Turismo para todos – Pacotes específicos para deficientes são cada vez mais comuns em agências do país
*Esta matéria foi escrita com a colaboração de Ricardo Shimosakai e publicada no Jornal Agora, Caderno de Turismo, páginas C10 – C12, em 20 de janeiro de 2011.
De uns anos para cá, o mercado turístico no Brasil tem se desdobrado para tentar atender aos mais diversos perfis dos viajantes. De observação de pássaros a atividades como rapel e mergulho, as agências e operadoras formatam seus pacotes tendo em vista agradar todo tipo de público, inclusive um específico e promissor: o portador de deficiência física. E algumas empresas de viagem já perceberam isso.
“Esperar pela acessibilidade total é a pior coisa que um cadeirante ou deficiente de qualquer tipo pode fazer. O jeito é descobrir os pontos acessíveis, ou de melhor acesso, em cada destino”, sugere Ricardo Shimosakai, diretor da agência Turismo
Adaptado. “Nossa missão é justamente montar pacotes personalizados para nossos clientes, de acordo com as dificuldades e vontades de cada um.” Ele mesmo deficiente e aventureiro, Shimosakai já rodou o Brasil e o mundo, mapeando os lugares que melhor acolhem a pessoa com mobilidade reduzida.
Outras agências que oferecem atendimento especial são a Jully Tour e a Free Way. A última, focada no turismo de aventura, criou o projeto Ecossível. Iniciativa de Sonia Werblowsky, uma das fundadoras, o programa forma grupos de viagens pelo país desde 2004. “Ao contrário do que se pode imaginar, o turismo radical é muito procurado pelos clientes com deficiência”, diz ela.
À frente da ONG I.Social, que há dez anos luta pela inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho, Andrea Schwarz elaborou, em 2009, o guia turístico “Brasil para Todos” (320 páginas; Áurea Editora). “Mandamos um repórter e um deficiente para cada uma das dez capitais analisadas e constatamos as dificuldades e facilidades enfrentadas. Não há conto de fadas. Em todos os lugares existem algumas barreiras para o deficiente físico. A ideia é orientar o turista para que ele saiba até onde é possível chegar”, explica Andrea.
Segundo ela, no entanto, o aumento da procura por pacotes para deficientes vem criando uma demanda por melhorias. “Os grandes centros, como Rio, São Paulo e Curitiba, são os que recebem melhor. Na região do Nordeste, a coisa se complica um pouco mais, e os hotéis cinco estrelas são os poucos que oferecem condições”, complementa.
Suporte total ao deficiente
Em 2001, um episódio mudaria para sempre a vida de Ricardo Shimosakai. Vítima de um sequestro relâmpago, ele foi baleado e perdeu o movimento das pernas. Em vez de se entregar à tristeza, decidiu pensar em alternativas para continuar fazendo aquilo que mais gosta: desbravar o mundo. Formou-se em turismo e se especializou em oferecer alternativas para deficientes. “Percebi que não se tratava de uma vontade só minha e comecei a trabalhar nessa área, focado tanto em uma oportunidade de mercado quanto em um modo de orientar meus colegas com deficiência.” Hoje, ele é diretor da Turismo Adaptado, uma das maiores prestadoras de serviços voltadas exclusivamente a garantir acessibilidade a pessoas com deficiência e mobilidade reduzida.
Bertioga tem o melhor acesso
No litoral paulista, apenas uma praia é considerada totalmente acessível aos deficientes físicos: a da Enseada, em Bertioga. Lá, o projeto Praia Acessível, do governo do Estado, lançado em fevereiro do ano passado, em parceria com o Sesc, disponibiliza cinco cadeiras anfíbias que permitem ao visitante cruzar a faixa de areia e flutuar na água. O projeto disponibilizou, ao todo, 30 cadeiras a sete municípios litorâneos — Bertioga, Peruíbe, Mongaguá, Guarujá, Praia Grande, São Vicente e Itanhaém. A iniciativa do Sesc mantém em funcionamento uma tenda com monitores, aberta diariamente das 8h às 15h. Outras cidades também oferecem acessibilidade, como São Sebastião, onde as cadeiras ficam disponíveis nos fins de semana e feriados nas praias centrais.
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