Os óculos que prometem devolver a visão aos cegos
Encaixar imagens virtuais no mundo real. É isto que a realidade aumentada permite fazer. Uma potencialidade que já está a ser utilizada no turismo, educação, entretenimento, transportes, a nível militar e na saúde. A italiana Sara Mautino explora as potencialidades da área desde 2011. Começou em Portugal, na empresa de desenvolvimento de produtos aeropespaciais Lusospace. Recorda-se perfeitamente da primeira vez que utilizou um head-mounted display (HMD), o dispositivo de vídeo usado na cabeça como se fosse um capacete, com fones e uma interface que permite a cada utilizador experimentar um ambiente de realidade virtual.
“Não eram de muito boa qualidade, parecia que tinha um ecrã de computador colocado mesmo em frente dos olhos, não parecia nada natural”, recorda ao Delas.pt Sara Mautino. Nos últimos anos, a italiana participou no desenvolvimento dos óculos de realidade aumentada HoloLens, da Microsoft, que já estão à venda em vários países da Europa, Austrália, Nova Zelândia, EUA e Canadá, e garante que a qualidade é incomparável. “Têm uma qualidade enorme, é muito para um HMD. Para quem não tem essa sensibilidade pode parecer pouco, mas não é”, explica.
O que mais fascina Sara Mautino nesta área é a hipótese de poder usar a tecnologia para melhorar a vida das pessoas. No futuro, acredita que este tipo de óculos vão poder melhorar ou até devolver a visão a quem a perdeu. A patente que está a desenvolver, em conjunto com outros investigadores da área, permite que quem tem problemas graves de visão passe a ver bem.
“Possibilita à pessoa ver uma imagem bem mais nítida ou resolver alguns problemas de retina, utilizando a parte saudável da retina para que a imagem se possa ver bem. É pensada para as pessoas que têm muitas dioptrias e que têm dificuldade em usar óculos porque as lentes ficam muito espessas, muito pesadas, criando um efeito túnel que dificulta a visão à própria pessoa, que passa a ver a realidade como se estivesse dentro de um tubo”, revela a italiana.
Da saúde para a arquitetura
Desde 2014 que a empresa sueca de móveis e decoração IKEA permite que os clientes possam ver como alguns dos móveis ficam na sua própria casa antes de comprá-los, através de uma aplicação para dispositivos móveis. Agora, graças à Realidade Aumentada, é possível visitar casas e outros edifícios antes de estarem construídos. A arquiteta Cláudia Antunes, da empresa Stratbond Consulting, vai ser uma das pioneiras a implementar esta funcionalidade em Portugal.
“Viemos ao encontro da IT People Innovation – empresa de consultoria de informática – porque queríamos uma aplicação que nos permitisse colocar os modelos que construímos virtualmente, em 3D, numa aplicação de telemóvel ou tablet para podermos, em obra, construir ou investir na manutenção dos edifícios. O GPS georreferência a construção, no sítio onde ela vai existir, ou seja, nós só temos de associar o nosso modelo de construção a uma coordenada de GPS e com os óculos ou tablet percorrer a casa sem ela estar construída”, afirma Cláudia Antunes.
A IT People, empresa que criou a App ARchitect, que torna estas visitas virtuais em espaços inacabados possíveis, já está também a desenvolver outras aplicações que possam ser utilizadas com os óculos HoloLens, da Microsoft. Uma delas estará associada ao primeiro parque turístico com recurso às experiências de Realidade Aumentada.
“Ainda estamos na fase de levantamento do património, mas acreditamos que será um projeto estruturante para o turismo no norte do país”, revela Luís Martins, diretor de marketing da IT People.
A BlissApplications é outra das empresas portuguesas que, apesar de os HoloLens ainda não estarem à venda em Portugal, já está a desenvolver aplicações para os óculos da Microsoft.
“Atualmente estamos a desenvolver aplicações que nos permitem ganhar um conhecimento mais profundo sobre o produto HoloLens. Vou dar um exemplo. O HoloLens não tem dispositivo GPS, mas podemos recorrer ao GPS de um dispositivo móvel e emparelhar os óculos, utilizando o que de melhor têm os dois produtos”, explica Pedro Varela, Business Developer da Bliss.
A Realidade Aumentada ainda está a dar os primeiros passos em Portugal. Quem está a caminhar com esta tecnologia não tem dúvidas de que, no futuro, a importância desta inovação será “esmagadora”. “Se a Internet e os telemóveis mudaram o nosso quotidiano, a Realidade Aumentada vai mudar a forma como entendemos os telemóveis, a Internet, o nosso quotidiano e a nossa vida. Na IT People Innovation já sentimos o início desta vertigem de mudança em diversos mercados”, acrescenta Luís Martins.
Fonte: Delas
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