Campos de Jordão. Críticas e elogios de um turista cadeirante
Há um certo tempo vinha querendo conhecer Campos, e agora a convite de um amigo, calhou de combinarmos e ir visitar essa bela cidade. Ela fica na Serra da Mantiqueira, bem no alto, uma vista magnífica, acolhedora e até empolgante. Como toda cidade serrana, é de clima frio e muito conhecida por sua temporada, que é no inverno, com seus vários bares, restaurantes e hotéis, que variam dos mais simples aos mais requintados.
É uma cidade diferenciada, portanto, não vá esperando encontrar opções muito em conta. Fomos em dezembro, fora de temporada, e ficamos dois dias pagando uma diária no Albergue da juventude chamado Campos do Jordão Hostel. Ambiente limpo e simples, mas bem cuidado. Bom atendimento mas, ainda que conste no site oficial dos Albergues no Brasil o símbolo internacional de acessibilidade indicando que o local possui quarto adaptado, a informação não procede.
Como seguro morreu de velho, troquei emails, antes de fazer a reserva, diretamente com o pessoal responsável pelo local. Fui informado que sim, há duas suites no térreo, pois o restante, inclusive a recepção, fica na sobreloja, com acesso somente por escada. As suites ficam em frente ao estacionamento, o que facilita bastante o acesso porém (sempre há um porém), não fui informado que o terreno é irregular, com pedras (brita) e, entre as pedras e a calçada em frente aos quartos, há uma valeta, ou seja, uma roubada se estivesse sozinho.
No banheiro, o trinco é daqueles bem simples, de metal, em “L”, que quando entra no buraco do batente você vira e trava, mas precisa de um empurrão, pois a porta cedeu um pouco e não fecha por completo. Tudo bem que uma pessoa com comprometimento severo não viaja sozinha, mas até o mais normal dos normais tem dificuldades pra fechar aquilo, pois não tem um puxador, apenas o trinco na porta, enfim… Fechada a porta, nossa, que aperto. Praticamente não há como se locomover dentro do banheiro, basta virar seu tronco para a direita e usar a pia, se projetar para a frente e já está no vaso sanitário, mas para tomar banho só ultrapassando o box de acrílico e ficando de pé.
Felizmente consigo ainda usar muletas para percursos pequenos, a mobilidade não é lá essas coisas, chega a ser bem precária, tanto que utilizo a cadeira o tempo todo, mas, se fosse outra situação, certamente eu e principalmente o local teria tido uma noite memorável pois, segundo um amigo, advogado, caso passe por uma situação como essas a primeira providência é o contato com o pessoal da recepção, para informar o problema e pedir uma solução. Não havendo solução, peça para falar com alguém superior a ele, um gerente ou ainda que seja o dono do estabelecimento e, ainda assim, não havendo solução, o jeito é ir mesmo a uma delegacia e registrar uma ocorrência. Infelizmente se faz necessário, afinal, o que você vai fazer, tomar banho na pia e ainda pagar por isso? Transtorno superado e banho tomado, numa cadeira de plástico, dessas de jardim mesmo, fui pra cama, recuperar um pouco o fôlego e esperar os outros ficarem prontos.
Fomos até uma estação de trem e pesquisamos os passeios oferecidos. São dois, um que percorre a região urbana da cidade, custa R$ 15,00 por pessoa e sai de hora em hora. O outro, que participamos, que vai de Campos até Santo Antonio do Pinhal, sai por R$ 40,00 por pessoa e tem duração de 2 horas e meia e todos saem lá da estação no Parque Capivari. Por ser cadeirante, não cobraram o meu ingresso. A rampa para entrar no trem, é o seguinte: muito bem bolada (ao menos nunca tinha visto uma assim), ela tem mecanismo tracionado por alavanca que, quando acionada, levanta toda a plataforma e a deixa sobre três rodas, fazendo com que seja facilmente transportada e utilizada em outro lugar. Confesso que me surpreendi com a estrutura do local, muito pequeno, mas em vista de Campos, dá de 10!
Na estação de Campos, para embarcar, há uma escada de metal, com dois degraus que servem de acesso entre a plataforma e o vagão. O acesso seria muito mais simples, não só aos cadeirantes, mas a todos, se fosse uma pequena rampa, como outras duas que estão disponíveis na estação. Questionei um dos funcionários do porque usarem a escada e não a rampa, pois foram obrigados a me puxar pra dentro do vagão, e ele disse que, como são carros diferentes, cada um tem uma altura, ou seja, as outras duas rampas eram para os outros modelos, que fazem o circuito local. Uma coisa que notei na cidade é que o pessoal, por descuido ou sei lá qual outro nome caiba, talvez humor, são bem desligados quando o assunto é acessibilidade. Há uma foto de uma vaga de estacionamento que fica, caprichosamente, numa descida, sendo que há uma avenida inteira, logo abaixo, totalmente plana.
Outra piada, que vemos muito em São Paulo, são as rampas que costumo chamar de rampa órfã. Ela tem começo (mãe) mas não tem fim, ou seja, você usa pra atravessar a rua, quando chega do outro lado, surpresa!!! Não tem como subir, não tem outra bendita rampa e você fica ali, com cara de otário esperando alguém pra lhe ajudar ou vai na fé e fica na rua mesmo. Já no Capivari, não tem jeito, vá pela rua, pois na calçada, quando encontrar a rampa, certamente haverá um carro na frente dela, sem falar que elas, calçadas, são na maioria de pedra, muito irregulares, detonam rapidinho a cadeira.
Fonte: Dois Dias e Uma Cadeira
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Que coisa engraçada ne? ironica estou sendo.Justo Campos do Jordao?Qd ouço falar nesta cidade logo me vem a cabeça pessoas bonitas,lotação maxima,ferveçao no inverno!!!Agora posso acrescentar mais uma coisa em minha mente….CIDADE despreparada,gente mal educada,uma VERGONHA!!!!!!!
Realmente se nao nos unirmos a fim de cobrarmos o que esta errado,sera dificil vencer mais essa barreira.
Até relevo o despreparo, pois a acessibilidade é um assunto que começou a cair no interesse da sociedade faz pouco tempo. Mas a partir do momento que eu mostro os melhores caminhos para se resolver esse despreparo, e mesmo assim não há iniciativa da outra parte, ai considero um descaso. E descaso é coisa que não suporto para mim, e que na verdade também é para meus colegas.
Estou de pleno acordo com Anapaula. Os políticos precisam deixar de lado os discursos capitalistas visando obras q beneficiam uns poucos e c certeza atendendo a interesses particulares,sempre objetivando o lucro pessoal ,e trabalhar p atender o q realmente é importantante p o povo,p nós ,q os elegemos Se eles não fazem ,a gente pelo menos cobra ,luta,escreve,denuncia ,sem covardia pois como diz a música “quem sabe faz a hora não espera acontecer”
Acho que é difícil lidar com o poder público e políticos, mas é necessário. Muitas palavras, burocracia e jogo de interesse. Isso acontece também nas empresas privadas, porém é mais fácil ter uma posição. Tenho colocado empresários que tem poder de decisão no paredão, exigindo as questões de acessibilidade e inclusão. Pedidos e aconselhamentos não tem dado resultado, por isso passei a ser mais objetivo e de um certo modo agressivo, quando tenho certeza de que estou com a razão.
Infelizmente a cidade não mudou nada… o assunto acessibilidade já não é mais tão novo, e mesmo assim, estive lá esse final de semana e notei que nada foi feito… impossível para um cadeirante, ou mesmo com alguma dificuldade de locomoção andar sozinha pelo centro da cidade, sem contar em alguns estabelecimentos que não tem banheiro, e alguns q tem, fica no piso superior, apenas com acesso por escada… esperava muito mais da cidade, que por ser turística, devia se preocupar mais, ainda mais sendo uma cidade bem cara…
Muitos lugares, até mesmo cidades com várias opções de acessibilidade, um turista com deficiência, viajando sozinho pode encontrar várias dificuldades. Mas é possível desfrutar da melhor maneira viajando através de quem realmente conhece sobre acessibilidade e turismo, como a TURISMO ADAPTADO que faz o agenciamento de viagens. Pense nisso em sua próxima viagem, pois seu dinheiro será melhor aproveitado e sua satisfação será maior.
Muito bom saber dessas coisas ! Tenho Esclerose Múltipla e ando apenas com andador pequenos trajetos. Já tinha ido em Campos quando ainda não precisava de auxílio e vi que todas -todas- as ruas são de pedra ! Na época não me importei, pois nem sabia que um dia isso seria um entrave para mim ! Estava pensando em voltar, mas já vi que é realmente muito complicado e confuso para quem não consegue tomar banho em pé e tem dificuldade motora !
OBRIGADA !!!
Eu já fui depois que fiquei cadeirante. Pessoas diferentes, podem ter opiniões diferentes. Além disso, essa visita da matéria já faz tempo, as coisas podem ter mudado. Na minha experiência, tive dificuldades, mas no final acho que valeu a pena. Ir por conta própria, você pode encontrar mais dificuldades, aconselho a pegar um serviço de quem conhece a cidade, e conhece o que é acessibilidade.