O investidor britânico Hardeep Rai viu sua vida ser virada de ponta-cabeça quando seu filho nasceu, em 2006. Além das mudanças esperadas na rotina de um pai de primeira viagem, o fato de Eshan ter paralisia cerebral fez Rai ver tudo sob uma nova perspectiva –inclusive seus negócios.
Tanto que ele criou um fundo de investimentos apenas para apoiar empreendedores deficientes, para incentivá-los a abrir o próprio negócio.
“Há toneladas de boas ideias por aí, apenas esperando para sair do papel.”
“À medida que acompanhava meu filho se desenvolver, eu percebia a magnitude de sua deficiência e também as barreiras que ele tinha de enfrentar”, disse.
Isso o fez pensar na quantidade de pessoas em situações similares, com potencial para empreender, mas sem oportunidades ou apoio. Assim, ele criou o fundo, chamado Kaleidoscope. Seu projeto tomou forma após uma reunião com Shane Bratby, que é deficiente, e tem um site chamado Disabled Entrepreneurs (empresendedores deficientes).
Para Shane, abrir o próprio negócio pode ser uma ótima maneira de um deficiente se sustentar. Mas ele está ciente de que, para muitos, ter um capital de investimento inicial é um grande obstáculo.
“Eu acho que muitos gerentes de banco têm medo de emprestar dinheiro para deficientes”, diz Shane. Para ele, muitos investidores temem que nunca terão seu dinheiro de volta.
Benefícios
Mas dados do Office for National Statistcs (ONS), órgão do governo britânico, mostram que, das 30 milhões de pessoas aptas a trabalhar no país, 12% são deficientes.
No entanto, a taxa de emprego entre deficientes no país é de 46%, bem mais baixa do que os 76% entre os trabalhadores sem deficiências. Os dados mostram ainda que entre os 4 milhões de trabalhadores autônomos britânicos, apenas 14% são deficientes.
Além dos riscos intrínsecos a qualquer novo negócio, os deficientes também temem perder a segurança dos benefícios que recebem. Brendan (que não quis dar o sobrenome por temer ser identificado) disse temer ficar preso na chamada “armadilha dos benefícios”.
Eu fico com medo de perder essa minha zona de conforto, de ficar sozinho”, disse.
Brendan já havia tentando trabalhar por conta própria como ator, mas diz que acabou perdendo os benefícios. Agora, ele pretende abrir um negócio ligado à arte.
“E se eu não conseguir dinheiro suficiente para me manter? Se o governo desse mais benefícios e oportunidades, certamente mais deficientes decidiriam abrir seu próprio negócio.” O interesse ficou evidente no evento organizada por Rai para apresentar detalhes da Kaleidoscope.
Um dos potenciais investidores do fundo é John Stapleton, fundador da marca de sopas New Covent Garden e da linha de alimentação infantil Little Dish. Ele enfatiza que investir nessas pessoas não é caridade. “Não estou planejando doar meu dinheiro. Eu quero retorno. Então, se o negócio for promissor, vou investir.”
Brad Francis, que sofreu um infarto com graves sequelas aos 29 anos, é um dos interessados no apoio da Kaleidoscope. Ele diz que não pode revelar qual será seu produto, mas diz que será ligado a um estilo de vida divertido para deficientes.
Fonte: BBC