Um dos pontos mais críticos ao retratar pessoas com deficiência no cinema são os excessos que podem ser cometidos. Da interpretação do elenco às nuances no roteiro, o equilíbrio está em evitar piedade e exageros, e levar em conta a isonomia no tratamento de todos os personagens.
O diretor francês Eric Lartigau (de “Os infiéis”) testa esses limites em seu novo “A família Bélier”, que conta a história de pais deficientes auditivos às voltas com o sonho da filha em ser cantora.
Usa perigosos estereótipos para criar humor (e ainda escala atores sem deficiência para interpretar seus protagonistas), mas, mesmo assim, constrói personagens fortes, que sensibilizam não por suas dificuldades, mas por suas forças e qualidades.
Nesta família, apenas a filha adolescente Paula (Louane Emera, finalista do programa The Voice francês de 2012) escuta com perfeição. Seus pais, GiGi (Karin Viard, de “O verão do Skylab”) e Rodolphe (François Damiens, de “Tango livre”), tal como o irmão Quentin (Luca Gelberg), tornaram-se, assim, dependentes dela.
Das conversas com os vizinhos à venda do queijo que produzem na feira local, é Paula quem faz a ponte entre os Bélier e a comunidade interiorana onde moram.
Mas, como toda jovem, ela tem seus próprios anseios. Apaixonada pelo colega cantor Gabriel (Ilian Bergala), que a ignora totalmente, decide participar do coral da escola para se aproximar dele. A história muda quando o maestro (Eric Elmosnino, de “Anos incríveis”), impressionado com a voz de Paula, decide tornar-se o mentor da menina para uma carreira promissora em Paris.
A adolescente passa então pelo inevitável conflito: deixar ou não sua família. Mais do que o desespero da mãe, pesam as ambições do pai em se candidatar à prefeitura da cidade (ele, aliás, sinaliza os piores impropérios, que são filtrados pela filha). Além disso, como provar-lhes que é uma cantora extraordinária?
Eric Lartigau faz do drama uma comédia que não deixa de ser tocante ao adaptar a história ficcional escrita pela atriz e roteirista Victoria Bedos. Apoiado por um elenco afiado, a produção traz ao espectador a ideia de aceitar os sonhos de cada um.
Uma mensagem sensível para um filme sem muita inventividade, despretensioso, mas amoroso e ideal para o fim do ano.
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Fonte: G1