Desculpas para não viajar costumam aparecer no vocabulário de muita gente. Falta de dinheiro, falta de tempo, cansaço só de pensar em planejar o roteiro: essas são algumas das mais comuns. Mas conhecer a história de Luiz Thadeu Nunes e Silva, 56 anos, vai fazer você pensar duas vezes antes aparecer com alguma delas. Há 11 anos, o engenheiro agrônomo maranhense sofreu um acidente de carro que lhe roubou o movimento de uma das pernas. Desde então, ele usa muletas para se locomover — e, com elas, vai muito mais longe que a maioria das pessoas.

Depois de ficar quatro anos hospitalizado, decidiu viver com intensidade e conhecer o mundo. Hoje, Luiz está em uma viagem com o filho mais novo por 10 ilhas caribenhas e, ao fim do passeio, vai completar 90 países visitados na vida. “O objetivo é chegar a 120. Estou quase lá”, comemora. Com um acúmulo de experiências e de dicas de como economizar, ele conversou com o Turismo durante as poucas horas que passou em conexão no Aeroporto de Brasília, entre um voo e outro. Confira como foi.

Sempre gostou de viajar?

Sim. Desde que passei a usar muletas, comecei a viajar com frequência a partir de 2009. Mas eu já viajava muito quando era bem jovem. Durante a faculdade, saí da minha cidade, São Luís, para participar dos projetos Rondon e Mauá, no Norte e no Rio de Janeiro.

Conte sobre o acidente que o levou a ter que andar de muletas.

Eu tinha pegado um táxi no interior do Rio Grande do Norte. Era fim de tarde e estava chovendo. O celular do taxista tocou e, quando ele foi pegar o aparelho para atender, batemos de frente com um caminhão. Eu tive fratura exposta do fêmur e, por conta disso e dos problemas posteriores, passei pelo centro cirúrgico do hospital 43 vezes. Fiquei um bom tempo, ainda, usando o ilizarov, aquele fixador de aço que fica parafusado à perna. Eu tenho até hoje osteomelite, uma infecção nos ossos. Mas, com as muletas, posso andar e ir aonde quiser.

o-engenheiro-luiz-thadeu-na-ilha-de-pascoa-104-paises-no-curriculo-de-viajanteO engenheiro Luiz Thadeu na Ilha de Páscoa: 104 países no currículo de viajante

Por que decidiu explorar o mundo?

Fiquei quatro anos da minha vida em cima de uma cama. Eu quis compensar o tempo perdido e ter experiências gratificantes. Para mim, viajar é o melhor presente. Meu lema é “Terra: aproveite enquanto você está em cima dela”. E eu aproveito.

Normalmente, o senhor viaja sozinho ou acompanhado?

Os dois. Costumo planejar por minha conta e, quem quiser, pode se juntar a mim. Quem mais me acompanha é meu filho mais novo, o Fred, de 26 anos, que já foi a 67 países comigo. Às vezes, meu filho mais velho, o Rodrigo, de 28, também viaja comigo. E, outras vezes, quem acompanha é minha mulher, que também é engenheira agrônoma. O que facilita é que nós fazemos trabalhos remotos, então, podemos viajar sem abandonar o trabalho.

Quando viaja sozinho, é mais difícil?

Um pouco, porque eu não falo inglês. Mas, mesmo assim, eu me viro, pois não sou tímido.

Quais os principais problemas que enfrenta ao viajar usando muletas?

Aqui no Brasil, o problema é a falta de estrutura das companhias aéreas. Às vezes, falta até cadeira de rodas, que eu costumo usar no trajeto, principalmente quando tem conexões, para agilizar. Mas, apesar disso, aqui ainda sou mais respeitado que lá fora. Na maioria dos outros países, não há, por exemplo, fila preferencial para quem tem necessidades especiais.

Viajar é caro? Qual é o segredo para economizar?

É preciso pesquisar e ter muita persistência. Como essa é a minha paixão, olho preços de passagens e promoções aéreas todos os dias, em um site que reúne essas informações. O fato de poder viajar em qualquer época do ano ajuda a aproveitar essas promoções malucas que aparecem, principalmente fora da alta temporada. Outro ponto importante para economizar: o preço das passagens é o fator principal na hora de decidir o destino. Às vezes, penso em ir para uma cidade, mas vejo bons preços de passagem para outra, então mudo a rota. Estou planejando, ainda, comprar a passagem de volta ao mundo da One World, que sai bem mais barata do que comprar cada uma separadamente. Eu aconselho que você compre tudo pela internet, pois é mais barato. No começo, ficava em albergues, mas depois, comecei a perceber que, muitas vezes, compensa ficar em hotéis, se você comprar on-line. Eu sempre uso o mesmo site para fazer reservas e, por conta disso, a cada 10 noites reservados por ele, eu ganho uma hospedagem. Além disso, vale a pena utilizar o cartão de crédito para juntar milhas e comprar mais milhas quando as companhias oferecem descontos. Tenho um grupo de amigos que sempre avisa quando tem uma dessas promoções ocorrendo.

O aumento do dólar impactou muito suas viagens?

Nem tanto. O custo do que você faz durante a viagem, como ir a um restaurante, de fato, pesa mais no bolso. Mas o preço das diárias de hotel, comprando pela internet, continua o mesmo, e as passagens aéreas também. Pegando promoção, sai, inclusive, bem mais barato que no ano passado.

Qual viagem mais marcou?

É difícil dizer, pois foram muitas e eu aprendi com todas elas. Mas houve um mês em que fiz algo incrível. Visitei os dois pontos habitáveis mais extremos da América: Ushuaia, que é o local mais ao sul, e, depois, a cidade mais ao norte do Alasca. Isso me marcou bastante.

Quais são os próximos destinos?

Bem, estou indo daqui a pouco para o Caribe. Vou conhecer República Dominicana, Jamaica, Aruba, Curaçau, Barbados, Ilhas Virgens Americanas, Saint Martin, St. Lucia e St. Cristovan e Neves. Ao fim dessa viagem, vou completar 90 países conhecidos. O objetivo é chegar a 120. Estou quase lá. Ainda neste ano, vou para a China, em setembro. Em janeiro de 2016, vou conhecer o sudeste asiático e, posteriormente, a Índia. Meu sonho é conhecer uma ilha do Pacífico chamada Kiribati, que é um dos lugares mais remotos da Terra e, por ser muito pequena, corre o risco de sumir do mapa nos próximos anos. Quero ir logo, antes que seja tarde.

Fonte: Diario de Pernambuco

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