Ricardo Shimosakai voltou ao Brasil em fevereiro de 2011 após um período trabalhando no Japão. Pouco mais de dois meses depois, em uma tentativa de assalto relâmpago, foi baleado e perdeu o movimento das pernas. Não deixou, entretanto, de realizar passeios pelo interior de São Paulo. A paixão pelas viagens foi ainda mais longe, quando, incentivado por amigos, decidiu empreender no setor. Assim nascia a Turismo Adaptado, empresa especializada em acessibilidade e inclusão de pessoas com deficiência e mobilidade reduzida no turismo.
Além de oferecer consultoria para agências e operadoras na formatação de pacotes de viagem voltados às pessoas com deficiência, a Turismo Adaptado promove palestras e implanta projetos de acessibilidade, por exemplo, na rede hoteleira. Para tanto, Shimosakai graduou-se na faculdade de Turismo antes de iniciar o empreendimento. “O objetivo dos nossos serviços é dar mais oportunidades e escolhas para quem vai organizar uma viagem, pois, assim como falta infraestrutura adequada, falta também informação de qualidade”, destaca.
No Brasil, o Ministério do Turismo lançou, recentemente, o Programa Turismo Acessível, com a intenção de permitir a utilização de serviços, edificações e equipamentos turísticos com segurança e autonomia. Um dos primeiros resultados foi uma pesquisa sobre o perfil do turista com deficiência. Segundo o estudo, durante o planejamento da viagem, os entrevistados levam em conta, entre outras questões, a condição do transporte público, disponibilidade de quartos adaptados em hotéis e acessibilidade em pontos turísticos.
A partir da pesquisa, entre as metas do programa, estão preparar 8 mil profissionais do turismo para bem atender pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida; aumentar para 5% o número mínimo de acomodações acessíveis em 12 cidades brasileiras e disponibilizar linhas de crédito à iniciativa privada para adaptações e qualificações dos serviços de empreendimentos turísticos. A portaria 312, de dezembro de 2013, estabelece regras e condições a serem observadas pelas empresas do segmento.
Entretanto, segundo Shimosakai, mesmo uma tarefa simples, como reservar um quarto de hotel, acaba se tornando complicada devido à falta de profissionalismo dos estabelecimentos, que pecam na organização da estrutura e da informação. Em questão de destinos, ele considera São Paulo a cidade mais adequada no Brasil, ainda que tenha inúmeras falhas. No exterior, o empresário tece elogios aos Estados Unidos e a Alemanha. Mas a principal referência é Barcelona, na Espanha, que aproveitou a realização das Olimpíadas e Paralímpiadas, em 1992, para se tornar mais inclusiva.
Projeto garante a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida a prática de esportes na praia
O Programa Praia para Todos começou no fim de 2008, sete anos após um dos integrantes do Instituto Novo Ser, uma ONG voltada aos direitos de pessoas com deficiência, sofrer um acidente de carro. Por um longo período, Ricardo Gonzalez ficou impossibilitado de frequentar a praia, justamente onde praticava seu esporte favorito, o surfe. “Foi então que fizemos uma pesquisa para ver como poderíamos ambientar esse local, que é público, mas possuía acessibilidade zero na época”, explica a coordenadora da Novo Ser, Nena Gonzalez.
A maior dificuldade era a passagem das cadeiras de rodas pela areia. Para resolver o problema, foram providenciados materiais específicos para tal fim, como esteiras. A experiência piloto foi um sucesso e, logo no ano seguinte, o projeto foi ampliado, ganhando um caráter itinerante e agregando atividades para além do banho de mar. Aos poucos, com mais visibilidade, a iniciativa ganhou o apoio de secretarias do governo estadual do Rio de Janeiro e do Corpo de Bombeiros e disseminou o conceito de acessibilidade em praias cariocas.
Desde então, o Praia para Todos atende às necessidades de cerca de 50 pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida por dia, em cada um de seus dois pontos: na Barra da Tijuca e em Copacabana. Com isso, foram beneficiadas, direta ou indiretamente, mais de 10 mil pessoas. Além do banho de mar em cadeiras anfíbias, que flutuam na água, é possível realizar uma série de atividades como vôlei sentado, surf adaptado, stand up paddle, handbike e frescobol. Inclusive, as crianças tem uma piscina infantil a sua disposição na areia.
Para auxiliar a todos, a Novo Ser trabalha com uma equipe de profissionais de educação física, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e de voluntários de diversas áreas devidamente treinados para atender pessoas com deficiência. Todas as atividades são gratuitas e, nessa temporada, acontecem entre dezembro e maio, nos sábados e domingos, das 9h às 14h. Os interessados em participar realizam um cadastro, no local ou pela internet, com objetivo de agregar informações que possibilitem melhorar os serviços oferecidos ao público. Entre as melhorias conquistas nas praias da Barra e de Copacabana, a coordenadora do projeto cita banheiros, rampas, calçadas, sinalização sonora e vagas de estacionamento. Principal destino turístico brasileiro de lazer e a menos de um ano de receber os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, o Rio de Janeiro ainda busca se tornar uma cidade de e para todos. “Temos vários pontos turísticos acessíveis, mas muitos requerem mudanças. Não basta a acessibilidade no local. É necessário a adaptação de todo o entorno”, destaca Nena.
Fonte: Jornal do Comércio
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