A menos de 500 dias dos Jogos Paralímpicos de 2016, deficientes físicos na cidade comprovam: o Rio de Janeiro ainda tem um desafio gigantesco em acessibilidade. Levantamento do instituto Rio Como Vamos mostra que só no ano passado houve mais de três mil reclamações de calçadas esburacadas. Os transportes públicos também deixam a desejar, prejudicando a mobilidade de atletas e deficientes que queiram assistir as provas. A Prefeitura do Rio admite que a cidade-sede não estará totalmente preparada para o evento neste quesito.
Uma simples ida à esquina de casa para Heitor Luiz Menezes tem um grande dificultador: há 13 anos, ele foi vítima de um acidente de trânsito que o colocou de repente em uma cadeira de rodas. Heitor mora na Tijuca, Zona Norte da cidade que em menos de 500 dias receberá os Jogos Paralímpicos 2016. Um levantamento feito pelo instituto Rio Como Vamos, com base nos dados da ouvidoria da Prefeitura, mostra que ao longo do ano passado houve 3.905 mil chamados para reparos de buracos em calçadas e vias do Rio de Janeiro. E mais: 5.312 mil notificações de calçadas ou vias públicas obstruídas. Fora as construções não adaptadas, como lembra Heitor.
‘Se eu tivesse uma cidade realmente adaptada, eu não me sentiria tão incomodado com a cadeira de rodas. A gente vai a uma farmácia, tem degrau. A gente vai em supermercado, é difícil…’, afirma.
A cidade-sede das Olimpíadas e Paralimpíadas tem quase 400 mil deficientes, cerca de 6% de sua população, e inúmeros problemas também para assegurar o direito à mobilidade a essas pessoas. A reportagem da CBN acompanhou o cadeirante Heitor Luiz num trajeto de ida e volta para casa no transporte público. Depois de passar por calçadas esburacadas, chegamos à estação de metrô Uruguai, a mais nova da cidade. Elevador: ok. Ajuda dos funcionários: sem problemas. Mas na hora de entrar no trem…
‘Entrei no trem com dificuldade, porque esse novo tem uma altura diferente do trem antigo e, portanto, da plataforma. Aí não tem espaço para a cadeira de rodas. Ela está 15 centímetros dentro do trem e quase 50, 60 centímetros para o lado da porta’.
Na volta, resolvemos testar os ônibus. Foram mais de dez tentativas. Segundo o sindicado das empresas de ônibus do Rio, 80% da frota estão equipados com elevadores hidráulicos, que facilitam a acessibilidade no embarque e desembarque. O equipamento do único coletivo que parou para Heitor, no entanto, não abria sozinho. O motorista precisou descer do veículo para, literalmente, dar uma mãozinha. A coordenadora executiva do Rio Como Vamos, Thereza Lobo, afirma que o Rio nunca foi uma cidade amigável para os deficientes, mas tem nas mãos uma boa oportunidade de avançar.
‘A cidade nunca foi acolhedora para aqueles que têm problemas de deficiência e continua não sendo. Isso não quer dizer que não tenha melhorado. A situação melhorou e a oportunidade dos grandes eventos fez com que houvesse uma preocupação mais nítida com essa questão’, diz Thereza.
Mesmo assim, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, admite que o município não estará pronto para os eventos no quesito acessibilidade.
‘Essa ainda é uma cidade que não tem todas as condições de acessibilidade que gostaríamos. O que eu posso afirmar é que a cidade é hoje muito melhor do que era e estará ainda melhor em 2016’, disse o prefeito.
A superintendente do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Teresa Amaral, não é tão otimista com o cenário que os atletas paralímpicos vão encontrar na cidade: ‘Eles vão encontrar um entorno do estádio certamente acessível, mas só se eles caírem de paraquedas no local da disputa, né? Porque para chegar até lá, e se eles forem passear pela cidade, vai ser sempre muito difícil’.
Bruno Landgraf é velejador paralímpico e se mudou para o Rio só para treinar. Ele ressalta que as adaptações precisam ser feitas antes, já para os Jogos Olímpicos, que atraem muitos espectadores deficientes: ‘Não adianta você fazer os Jogos só para pessoa normal, que não tenha deficiência nenhuma, sendo que vem bastante gente assistir que tem alguma deficiência’.
Em setembro de 2016, a capital fluminense vai receber 4,3 mil atletas paralímpicos. Serão doze dias com os holofotes internacionais voltados para a acessibilidade carioca, ou para a falta dela.
Fonte: CBN