Autistas em viagem. A inclusão cruzando mares.
Quando Victoria Berrey fez um cruzeiro com sua mãe e sua irmã há três anos, voltou para casa em Santa Clarita, Califórnia, com apenas um arrependimento: ela nunca havia conseguido fazer uma viagem dessas com seus filhos, ambos autistas. “Eu me preocupava com o espaço confinado e com a necessidade de eles ficarem quietos no restaurante”, diz Berrey, cujo filho mais velho, Miles, de 12 anos, está numa dieta restrita, e cujo filho mais novo, Mathew, 8, tem dificuldades com qualquer mudança de rotina. “Para onde eu levaria Mathew se algo acontecesse e ele começasse a gritar? E se algum deles caísse no mar?”
Mas em março passado, Berrey e seus filhos fizeram um cruzeiro de três dias num navio da Royal Caribbean adaptado especialmente para pessoas com autismo. No embarque, as 11 famílias que haviam reservado o pacote “Autismo no Mar” pela agência Alumni Cruises não precisaram esperar em fila, e puderam responder à chamada de embarque numa sala de conferências privada, e não no porto – em meio a uma multidão de milhares de outros passageiros.
O grupo ficava junto durante as refeições; assim, quando uma das crianças ficava nervosa ou soltava um grito, não havia olhares de reprovação ou sermões no estilo “por-que-você-não-controla-seu-filho?”. Berrey pôde até mesmo deixar seus filhos na área infantil, com uma equipe especialmente preparada. “Tive a experiência que os outros pais têm o tempo todo”, disse.
As viagens de Autismo no Mar da Alumni Cruises, uma agência de viagens de Shelton, Connecticut, triplicaram nos últimos dois anos, ultrapassando em muito as viagens escolares da agência e chegando a representar quase metade de seu lucro. Adam’s Camp, uma organização do Colorado que tem sessões estilo acampamento para crianças com deficiência e suas famílias no Rancho Snow Mountain, em Granby, acrescentou uma quinta semana de atividades ao seu calendário desse ano, e está considerando acrescentar mais uma para suprir a demanda das famílias de crianças com autismo. Eles também começaram um programa em Nantucket e esperam acrescentar outros lugares.
No Smuggler’s Notch Resort em Vermont, três quartos dos participantes do programa para pessoas com necessidades especiais são autistas, e o número aumenta a cada ano, de acordo com Kris Connolly, gerente de programas adaptados do resort. O estabelecimento oferece cuidado individual quando necessário, ou dirige a criança autista para um grupo de crianças com a mesma idade de desenvolvimento, em vez de idade cronológica. “Podemos ficar 20 minutos a mais na piscina se a água acalmar uma criança, ou se ela gostar da sensação de boiar”, diz ela. “Se vemos que a criança gosta de ficar no balanço, é lá que passaremos mais tempo”.
E enquanto hotéis e resorts se concentram em acomodar hóspedes com deficiências físicas desde que o Ato de Americanos com Deficiência entrou em vigor em 1990, de acordo com Scott Berman, analista de lazer e hospitalidade na PricewaterhouseCoopers, a cadeia de 300 hotéis do Microtel Inns & Suites inclui discussões sobre deficiências como o autismo no treinamento da equipe. A rede foi premiada por organizações pelos direitos dos deficientes por cumprir e superar os requerimentos da lei para receber hóspedes com diferenças físicas.
“Há uma onda de mudança em termos de consciência”, diz Marguerite Colston, porta-voz da Sociedade de Autismo da América. Colston reconhece o mérito de celebridades na divulgação da causa, como o jogador do Miami Dolphins Dan Marino e a atriz Jenny McCarthy, que têm falado publicamente em prol de seus filhos e das crianças como eles.
“Antes, quando as pessoas ouviam a palavra autismo, pensavam em ‘Rain Man'”, disse a porta-voz, referindo-se ao filme de 1988 em que Dustin Hoffman interpreta um autista institucionalizado. “Agora as pessoas percebem que existe uma variedade maior”. E com cada vez mais diagnósticos de autismo entre as crianças – hoje é a deficiência que mais cresce nos EUA, de acordo com o instituto – “é muito mais provável que qualquer pessoa conheça alguém com autismo”, diz.
Tudo isso não é para sugerir que as férias com uma criança autista são fáceis. A própria idéia da viagem – a possibilidade de ver novos lugares, experimentar comidas novas, e outras culturas – é diretamente contraditória com as necessidades de muitos autistas, que requerem rotinas bem estabelecidas e restritivas para se sentirem seguras.
Fonte: Via 6
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