A arte de observar pássaros pode ser uma atividade inclusiva
Em uma lista de discussão de profissionais que trabalham com observação de pássaros, mais conhecida internacionalmente como Birdwatching, enquanto eram discutidos conceitos sobre a atividade, onde a regra diz que só as aves efetivamente vistas podem ser registradas, um dos participantes perguntou: “considerando essa regra tradicional das listas (tem que ver o passarinho), quer dizer que, sendo eu um deficiente visual, porém um reconhecedor exímio dos cantos de aves, não posso ser considerado um “observador de aves”?
Podem imaginar como essa questão foi interessante, especialmente por inserir todo mundo numa nova discussão: acessibilidade e inclusão social na observação de aves. Confesso que, embora totalmente favorável à questão, nunca parei para pensar nas dificuldades que um deficiente visual ou qualquer outra pessoa com necessidades especiais pode enfrentar para praticar “observação de aves”.
Nos últimos anos esse assunto tem se tornado mais frequente. Cada vez mais as cidades estão se adaptando para que estes cidadãos tenham os mesmos direitos dos demais, seja na educação, cultura, transporte, locomoção com sinalização de ruas e prédios públicos, faixas especiais de segurança, avisos sonoros, etc. Infelizmente o número de cidades adaptadas ainda é ridículo e o preconceito grande, mas aos poucos esse cenário está mudando.
Com relação ao turismo, muitas cidades turísticas já possuem estruturas para visitação, como Rio de Janeiro e Gramado. Porém quando falamos em ecoturismo, turismo de natureza e aventura, temos muitas limitações. Poucos locais possuem estrutura adequada e segura que permita acesso aos visitantes especiais, mas já existem propostas bem bacanas como passarelas para cadeirantes em Foz do Iguaçu e Jardins Sensoriais no Rio de Janeiro e Curitiba.
Mas voltando aos passarinhos: acredito que um dos grandes fatores inclusivos tenha sido o avanço da tecnologia. Hoje é possível para quase todo mundo ter acesso a um computador e à Internet para buscar qualquer assunto, entre eles a observação de aves. Porém precisamos que nossos sites estejam acessíveis.
Já pousadas ou sítios turísticos que queiram receber adequadamente este público precisarão fazer algumas adaptações, como trilhas que permitam acesso fácil e seguro para cadeirantes, muletas, andadores, com opção de percursos curtos. Placas escritas em braile, dispostas em altura compatível com um cadeirante e o acompanhamento de guias e monitores treinados já vão ajudar muito todo mundo. Programas especiais também podem ser criados, vejam o site do Disabled Birders Association (DBA, criado pelo Bo Beolens do Fat Birder) na Inglaterra, o artigo sobre Blind Birding do site South Birder ou o Projeto Escutadores de Aves do Centro de Estudos Ornitológicos de São Paulo.
E finalmente me dei conta, através de nosso colega deficiente visual, que “observar aves” é uma expressão muito limitada e nada inclusiva. Se quisermos inclusão social, nada melhor do que tornar a palavra “passarinhar” mais conhecida, pois aqui podem se inserir escutadores, observadores e todos os outros admiradores de nossas aves.
Da mesma forma que este assunto chamou minha atenção, espero que essas informações possam fazer todos pensarem sobre o assunto, permitindo a muito mais pessoas o prazer de apreciar aves, cada um de seu jeito. Espero que mais oportunidades surjam para que todos tenham o direito de apreciar as belezas (vistas, ouvidas, tocadas, cheiradas, degustadas) da natureza.
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Fonte: Bonito Birdwatching
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