A discussão sobre a falta de filmes legendados nos cinemas catarinenses ganhou nova proporção neste domingo (20) com o protesto da estudante Danielle Kraus Machado, de São José. Com perda auditiva moderada, ela tentou assistir aos filmes A Era do Gelo 5 e Procurando Dory no Cinépolis do Continente Shopping, em São José, porém não havia nenhuma sessão legendada.

Cansada de lidar com a falta de acessibilidade – que, vale lembrar, é direito garantido pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência -, ela posou com cartazes na frente do cinema e publicou as fotos em seu perfil no Facebook. Em menos de 24 horas, o post já ultrapassou 30 mil curtidas e compartilhamentos.

Veja a publicação:

Hoje fui no Continente Shopping – São José, onde o cinema é da empresa Cinépolis.
Queria assistir A Era do Gelo ou Procurando Dory. Porém tenho perda auditiva bilateral moderada, e mesmo com aparelhos auditivos preciso de legenda.
Só que não tinha.
Depois de esperar um tempão pelo gerente, ele vem e só fica falando “Você que procure seus direitos então, eu não posso fazer nada, quem decide se é legendado ou dublado é a distribuidora.”
Porém já descobri que quem decide isso é o pedido do cinema, ou seja, dele mesmo. (corrigindo: esse sistema de quem decide é o próprio cinema, foi de outra empresa de cinema, não era a mesma, desculpa)
Ok, ele “não pode fazer nada “, mas eu posso. Vai ter processo, vai ter exposição e por mim teria boicote também.
Vai ter resistência.
Vai ter cartaz.
Vai ter denúncia.
Vai ter luta.
Semana que vem tem mais, quem conhecer alguém que tenha interesse em ir junto, só avisar.(Será em outros cinemas que também não cumprem a lei)
Essa luta é por todas as pessoas com deficiência.
Se você não diz à uma pessoa com deficiência física, cadeirante:
“Se essa rua não tem rampa é só passar em outra, ué, que frescura, quer andar em todas as ruas, igual todo mundo ”
Então não diga à uma pessoa com deficiência auditiva:
“Se esse filme não tem legenda é só ver outro, ué, que frescura, quer ver todos os filmes, igual todo mundo “.
Deu pra notar a descriminação ??

Obs: Já tentei assistir dublado. Mal entendi 3 frases. Não adianta eu querer fingir que não tenho deficiência auditiva.
‪#‎descriçãoparacegover: mulher segurando cartazes, em frente ao cinema, com os dizeres: Este cinema não respeita surdos, legenda pra quem não ouve é lei, pessoas com deficiência existem, lei 13.146 acessibilidade é um direito, mais legenda menos exclusão, e se fosse com você?, quero assistir A Era do Gelo e Procurando Dory, cadê a legenda? surdos existem.

— Jamais imaginei tamanha repercussão. Com esse protesto, queria apenas reunir um pequeno grupo de pessoas com deficiência auditiva para fazer campanha de conscientização nos outros cinemas, para chamar a atenção da mídia. Só que tudo foi tão rápido que, quando vi, muitas pessoas já estavam apoiando a causa — comenta a estudante.

Daniella, que tem 19 anos e estuda Engenharia Elétrica no IFSC, pretende fazer um BO e levar o processo adiante para que os direitos das pessoas com deficiência sejam garantidos. Ela também quer levar o protesto para outros cinemas da região para conscientizar as pessoas sobre a falta de inclusão.

— Quero que qualquer pessoa, independente de ter uma deficiência ou não, possa ir no cinema sem restrições. Isso já é lei, só falta acontecer na prática. Eu já fui diversas vezes e desisti de ver filmes que queria por falta de acessibilidade. É chato, sim, revoltante. Mas parece que enquanto não fizer “barulho”, ninguém liga. Acham que colocar legendas é luxo, pedir demais — protesta a jovem, que tem um blog onde compartilha suas experiências.

O DC entrou em contato com a assessoria do Continente Shopping, que disse que a responsabilidade pela exibição dos filmes é da rede de cinemas Cinépolis. Por meio de nota, a assessoria da rede informou que aguarda o resultado da consulta pública sobre critérios de acessibilidade visual e auditiva.

Legenda para quem não ouve é lei!

Legenda para quem não ouve é lei!

Confira a nota na íntegra:

A Cinépolis do Brasil zela pelo cumprimento da legislação perante todas as esfera da administração pública. No caso em comento é importante ressaltar que a norma relativa a critérios de acessibilidade visual e auditiva encontra-se em fase de Consulta Pública, aberta em 30.06.2016 e com encerramento previsto para 01.08.2016, conforme verifica-se pelo site da própria ANCINE – Agência Nacional do Cinema.

Tão logo encerre-se esta fase e haja a edição de norma específica regulamentando o tema, esta será acatada em seus termos por esta empresa, sempre oferecendo a todos os nossos clientes a melhor experiência de cinema.

O que diz a lei

De acordo com a o Artigo 42 da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, a pessoa com deficiência tem direito à cultura, ao esporte, ao turismo e ao lazer em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. As salas de cinema devem oferecer, portanto, recursos de acessibilidade em todas as sessões.

— A falta de filmes com o idioma original e acompanhados de legenda torna as salas de cinema praticamente inacessíveis às pessoas que teriam a legenda como única opção. Também é importante integrar uma janela de interpretação em Libras no canto da tela, pois existem pessoas com deficiência auditiva que não são alfabetizadas. Apenas inserir legendas em português não é garantia de acessibilidade — defende Ludmila Hanisch, presidente da Comissão do Direito das Pessoas com Deficiência da OAB-SC.

Fonte: DC

" });