O projeto é da companhia Leirena Teatro e envolve utentes de quatro instituições: Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo de Leiria, Organização de Apoio e Solidariedade para a Integração Social (OASIS), Cercilei e Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral de Leiria.
“Sempre tentámos com as nossas peças chegar a toda a gente. Mas havia esta lacuna: as crianças, jovens e adultos com necessidades educativas especiais. Agora estamos a conseguir fazê-lo, neste projeto que procura aliar o teatro e terapia ao longo da formação e criação artística”, afirma Frédéric Pires, ator e encenador do Leirena.
Arte e Terapia é coordenado por dois atores da companhia e por uma terapeuta da fala, Cindy Zoeb.
Atualmente, trabalha com dez utentes daquelas instituições, que têm idades compreendidas entre os 11 e os 40 anos e patologias como autismo, trissomia 21, atrasos cognitivos ou problemas motores.
“Temos como exemplo a Crinabel, de Lisboa. Começou há muitos anos e hoje é uma companhia de teatro. Queremos fazer algo quase similar, mas com o fator terapêutico envolvido, intervindo diretamente e individualmente com os problemas de cada um dos elementos, conforma as suas dificuldades e patologia”, sublinha o encenador.
Para já, o grupo está a conhecer-se e a criar espírito de equipa. “É palhaçada pura, por agora. Depois das férias de verão, começamos a trabalhar o espetáculo”.
A estreia em palco deve acontecer em junho de 2017, mas até lá é preciso conhecer-se os futuros atores.
“Se vir que têm a motivação, o impulso, a força e a garra, podemos fazer Beckett ou Federico Garcia Lorca. Não há limites nem receios. Têm necessidades educativas especiais, mas são pessoas com capacidades. Podem ter uma deficiência motora, mas sabem falar, sabem pensar. Se vir que têm competência para pegar em Brecht, faremos Brecht”, promete Frédéric Pires.
A par do trabalho dramático, os atores de Arte e Terapia vão integrar a equipa do Leirena, numa perspetiva inclusiva: “Não vão fazer só trabalho de ator. Quando o Leirena tiver espetáculos em Leiria, vão lá estar a fazer a frente de casa, a entregar a folha de sala ao público. Vão estar ali connosco”.
Dentro de um ano, Frédéric Pires acredita que os utentes das quatro instituições envolvidos no projeto estarão diferentes.
“Imagino-os a mandar calar muita gente e a tomar iniciativas por si mesmos. Quero que tenham força para levantar a cabeça e dizer ‘posso fazer isto’. Têm de ser afirmativos. O teatro é afirmativo, não pode ser negação”.
Fonte: Notícias ao Minuto