A história do primeiro ônibus acessível do Brasil

por | 20 jan, 2017 | Turismo Adaptado | 9 Comentários

Primeiro ônibus adaptado com elevador no Brasil foi apresentado pela CMTC somente em 1981. Mas apenas duas décadas depois que as autoridades começaram a responder os anseios da população. Quanta gente de talento, mas que possui uma limitação física, foi excluída do mercado de trabalho e do convívio social pela demora dos poderes constituídos em oferecer um transporte acessível.

Se atualmente, com o desenvolvimento da indústria nacional de ônibus e com uma nova cultura de inclusão que aos poucos vem se instalando na concepção das cidades, o portador de deficiência física ainda enfrenta problemas imensos para se deslocar num município, com falta de estrutura viária e veículos adaptados, há algum tempo a situação era bem pior. Simplesmente para um cadeirante ou mesmo para quem tinha a perna com gesso, mesmo que por pouco tempo, até se recuperar de qualquer lesão, era impossível andar de ônibus em qualquer região.

As reivindicações dos portadores de deficiência são antigas, mas a partir dos anos de 1970, elas se intensificaram. Associações foram criadas e mesmo individualmente, as pessoas com mobilidade reduzida assumiam de verdade sua postura de cidadania, ou seja, se conscientizavam de que apesar de uma condição física desfavorável, não eram pessoas anormais (anormal é quem mata, rouba e ofende) e sim cidadãos que tinham direito de trabalhar, estudar, consumir e o mais básico dos direitos, de ir e vir. Em São Paulo, as pressões sobre as autoridades públicas aumentavam. Não só os portadores de deficiência, mas formadores.

Foi mais uma vez que a CMTC – Companhia Municipal de Transportes Coletivos – mostrou seu pioneirismo. Assim como fez com os trólebus, com os ônibus integrados com outros modais de transportes, com veículos de alta capacidade, como o Papa-Fila, com ônibus de fabricação própria, como o Mônika, com carros movidos a combustíveis alternativos, o embrião da acessibilidade partiu das oficinas da CMTC, como no site ÔnibusBrasil relatou Eduardo Belopede. Eudardo Cazoto Belopede é coordenador da Comissão de Estudo Especial de Fabricação de Veículo Acessível.

Esse Caio Bela Vista, Mercedes Benz motor traseiro, da CMTC, prefixo 594, teria sido, segundo informações obtidas por nossas pesquisas, o primeiro ônibus adaptado com elevador para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida. O veículo foi adaptado em 1981, de forma quase artesanal, nas próprias oficinas da CMTC, Aliás, como foi possível ver em outras ocasiões, que as oficinas da empresa de transportes público de São Paulo, que hoje faz muita falta na cidade, eram de dar inveja a muitas fabricantes. Lá se desenvolviam as soluções mais adequadas para os problemas do dia a dia.

A adaptação do Bela Vista foi feita de maneira cuidadosa e o próprio elevador foi criado pela CMTC. Hoje, com o mercado maior, há empresas especializadas neste tipo de equipamento. Além disso, os degraus das portas dianteira e traseira (o elevador ficava numa porta do meio criada para este fim) eram escamoteados e o ônibus possuía espaço para a fixação da cadeira de rodas durante a viagem.

É verdade que depois desse Bela Vista, pouca coisa avançou nesta área nos anos de 1980 e 1990. Mas foi um primeiro passo, mais uma vez dado pela CMTC. Em 12 de julho de 1994, a Prefeitura de são Paulo editou uma lei que obrigava que as empresas tivessem pelo menos 1 ônibus com acessibilidade por linha. Um número medíocre. Somente em 2004, o Governo Federal atentou para o problema e, pelo decreto 5.926, estabeleceu que até 2014 todos os ônibus urbanos do País sejam acessíveis.

Mas foi somente em fevereiro de 2009, pela NBR 15570, que foi estabelecido que todos os ônibus 0 km tivessem equipamentos ou configuração com acessibilidade. Ou seja, as soluções começaram a surgir, mas de maneira muito tardia. E ainda hoje, existem várias cidades que possui poucos ou sequer um ônibus para transporte de pessoas limitadas fisicamente que querem ter garantido o seu direito ao convívio social

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9 Comentários

  1. Davidson

    Infelizmente ainda tem muitas empresas que possuem elevador ,mas que eles não funcionam .Apesar da nossa frota de Bh possuir 90% de ‘cabritos’ ,devemos reconhecer que os modelos são novos (com 4 anos de uso) e TODOS os elevadores funcionam . isso foi fruto de um trabalho árduo da fiscalização ,ao contrário dos ônibus fiscalizados pelo DER que se bobear mais de 50% só tem elevador de enfeite ….

    • Ricardo Shimosakai

      Em São Paulo havia diversos problemas, desde equipamentos enguiçados por falta de manutenção, cobradores que esqueciam como operar, e até mesmo motoristas que vendo uma pessoa com deficiência, propositalmente não paravam alegando ser um processo demorado, e que tinham que cumprir horário. Agora vários veículos tem piso baixo e uma rampa basculante, então como a operação é simples e manual, os problemas diminuiram. Além disso o custo é menor para uma maior eficiência. Abraços!

  2. Eduardo Belopede

    Olá Ricardo, boa tarde.

    Solicito apenas uma correção:

    Eduardo Cazoto Belopede (e não Belope).

    Abração

    • Ricardo Shimosakai

      Olá Eduardo, as modificações já foram feitas. É um prazer falar com alguém que fez importantes realizações. Ainda está envolvido com acessibilidade e transporte?

      • Eduardo Belopede

        Olá Ricardo, grande prazer em falar contigo.
        Recentemente fui nomeador Coordenador da Comissão de Estudos de Transportes com Acessibilidade (CE-02) no âmbito da ABNT/CB-40.
        Agora, além de ser responsável pela elaboração e revisão das normas técnicas relacionadas aos ônibus urbanos e rodoviários (das quais eu já era o coordenador da comissão especial de veículos acessíveis), também me tornei responsável pelos transporte aéreo, metro-ferroviário e aquaviário.
        O programa de trabalho é grande.
        Em no máximo 2 meses darei início à revisão da NBR 15320:2005 que trata da acessibilidade nos ônibus rodoviários. Muita briga vem por aí…
        Em paralelo devo iniciar a revisão da NBR 14273:1999 relativa à acessibilidade no ao transporte aéreo comercial. mais briga por aí…
        Muitas normas novas estão em meu programa, como por exemplo, NBR para fabricação de ônibus rodoviários, NBR para terminais de integração, NBR para Pontos de Parada e Abrigos, NBR para Táxis acessíveis, NBR para Vans…
        Espero poder contar com tua grande colaboração e experiência nesses trabalhos.
        Me transmita um e-mail para que possa cadastrá-lo junto à ABNT e assim, receber os convites para as reuniões, oportunamente.
        Grande abraço e parabéns pela tua força.

        • Ricardo Shimosakai

          Olá Eduardo,
          Me alegra muito saber que ainda está cuidando da questão da acessibilidade no transporte, e que agora ampliou a atuação para outras áreas. Sei que o trabalho é grande, e devo entrar em contato para que possamos conversar melhor a respeito. Tenho muitas idéias e experiências que gostaria que fossem aplicadas, e pelo menos regulamentadas de forma correta
          Grande abraço

  3. Dayse

    Bom Dia!Estou desenvolvendo o meu TCC do curso de logistica sobre(Acessbilidade no transporte público),e gostaria da ajuda de vocês.Poderia me informar sobre os endereços e telefone das Ongs para fazermos uma visita,e ficarmos mais interada sobre o assunto?.

    Obrigada
    Dayse
    [email protected]

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