos mais elevados, mas só conseguem subir com um apoio, ou de cadeirantes que preferem lugares que não sejam grudados à tela muitas vezes não são levados em conta.

Inclusivos, “pero no mucho.”

DEPOIMENTO

Em abril, minha frequência nos cinemas é maior do que em todos os outros 11 meses do ano —são pelos menos dez filmes assistidos.

Isso porque este é o mês em que as melhores obras exibidas no ano anterior (escolhidas por voto popular) são reprisadas no Festival Sesc Melhores Filmes, no CineSesc.

Apesar de a esta altura os filmes não serem mais novidades, vale a pena esperar. Isso porque, desta vez, eles podem ser assistidos com audiodescrição.

Este recurso permite que, com fones de ouvido, os espectadores com alguma deficiência visual ouçam os detalhes do que acontece em cada cena.

No segundo semestre, é possível acompanhar o festival “Assim Vivemos”, no CCBB, que reúne produções sobre o universo das deficiências. E, vez ou outra, encontra-se uma sessão especial nos demais cinemas e com exibição acessível —resta torcer para não ser no horário nada especial das 10h.

Filipe Oliveira, 24, é repórter de “Mercado” e tem baixa visão

Fonte: Folha de S.Paulo

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