A vida de cadeirantes no palco. Luciano Mallmann escreveu e interpreta “Ícaro”.

Man climbs CN Tower steps in wheelchair

Escrito por Ricardo Shimosakai

20 de agosto de 2019

A queda nem foi tão alta: cerca de 3 metros. Foi, ainda por cima, amortecida por um colchão. Mas, ao despencar de um tecido acrobático durante uma aula de dança em 2004, o ator gaúcho Luciano Mallmann caiu “de forma ingrata”, conforme ele mesmo classifica. Com 32 anos na época, ele bateu com o topo da cabeça no colchão, e suas vértebras comprimiram a medula, causando uma lesão irreversível. Ele chegou a ficar dez dias em coma e, desde que acordou, não tem o movimento das pernas.

— Logo pensei “não quero mais trabalhar com arte”. Porque, antes, eu trabalhava com todo o meu corpo. Não conseguia imaginar como seria daí para frente — recorda-se ele, hoje aos 46.

Natural de Cachoeira do Sul, interior gaúcho, Luciano atuava desde os 5 anos de idade. Na época do acidente, ele já tinha trabalhado em uma série de peças profissionais, como “A dama do cerrado”, e em algumas novelas, como “Mandacaru”. Desde 2000, fazia trabalhos com dança, mas tinha se graduado anos antes em Publicidade. Foi para essa área que resolveu voltar quando decidiu deixar as artes.

O jogo virou quando, em 2010, ele foi convidado para uma participação na novela “Viver a vida”. Ele contracenou, em apenas uma cena, com Alinne Moraes, intérprete da personagem Luciana, que ficou tetraplégica após um acidente de carro.

— Depois daquela cena, eu voltei a sentir que atuar era o que eu mais gostava de fazer na vida. Mas eu sabia que só seria chamado para papeis muito específicos. Então percebi que eu tinha que escrever e produzir minhas próprias peças.

Assim surgiu “Ícaro”, espetáculo escrito e encenado por ele. Durante 70 minutos, Luciano roda sua cadeira por um palco parcamente iluminado, e, sem qualquer figurino especial, transforma-se em seis personagens que têm um pouco dele próprio: todos sofreram uma lesão na medula. Cada um, um tipo diferente, que levou a consequências diversas, da paraplegia à tetraplegia, passando pelo coma.

— Apesar de todos eles abordarem a lesão, o grande ganho da peça é que ela fala de temas que afetam as pessoas como um todo: maternidade, pensamentos suicidas, frustrações. Acho que isso desmistifica a ideia de a pessoa com deficiência tem que ser vista ora como “coitadinha”, ora como “super-herói” — conta Luciano.

Ele interpreta, por exemplo, uma mulher que tem o sonho de ser mãe e engravida na cadeira de rodas; uma menina que é cadeirante e considera a possibilidade de se suicidar, inscrevendo-se em uma clínica de eutanásia na Suíça; e um lutador profissional que fica em coma e tem viagens mentais nesse período, quando ainda não tem consciência da própria situação. O ator conta que misturou um pouco da própria experiência com histórias ficcionais.

O título da peça foi sugestão da diretora, Liane Venturella: Ícaro é o personagem da mitologia grega que colou mel em penas, formou asas e levantou voo, mas chegou próximo demais do sol e caiu.

ÍCARO foi indicado a 3 categorias no Prêmio Aplauso Brasil. Um dos prêmios de maior prestígio do Brasil, um dos poucos prêmios onde o público também escolhe os indicados e vencedores. Só votar no link abaixo, não precisa votar em todas as categorias, se quiser só nas categorias que ÍCARO foi indicado:

– Melhor ATOR: Luciano Mallmann
– Melhor DRAMATURGIA: Luciano Mallmann
– Melhor ESPETÁCULO produção independente

Não deixe de votar clicando em PRÊMIO APLAUSO BRASIL

Fonte: O Globo

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