Que absurdo! Hotéis não oferecem serviços acessíveis para surdos.
A matéria a seguir foi escrita por Neivaldo Zovico para a edição de Janeiro/Fevereiro de 2012 da Revista Reação. Neivaldo é Consultor sobre Acessibilidade para Surdos e Deficientes Auditivos, Membro da Comissão de Estudos da Acessibilidade de Comunicação e Visual para pessoas surdas e deficientes auditivos – ABNT e Coordenador Nacional de Acessibilidade para Surdos da FENEIS.
Um dia, o Surdo ficou interessado em participar no Festival da Cultura Surda em uma cidade da região Sul do país e combinou com outros amigos surdos por vídeochamada. No dia seguinte, pediu para a sua mãe para ligar para o hotel para reservar, pois o hotel não tem atendimento “on-line” (chat) e ou por SMS (torpedo) para que a reserva possa ser feita pelo Surdo. Mais tarde o Surdo chegou em casaa e perguntou à sua mãe se ela tinha ligado. E a mãe respondeu que tinha esquecido. O Surdo ficou frustrado, porque pensou que o hotel poderia estar lotado por causa do Festival. No dia seguinte pediu novamente para ligar, ela ligou para o hotel e reservou, avisou que seu filho é Surdo, e o atendente disse que não se preocupasse, porque iam recebê-lo bem.
No dia da reserva o Surdo chegou no hotel. Ele fez sinal “SURDO” para a recepcionista e ela não entendeu. O Surdo fez sinal novamente: “EU SURDO”. E ela não entendeu. O Surdo ficou irritado, pefou papel e caneta, e escreveu: “Eu sou Surdo”. Ele pensou que chegaria ao hotel, e que o hotel sabendo que teria um Surdo entrando naquele dia, que então iriam atendê-lo, e se comunicar com ele em Língua de Sinais, e também que os funcionários do Hotel teriam conhecimento de LIBRAS básico e Cultura Surda para um melhor atendimento. Mas que nada… ele escreveu em um papel: “Meu nome é Jonas, reservei aqui”. A recepcionista leu e entregou a chave sem explicação nenhuma, pois sentiu dificuldade para se comunicar com o Surdo.
Quando entrou no quarto, já estava exausto por causa da dificuldade de comunicação, resolveu tomar banho, tirou as roupas foi para o chuveiro e viu que não tinha toalha, voltou a vestir a roupa para descer e avisar a recepção que não tinha toalha, pois não tinha possibilidade de videochamada ou tablet com chat (on-line), ou SMS (torpedo) para a comunicação entre hóspedes e recepcionistas. Voltou para o chuveiro, a camareira foi para o quarto e tocou várias vezes, e o Surdo não escutou, porque não tem sinalização luminosa do tipo estroboscópio, que pisca para a chamada dos Surdos. Então a camareira deixou a toalha na porta. Quando ele terminou o banho, foi até a porta e achou a toalha.
Foi deitar na cama, ligou o controle da televisão, de repente apareceu Plantão da Globo: o Surdo não entendeu nada que estava acontecendo no Aeroporto porque não tinha legenda ou Closed Caption. Tentou mudar para outro canal que também não tem legenda, porque a televisão não tem decodificador e também as emissoras não colocam legendas no horário nobre depois das 22h. Ficou frustrado novamente, desligou a TV e pegou um livro para ler, a história de um Surdo que rompeu as barreiras de comunicação.
O hóspede Surdo lembrou-se que deveria acordar mais cedo para encontrar os amigos Surdos que haviam combinado. Desceu para a recepçãom pediu para acordar o Surdo, pois não havia relógio despertador vibratório para ele que não escuta o som do despertador. O recepcionista ficou em dúvida: como ia chamá-lo? Mas não falou como ia chamá-lo.
Chegou a hora, o recepcionista foi até o quarto, tentou chamar ele, colocou um papel embaixo da porta fazendo movimentos e pensou que tinha ele visto, mas ele ainda estava dormindo e não viu o movimento do papel. De repente levantou e viua hora, saiu do quarto correndo, chegou e era o último hóspede a tomar café da manhã, o restaurante quase fechou.
Voltou para o quarto para tomar banho, preparou para ir ao encontro de seus amigos Surdos no horário, para participar no Festival da Cultura Surda. O Surdo comunicou com amigos que ia atrasar, pelo envio de SMS (torpedo), quando os amigos se encontraram, houve muita reclamação e discussão entre eles sobre todos os hotéis onde se hospedaram. Nenhum se preocupava com acessibilidade para Surdos. Mesmo assim, aproveitaram muito durante o dia inteiro no Festival da Cultura Surda.
O Surdo voltou do Festival para o hotel, e avisou que ia embora no outro dia bem cedo, e que precisava que alguém o chamasse. Ele explicou o que deveria ser feito para chamá-lo. Então, quando chegou a hora combinada, o recepcionista foi até o quarto, abriu a porta, ligou e desligou a luz para que o Surdo acordasse. O Surdo se preparou para a volta para sua cidade, foi até a recepção para pagar as contas usando comunicação por escrito.
Já pensou quantos Surdos no Brasil estão sofrendo por causa da barreira de comunicação? Nós Surdos pagamos impostos para o Governo e onde estão os nossos direitos de comunicação? A Lei de Acessibilidade N° 10.098/2000 e o Decreto de Acessibilidade N° 5.296/2004, já existem há muitos anos. Já eram feitas diversas feiras, comgressos e palestras sobre acessibilidade para Surdos em hotéis, houve divulgação pela Associação Brasileira de Hotéis, e quase nada é feito.
Quando o hotel é indagado sobre a falta de acessibilidade, alega que não sabiam das informações e também da dificuldade de encontrar os recursos para atender as regras exigentes de acessibilidade. O mais importante é que os funcionários do hotel deveriam ter conhecimento sobre a Cultura Surda e saber da comunicação com os Surdos através da Língua de Sinais.
Na verdade, as situações relatadas representam a falta de interesse em prestar um melhor atendimento aos Surdos, e também a falta de consciência, não atendendo as exigências da legislação brasileira. Esperamos que até 2014, durante a Copa, todos os hotéis tenham implantados serviços que ofereçam acessibilidade para todos os tipos de deficiência.
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Oi Ricardo é realmente um grande absurdo!!! Mas infelizmente precisamos ensinar as pessoas como sermos reconhecidos, pois por mais que hajam leis, fazem questão de ignorar e burla las, nos colocando assim em situações difíceis. Por exemplo eu e minha familía estamos pretendendo nos mudar para cidade de Santos e cada vez que vamos para lá é uma luta encontrar um lugar acessível para se hospedar, além de preço alto a maioria sem acessibilidade, um absurdo banheiros que a cadeira não passa na porta, sem elevadores, enfim, que país é esse que servimos para votar e pagar impostos, mas não contamos como cidadãos!
É muito triste… mas a luta continua, contem comigo, bjs!
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