A viagem que transformou o modo de enxergar a vida. Lia Crespo conta sua experiência.

por | 1 mar, 2012 | Turismo Adaptado | 4 Comentários

Este texto foi extraído do livro “História do Movimento Político das Pessoas com Deficiência no Brasil”, na seção de entrevistas. Uma matéria específica sobre o livro pode ser acessada clicando no link colocado no título do livro.

Lia Crespo tem 55 anos de idade e é natural de Osasco-SP. Teve pólio com um ano e pouco de idade. Militante em busca dos direitos das pessoas com deficiência, explica como uma viagem teve influência para que ela acordasse para a luta política:

Em 1979, fiz uma viagem de turismo, eu e minha sobrinha Cláudia, que na época tinha 11 anos. Fizemos uma viagem de 24 dias, de costa a costa nos Estados Unidos. Foi muito interessante porque, pela primeira vez, sentia que minha deficiência era respeitada. Antes, ficava na fila do banco em pé, não tinha a noção de que tinha o direito de que as barreiras fossem eliminadas. Isso não passava pela minha cabeça. Na verdade, era uma mentalidade meio que de super-herói, que hoje abomino. Quando encontro um super-herói pela frente, quero esganar o infeliz. Mas já fui assim.

Pela primeira vez, nessa viagem, as pessoas me perguntavam se eu podia subir escadas e, se não podia, eles davam um jeito de me ajudar. Havia cadeiras de rodas para serem emprestadas ou alugadas por um dólar em todo lugar que eu ia.

Fomos a todos os parques de diversões que havia naquele bendito país, aquela época, e a todos os brinquedos que quis ir. Fiz tudo o que queria fazer, porque havia acesso, havia condições, ao contrário do que acontecia aqui no Brasil. Nos Estados Unidos, vi um monte de pessoas com deficiência frequentando os lugares, em toda parte. Gente deficiente andando de cadeira de rodas motorizadas, em todo lugar. Aqui, era raríssimo ir ao cinema e encontrar outra pessoa com deficiência. Éramos sempre somente o Kico (irmão gêmeo de Lia Crespo e também tem deficiência) e eu. Nós brincávamos: “Será que somos os únicos deficientes neste país?” Nós e os pedintes de esmola que víamos no centro da cidade, únicos deficientes que a gente via.

Essa viagem para os Estados Unidos foi uma descoberta. Eu me percebi, então, uma cidadã com direitos. Voltei com isso na cabeça: “Por que no Brasil é aquela selva? Por que a gente não pode ter as mesmas facilidades?”.

No mesmo ano de sua viagem (1979), Lia formou-se em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. É mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo e doutora em História Social pela Universidade de São Paulo com a pesquisa Movimento social das pessoas com deficiência contra a exclusão e pela cidadania (1979-2004).

Foi uma das fundadoras, em 1980, do Núcleo de Integração de Deficientes (NID), que publicava um boletim informativo, O Saci. Ainda em 1980, Lia participou do 1º Encontro Nacional de Entidades de Pessoas Deficientes, realizado em Brasília. Em 1984, participou ativamente do processo de criação do Conselho Estadual para Assuntos das Pessoas Deficientes. Foi presidente do primeiro Conselho Municipal das Pessoas Deficientes de São Paulo, criado em 25 de outubro de 1985 e extinto em 12 de dezembro de 1986. Foi uma das fundadoras do CVI-Araci Nallin, em 1996, do qual foi presidente.

Fonte: Secretaria de Direitos Humanos

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4 Comentários

  1. marcia moreira

    Parabéns Lia, igualdade para todos! Como guia de turismo em Brasília, fico feliz por sua experiência e confesso que sonho em um dia atender a todos de igual modo, acessibilidade aqui não temos, o que ocorre em todos os estados brasileiros. De meu conhecimento apenas uma cidade em São Paulo, chamada “Socorro” (parece ironia), mas é a única cidade preparada para atender pessoas com dificuldades na mobilização.

    • Ricardo Shimosakai

      A Turismo Adaptado tem planos em criar pacotes turísticos acessíveis em Brasília. Em breve isso deverá estar sendo iniciado. Mas assim como muitas pessoas, a cidade de Socorro não é tudo isso que dizem. Na verdade, considero o planejamento turístico relacionado à acessibilidade, um tanto falho, ou seja, uma grande jogada de marketing.

  2. Lia Crespo

    Legal, Ricardo. Gostei que você tivesse colocado esse meu depoimento aqui. De fato, viagens podem mudar a vida da gente. Beijo.

    • Ricardo Shimosakai

      Olá Lia,
      Considero que viagens são muito mais do que um simples passeio. Agrega cultura, sociabilização, faz bem ao corpo e a mente, além de inúmeros outros benefícios. Achei que sia experiência conseguia retratar isso, por isso coloquei ela aqui.
      Beijos!

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