O Dia Nacional do Cego, celebrado em dezembro, pode ser considerado um símbolo de reconhecimento e de incentivo a conscientização para os problemas encarados pelos deficientes visuais, entretanto, o preconceito e a falta de acessibilidade ainda são problemas das rotinas diárias. No Brasil, há 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual, sendo 500 mil cegas, de acordo com o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A professora Cátia Lemos, de 37 anos, perdeu a visão quando tinha 17 anos devido a um agravamento de uma doença chamada Stargatt. Com 20 anos, tendo menos de um por cento da visão, a professora teve que se readaptar ao novo estilo de vida acrescentando a bengala e os óculos escuros no dia-a-dia. Porém, a dificuldade não a impossibilitou de ser a primeira deficiente visual do Amazonas a cursar doutorado fora do Brasil.
“Não podemos utilizar a deficiência como justificativa. A atitude que você tem relação ao mundo também reflete em como as pessoas enxergam você.”, disse.
Mesmo superando a dificuldade e conseguindo levar uma vida normal, Cátia ainda destaca o preconceito enfrentado no cotidiano de uma pessoa deficiente visual.
“As pessoas ficam com vergonha de não saber lidar, então, preferem ignorar. Outras preferem ignorar por pensar que pode ser algo contagioso. Muitos na sociedade não entendem como posso ser professora e ter uma vida natural sendo cega. Elas acreditam que o meu lugar não é no meio da sociedade”, afirmou.
Segundo Cátia, o preconceito é um reflexo histórico e cultura. “No início, as pessoas com deficiências eram mortas. Depois, os cegos eram tratados como inválidos, pois não conseguiam escrever nem ler. Após muita luta, começaram a estudar, trabalhar e a tomar um espaço na sociedade, mas ainda falta uma conscientização muito grande para que as pessoas entendam que podemos levar uma vida normal mesmo sem a visão”.
Já o coreógrafo e bailarino Weldson Rodrigues, 39, perdeu a visão em consequência de uma toxoplasmose aos 16 anos, mas encontrou na arte uma forma de superar a deficiência.
“A arte fez com que eu aceitasse a nova vida. Pela minha limitação, as pessoas acham que eu não posso trabalhar, mas a limitação está na cabeça de pessoas. Quando você trata o problema de forma natural, as pessoas também começam a achar natural”, comentou.
Com apenas 20% da visão no olho direito, o bailarino que já participou do Ballet Folclórico do Amazonas, não sente a necessidade de óculos nem de bengala para se locomover, porém, a falta de estrutura especializada na cidade dificulta sua movimentação.
“Eu consigo ser independente, andar e trabalhar sozinho. Conto muito com a solidariedade das pessoas porque não posso contar com a acessibilidade de sinalização nas ruas de Manaus. São poucos os sinais sonoros que nos auxiliam a atravessar as ruas, em muitos casos, preciso pedir ajuda de alguém ou me aventurar na sorte. Os cobradores e motoristas de ônibus não me ajudam”, comentou. “As pessoas não sabem lidar com deficiências e outras se aproveitam para fazer brincadeiras. Uma vez ao pedir pra me indicarem o meu ônibus, me colocaram de propósito em um ônibus errado”.
Ao ser questionado como solucionar o preconceito, o coreógrafo é enfático e diz que a informação e a naturalidade sobre o assunto pode ser uma boa resposta.
“O que é preciso é que a massa se informe sobre as dificuldades e características dos portadores de deficiências. Nós somos pessoas normais que podemos ter vidas normais desde que tenhamos oportunidade. A pessoa com deficiência já sabe da sua situação, então ao querer ajudar alguém, não aja com pena, aja com naturalidade”, concluiu.
Fonte: D24am