Centro britânico para tratamento de veteranos da Guerra deu origem a Paraolimpíada
A realização do evento em solo britânico, entretanto, tem um sabor de retorno às raízes. Muitos talvez ainda não saibam, mas os Jogos Paraolímpicos nasceram em uma pequena cidade no interior da Inglaterra, pouco após a Segunda Guerra Mundial.
O vilarejo de Stoke Mandeville, no oeste de Londres, se orgulha de ter organizado a primeira Paraolimpíada – os Jogos voltados para atletas portadores de necessidades especiais – da história mundial.
A competição brotou da cabeça de um médico alemão que chefiava um centro de tratamento de veteranos da Guerra na cidade. Ele teve a ideia de usar o esporte para a reabilitação de seus pacientes.
A história de um sonho
Ludwig Guttman se mudou em 1939 de Wroclaw, então localizada na província alemã da Baixa Silésia, para Oxford, na Inglaterra.
Na cidade, ele começou a realizar pesquisas no departamento de neurocirurgia de Nuffield, mas logo o governo britânico lhe fez uma proposta tentadora: chefiar o recém-criado Departamento Nacional de Lesões da Medula Espinhal, em Stoke Mandeville.
Guttman não só aceitou o novo posto, como encontrou uma alternativa para atenuar o sofrimento de seus pacientes: o esporte.
“Ele se deu conta de que o esporte poderia ser algo mais do que simplesmente um método de reabilitação”, afirmou Dot Tussler, que trabalhou no departamento de fisioterapia do hospital durante 30 anos.
Guttman descobriu que seus pacientes, em sua maioria veteranos da Segunda Guerra, mantinham uma disciplina física que podia ajudá-los em sua recuperação.
Nos terrenos adjacentes ao hospital, ele começou a organizar atividades físicas, que levaram aos primeiros Jogos de Stoke Mandeville, realizados em 1948, coincidindo com os Jogos Olímpicos do mesmo ano, em Londres.
Seis anos depois, uma delegação de atletas holandeses viajou ao pequeno povoado para participar da competição, e, finalmente, em 1960, o movimento ganhou relevância internacional, quando Guttman levou para Roma o que agora passou a ser chamado de Jogos Paralímpicos.
“É inacreditável, mas tudo isso é o resultado da visão de um único homem”, disse Martin, que participou dos Jogos de 1984. Naquele ano, Stoke Mandeville co-sediou o evento, juntamente com Nova York, nos Estados Unidos.
Inspiração
Entre os atletas que começaram sua carreira esportiva em Stoke Mandeville está Tanni Grey-Thompson, uma das atletas paralímpicas mais premiados da Grã-Bretanha – ela competiu em cinco Jogos e ganhou 11 medalhas de ouro, 4 prata e uma de bronze.
Sua primeira lembrança do estádio é aos 12 anos, “quando todos nós fomos pernoitar nos dormitórios do estádio; algo fantástico”, diz.
Ao longo de sua carreira, ele já competiu muitas vezes no local, e continua a passar muito tempo no estádio, que qualifica como “inspirador”.
“Para muitas pessoas do Movimento Paralímpico, Stoke Mandeville está gravado em seus corações”, afirma Martin.
Tal como aconteceu com os veteranos da Segunda Guerra Mundial, que acreditavam que sua vida tinha acabado, Martin acredita que o esporte possa servir de inspiração para jovens deficientes ao revelar uma imagem dos portadores de necessidades especiais contrária ao estereótipo.
“Mais uma vez, os jogos nos dão a oportunidade de mudar as coisas, e oferecer uma imagem positiva de pessoas com necessidades especiais”, diz.
Mas se, em 1948, os Jogos contaram com apenas 16 atletas competindo em uma única modalidade (tiro com arco), dessa vez, mais de mil são esperados para competir em 21 modalidades.
Fonte BBC
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