Turismo adaptado no Amazonas. Natureza, cultura e acessibilidade combinadas.
Manaus – Ao decidir para onde ir, a acessibilidade é ponto importante para quem possui restrições de mobilidade. O acesso fácil ao destino é a condição de alcance para a utilização de todos os espaços garantidos por Lei. Pensando nisso, os destinos turísticos precisam adaptar-se à realidade dos clientes e não o contrário. No Amazonas, a discussão sobre acessibilidade aos turistas é pauta para a busca de melhorias no setor.
Longe do é considerado ideal, o Estado vem “engatinhando” em alternativas que atendem um público cada vez mais exigente. O Amazonas está cravado no meio da Floresta Amazônica e as principais atrações turísticas exigem mobilidade. Nem sempre andar de canoa, barco ou fazer trilhas na floresta são tarefas fáceis para quem possui algum tipo de necessidade especial.
O cenário que já apresentou 0 (zero) de opções adaptadas, hoje já propõe experiências satisfatórias para quem deseja se aventurar no meio da Amazônia. Medidas para acessibilidade do turista foram adotadas no Amazonas e buscam estabelecer um turismo diferenciado na região.
Para deficientes auditivos
Em comemoração ao dia estadual e nacional do Turismo, foi lançado o aplicativo “Giulia- Mãos que falam“, um projeto de comunicação para surdos. O acesso ao programa permite que a pessoa com deficiência conheça os atrativos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), sem a necessidade de um intérprete de Libras. As informações dos animais, plantas e outros atrativos do lugar com a tecnologia na palma da mão.
O aplicativo está disponível para download em smartphones e o roteiro exclusivo de inclusão já faz parte da programação do Instituto. Desenvolvida pelo aluno de Turismo da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Thiago Souza, sob a orientação da doutora Selma Batista, a ferramenta ressalta a importância de projetos como esse, desenvolvidos exclusivamente para roteiros adaptados.
Vencedora do prêmio nacional de turismo na categoria Academia em 2018, a educadora defende a presença do surdo no turismo e sua independência. Mesmo sob essa ótica, o aplicativo não descarta o uso do intérprete de Libras.
“O projeto rompe barreiras na comunicação, com a garantia da inclusão da pessoa surda aos espaços de atratividade turística e de lazer. Ele promove o seguimento do turismo acessível”
A coordenadora de SNCT e de Tecnologia Social do Inpa, Denise Gutierrez fala da medida de inclusão como uma das mais importantes. Segundo ela, o Inpa atua em questões sociais, principalmente quando o assunto é inserção social.
“Inserir o deficiente auditivo no nosso circuito de visitação no bosque, através do aplicativo, faz com que a visitação seja relevante, compreensível e integrada à vida deles”
Para o diretor da Manauscult, João Araújo, as parcerias enriquecem a cadeia do turismo em Manaus e os envolvidos passam a enxergar a oportunidade com um novo olhar.
“Para o poder público é uma oportunidade de portas que se abrem, de experiências compartilhadas que ajudam na construção de políticas públicas cada vez mais eficazes”.
“O aplicativo permitirá ao surdo a visitação autoguiada passando pelos atrativos do bosque”, diz João Araújo.
Passeio de barco para deficientes físicos é viável?
Para os passeios na Amazônia, medidas são tomadas pelos donos de agências e têm feito a diferença para o turista com deficiência física. Nos portos de Manaus, as saídas fluviais para os principais locais de passeio possuem rampas de acesso até os barcos e lanchas.
Após chegarem na embarcação, as conduções dos cadeirantes são feitas por um acompanhante ou por um dos integrantes da agência. O profissional conta com a força “braçal” para carregar o turista até o assento. As lanchas não dispõem de poltronas específicas para pessoas com deficiência.
Da mesma forma acontece a locomoção das viagens terrestres em ônibus. A locomoção dos PCDs é feita de forma manual por parte dos trabalhadores das agências de turismo. A diferença são os assentos para portadores de deficiência física sinalizados nas saídas.
As agências, pensando no conforto de cada turista, buscam apresentar o roteiro antecipadamente e preparam os integrantes da equipe para inclusão de todos nos passeios turísticos.
Ilson Rogério é dono de uma agência de turismo no Amazonas e destaca a importância de promover um turismo com qualidade e acessibilidade para todos. Segundo ele, é dever dos próprios donos permitirem com que o Amazonas seja visto e reconhecido por todos, com passeios de qualidade e promovendo o respeito ao próximo.
“Sabemos que o nosso estado é rico e precisa ser conhecido. É um direito de todos desfrutar das riquezas e belezas da nossa região, independentemente do tipo de necessidade. Estamos aqui para aproximar e promover acessibilidade, esse é o nosso dever e missão”.
Para pessoas com deficiência visual
O Museu da Cidade, inaugurado em 2018 no Centro de Manaus, abriu as portas com inovação e recursos em acessibilidade desenvolvidos especialmente para pessoas com deficiência visual. O lugar dispõe de monitores treinados para receber os visitantes e promover um dia de aprendizado e interação com a cultura e história do Estado.
O trabalho foi desenvolvido em Manaus pelo professor doutor em Psicologia da Educação, José Ferreira Souza, que trabalha com acessibilidade cultural em museus. Manaus saiu na contramão dos demais museus de todo o Brasil, pois desenvolveu o projeto de acessibilidade antes de criar o espaço.
Com ajuda da tecnologia, aplicativos estão disponíveis para acesso de uma playlist com áudio guia de todo o conteúdo que o museu oferece.
A Lei da Acessibilidade, número 10.098 de dezembro de 2000, promove critério básicos para a acessibilidade de todas as pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, seja visual, locomotiva, auditiva e etc. Visa a eliminação de obstáculos e barreiras em vias públicas e outros setores, como o de transporte urbano.
Museu Eduardo Ribeiro
Entre os pontos turísticos de Manaus que oferecem adaptações às pessoas com deficiência está o Museu Casa Eduardo Ribeiro. Rampas e um elevador dão acesso a todos os cômodos do local, que já foi a antiga residência do ex-governador do Amazonas, Eduardo Gonçalves Ribeiro.
Maranhense, considerado um dos grandes nomes da história do Amazonas, Eduardo Ribeiro foi responsável por grandes obras no Estado, entre elas o Teatro Amazonas e o Palácio da Justiça.
O museu tem a exposição permanente do mobiliário residencial de época, objetos de uso pessoal e de arte que procuram recriar o modo de vida do final do século XIX e início do século XX, época em que Eduardo Ribeiro viveu. Localizado na Rua José Clemente, 322, Centro, o Museu Casa Eduardo Ribeiro realiza as visitas guiadas de terça a sábado, das 9h às 14h. A entrada é gratuita.
Gente que faz a diferença
O taxista amazonense Francisco Clerton, de 39 anos, decidiu adaptar o carro em que trabalhava. Viu na necessidade da região e no aumento da procura para roteiros adaptados, a oportunidade de atender à necessidade dos turistas que visitam o Estado. Ele se tornou o primeiro taxista para PCDs.
Investindo o dinheiro que recebeu na rescisão do último emprego, Francisco pensou na possibilidade de adquirir um carro totalmente adaptado, e conseguiu.
“Seu Francisco” não se arrepende do investimento, pois já possui clientes fixos e admiradores do seu trabalho.
Em busca do melhor
Em Manaus, todos os museus e teatros públicos possuem pistas de acesso para cadeirantes, guias para deficientes visuais e intérpretes em Libras para pessoas com deficiência auditiva.
A presidente da Empresa Estadual de Turismo do Amazonas (Amazonastur), Roselene Medeiros, vê como pontos positivos as ações que estão sendo tomadas para melhorar a acessibilidade no turismo
“São ações pontuais que estão aparecendo. A gente está fazendo um levantamento, um estudo para saber onde intervir. Hoje não se pode pensar em turismo sem acessibilidade. O Estado precisa oferecer isso porque há muitas pessoas interessadas em viajar até aqui. É dever de qualquer destino turístico oferecer esse tipo de acessibilidade”, garante Roselene.
A Secretaria de Estado de Direitos com Deficiência (Seped), que tem como finalidade a articulação, formulação, execução e a implementação de políticas públicas – que visem à melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência, é coordenada por Viviane Lago.
Ao Em Tempo, a secretaria confirma a visão da passa quando o assunto é acessibilidade na área do turismo da região. Segundo ela, 13.585 pessoas (com base nos dados de janeiro de 2019) possuem algum tipo de deficiência no Amazonas.
Fonte: d.emtempo
Compartilhe
Use os ícones flutuantes na borda lateral esquerda desta página
Siga-nos!
Envolva-se em nosso conteúdo, seus comentários são bem-vindos!
Artigos relacionados
Acessibilidade no ESG. Equipotel aborda o tema para o turismo.
Acessibilidade no ESG, para o mercado do turismo. Equipotel aborda a importância da inclusão da pessoa com deficiência.
Morte Sobre Rodas. Filme inclusivo foi candidato ao Oscar.
Morte Sobre Rodas. Dois protagonistas do filme, são pessoas com deficiência, um usuário de cadeira de rodas e outro com paralisia cerebral.
Paralimpíada de Paris 2024. A deficiência não é um limite.
Paralimpíada de Paris 2024. A cidade luz sedia o maior evento esportivo do mundo para as pessoas com deficiência.
0 comentários