A inclusão como terapia. Projeto Sessão Azul oferece lazer para os autistas e suas famílias.
Integrar culturalmente crianças com deficiência pode ser mais difícil do que se imagina. Quando o assunto é autismo a situação se complica ainda mais. Coisas simples como ir ao teatro ou uma sessão de cinema se tornam tarefas muitas vezes impossíveis.
A agitação, os movimentos repetitivos, são empecilhos para que muitos portadores do espectro consigam curtir uma programação cultural. Pensando na falta de opções, as psicólogas Carolina Salviano e Bruna Maia, especializadas em tratamento de portadores do espectro autista, criaram o projeto Sessão Azul, que promove sessões especiais em cinema, teatros, zoológicos e agora no AquaRio, com as adaptações e condições necessárias para o maior conforto dos autistas.
A organização da Sessão Azul é composta ainda por Leonardo Bittencourt, gerente de projetos e admirador do trabalho de Carolina e Bruna. Ele explicou que o projeto teve início, justamente devido o convívio das psicólogas com famílias de autistas, que sempre lamentavam as dificuldades no convívio social e as barreiras impostas por uma sociedade não inclusiva. Com isso, depois da busca de parceiros, o trio conseguiu realizar a primeira sessão de cinema em dezembro de 2015, no Rio de Janeiro.
A partir daí, o projeto foi crescendo, expandindo o número de parcerias, diversificando a agenda e até se espalhando por outros estados. Hoje, a Sessão Azul já acontece, além do Rio, no Distrito Federal, Goiás, Santa Catarina, São Paulo e Espírito Santo, somando 130 sessões de cinema, com a participação de mais de 13 mil pessoas, com preços mais baratos, levando em consideração as necessidades do público especial. O sucesso levou o projeto a outros espaços culturais, bem além das salas de filmes. Nesse movimento, surgiram as visitas ao AquaRio e mais recentemente ao ZooRio.
Cuidados especiais
As sessões de cinemas adaptadas são feitas com uma lotação menor, sem que o som esteja muito alto e sem o risco de alguém reclamar quando um dos expectadores resolver falar alto ou circular pela sala de projeção. Além disso, não são apresentados trailers antes do filme.
A proposta da Sessão Azul é fazer com que a experiência funcione como uma extensão do trabalho terapêutico, ajudando na socialização e com um maior engajamento da família no processo. Há cerca de seis meses a Sessão Azul fez sua estreia no AquaRio, o maior aquário da América Latina, localizado na Zona Portuária do Rio de Janeiro. Um sucesso desde sua estreia, o aquário virou objeto de desejo de crianças e adultos, mas as famílias de crianças autistas encontravam dificuldades para levar seus filhos.
O primeiro teste foi em abril. Ele foi aprovado e vem sendo realizado uma vez por mês, aos sábados. Alguns cuidados são tomados para garantir o conforto dos autistas. Normalmente escuro, os corredores do aquário ficam acessos com o sistema de luz de emergência. O número de pessoas gira em torno de 200, número muito menor do que o público diário. Os visitantes tem uma hora para curtir o ambiente com calma e mais espaço, antes da abertura do para o público em geral. O resultado é encantador.
Integrando a família
Andreia Henriques e Fábio Luz, ambos de 47 anos, chegaram ao AquaRio ansiosos para ver se o programa iria agradar os três filhos. Os trigêmeos Brenda, Brian e Nicole, de sete anos, estavam indo pela primeira vez. Nicole é autista e a família encontra muitas dificuldades para encontrar programas que agradem e incluam a todos. O resultado foi surpreendente e todos saíram satisfeitos.
“Para Nicole, pela questão dela do autismo em si, eu achei que ela foi muito tranquila. Ela adorou. Ela interagiu bem com os animais, com os peixes, com a água, com o local. Eu acho que a tranquilizou”, comentou Fábio ao final da visita.
Fábio também falou da importância da programação oferecida pela Sessão Azul para a diversão de toda a família, evitando ter que deixar Nicole fora do programa, o que a família descarta.
“É difícil para a gente encontrar acessibilidade. Como ir a um cinema, se não for a Sessão Azul? As pessoas ouvem todo tipo de ruído e barulho na rua, mas quando a Nicole de repente faz um ‘aaai’, vários olhares se voltam para ela. Então, a gente percebe que o mundo não está preparado para isso. Não só pela Nicole, mas para todas as Nicoles que estão por aí. Todos os Pedros, Joãos, Lucas. Porque somos muitos”, finalizou Fábio.
Moradores do bairro de Olaria, Zona Norte do Rio, o quinteto saiu satisfeito e feliz com a programação especial. Um trabalho que parece simples, mas que requer atenção, engajamento e vontade de lutar por ambientes mais inclusivos. A expectativa do trio é aumentar o número de sessões e expandir para outras cidades. A demanda é grande mas o empresariado e gestores públicos precisam entender que acessibilidade significa lucro e qualificação, além de melhoria na qualidade de vida para muitas pessoas.
Fonte: Projeto Colabora
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