Histórias de um turista cego usuário de cão-guia no Peru

por | 12 dez, 2011 | Turismo Adaptado | 1 Comentário

Sérgio de Ramos Faria, cego desde os dois anos de idade, usou bengala por 28 anos, e a 1 ano utiliza o Camber, seu cão-guia. Costuma viajar a passeio e também a trabalho, em função de sua profissão, consultor de sistemas, visto que, vai a outras cidades, estados e até países treinar pessoas, ou implantar sistemas. Abaixo, o texto escrito por ele, em sua experiência no Peru.

Em Julho de 2011 estive no Peru a trabalho e, evidentemente, também tentei fazer algum turismo. Porém, fazer turismo em um país que as pessoas, apesar de muito cordiais, não fazem a menor idéia do que é um cão-guia, não é uma missão fácil. Por isso, decidi contar aqui rapidamente um pouco dessa minha experiência com Camber (meu cão-guia).

O primeiro ponto interessante é que para o peruano, todo cão acompanhado de seu dono é um mascota. Por mais que você explique e demonstre que não é um mascote e sim um cão-guia, isso é muito difícil para eles entenderem, pois há apenas 3 cães-guia no Peru. Também não há uma legislação específica sobre cão-guia no país. Há apenas uma lei muito recente de não discriminação e um projeto de lei em tramitação no congresso peruano relativo ao cão-guia.

Um outro ponto é que as pessoas em geral ao ver o cão-guia tem quase que uma veneração. Todos querem tocar, abraçar, falar com você, comentar sobre os próprios cães e perguntar sobre o cão-guia. Após essas considerações, vamos as experiências do dia-a-dia.

No hotel não tivemos problemas, visto que, é um hotel de padrão internacional, aliás, essa é a primeira dica, a maioria dos restaurantes e hotéis de padrão internacional não apresentam muitas restrições ao uso do cão-guia. Porém, é importante ressaltar que é a maioria, mas nem todos os hotéis e restaurantes caros para turistas que aceitam cães-guia.

Um exemplo disso é o restaurante Rosa Nautica que fica em um píer a beira do Pacifico. É um lugar bonito, típico para turistas, mas cão-guia não pode chegar nem na porta. Claro que a maioria dos restaurantes que aceitam cães-guia costumam ser mais caros. Normalmente se come muito bem no Peru com 30 soles (R$15,00), porém, esses restaurantes não aceitam o cão-guia. Os restaurantes de padrão internacional, ou para turistas, custam em torno de 70 / 80 soles, ou seja, o dobro e as vezes um pouco mais.

Nos shopping não nos barraram a entrada, mas os segurança nos seguiam o tempo todo e para almoçar no shopping só alguns restaurantes que tem mesas do lado de fora. Tentei também Visitar as ruínas Incas e Limenhas, mas a maioria delas também não permite a entrada do cão-guia sob a alegação de que vai incomodar os demais visitantes e que pode haver um conflito com os cães de uma raça típica peruana que normalmente são criado nas ruinas. O cão Pelado, como é conhecido, é conservado nas ruínas por estar praticamente em extinção e ser típico da região. A mesma alegação de que pode incomodar os demais clientes é utilizada para acesso a maioria das lojas e magazines.

O que mais me causou admiração foi ser barrado na Starbucks, uma loja de origem americana e com filiais em todo o mundo que, em tese, deveria ser totalmente isenta de preconceitos. No transporte público não tivemos grandes problemas, bastava avisar a algum responsável na estação de embarque e tudo estava resolvido.

Espero que o Peru, esse belo país, seu povo simpático  e acolhedor seja em breve contemplado com a aprovação do projeto sobre o cão-guia, beneficiando as pessoas com deficiência visual peruanas e todos nós turistas.

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1 Comentário

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